Media: «Se cada agente de pastoral ouvisse o Diretório muita coisa mudaria»

O padre Luís Miguel Figueiredo Rodrigues criou um audiobook com o Diretório para a Catequese. Em entrevista ao EDUCRIS o catequeta considera que as novas tecnologias são uma “oportunidade”, mas não substituem o “acompanhamento pessoal”

EDUCRIS: Como surgiu a ideia de um Audiobook do Diretório?

Padre Luís Miguel F. Rodrigues: Bem, a ideia surgiu naturalmente, como resultado de uma paixão. O Diretório de 1997 saiu quando eu estava a acabar o curso de Teologia: eu fiz toda a formação catequética com as ideias-base do Diretório de 1971, o Diretório Catequístico Geral. Quando em 2001 comecei a estudar o segundo grau de Teologia, havia lá um professor de Pedagogia que, para além de todos os instrumentos de avaliação contínua que tínhamos de produzir, pegava no nosso Diretório e abria-o, examinava-o, para ver se tinha marcas de ter sido muito usado. E insistia: é preciso, ler, ler, ler e meditar no Diretório, senão as ideias não mudam! Posteriormente, em 2013 o Papa Francisco escreve que não ignora «que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos» (Evangelii Gaudium, 25). E, de facto, hoje o exercício de leitura é muito fragmentário: leem-se pequenos textos nas redes sociais digitais, o título e o lead das notícias e, muitas vezes, pouco mais. Aliás, muitas das discussões apenas se focam no que foi noticiado e não no documento em si.

E eu tinha receio que com o Diretório para a Catequese acontecesse o mesmo.

Não queria que um conteúdo tão bom, desafiante e inspirador para a educação da fé ficasse desaproveitado só porque as pessoas não leram e, por isso não conhecem, o conteúdo

E se cada agente de pastoral, pelo menos, ouvisse o que diz o novo Diretório, muita coisa mudaria para melhor na catequese!

E foi por causa disto que nasceu esta ideia: criar um recurso que levasse o conteúdo do Diretório com mais facilidade aos agentes de pastoral, com a certeza de que quando se apercebessem do que ali está, teriam muita vontade de aprofundar e fazer caminho.

EDUCRIS:Como se constrói um Audiobook com estas características?

Padre Luís Miguel F. Rodrigues: Este foi o maior desafio. Os audiobooks nascem em estúdios, com locutores minimamente preparados, com diversos tipos de assessoria.

Este audiobook quis pôr em áudio e acessível a todos o conteúdo do novo Diretório. Divulguei esta ideia na minha página de Facebook, e, para grande admiração minha, muitas pessoas se voluntariaram para "dar voz" ao Diretório. Aí, e porque um dos voluntários foi o cónego João Aguiar Campos, pedi-lhe logo para dar voz à tradução portuguesa da apresentação que D. Rino Fisichella fez do Diretório, a 25 de junho de 2020. O objetivo era motivar, mas sobretudo mostra um "bom exemplo" de como se podia fazer, na casa de cada um de nós.

A fase final passou por alojar os sons numa plataforma própria para podcasts e disseminar pelas diversas plataformas de streaming. Mas isso foi fácil, porque escolhi uma ferramenta que faz isso por ela, e é grátis. A Fundação SNEC, que é quem edita a versão portuguesa, autorizou e ofereceu um exemplar do Diretório a cada locutor. Foi fantástico!

EDUCRIS: Tal como assistimos na sociedade civil, a Pandemia funcionou como um acelerador da transição digital da própria Igreja?

Padre Luís Miguel F. Rodrigues: A pandemia acelerou a tomada de consciência daquilo que nós não queremos: horas e horas em videoconferência, reuniões a toda a hora e sem tempo para acabar "porque estamos por casa", levar para o digital as mesmas práticas que temos presencialmente... e a tomada de consciência de que isso é horrível, que não funciona e que nos sentimos mal aí.

Se calhar, graças aos constrangimentos provocados pela Pandemia, já todos percebemos que estar "no digital" não é mimetizar o que fazemos no regime presencial, nem sequer imitar o que fazemos, ou vemos fazer, na rádio ou na televisão.

O ambiente digital tem uma lógica própria: usá-la para, também aí, estar de modo evangélico, é o desafio que me parece que estamos a começar a tomar consciência e que temos de o abraçar.

Creio que já ninguém duvida de que esta realidade veio para ficar, cabe-nos é vislumbrar o modo como a devemos estar de modo harmonioso e espiritualmente fecundo.

EDUCRIS: Até que ponto a "transmissão da fé" acontece ou não no digital? Que limites e potencialidades para esta realidade?

Padre Luís Miguel F. Rodrigues: A transmissão da fé não se faz digitalmente! Tal como nunca se fez com recurso exclusivo à televisão ou à rádio, com recurso ao material catequético que chamamos catecismos.

A transmissão da fé faz-se na interação entre o simpatizante ou catecúmeno e a experiência cristã, mediada por uma comunidade concreta.

Esta, de acordo com as suas disponibilidades e conveniências, usa os diversos recursos que tem ao seu dispor e os canais mais francos para chegar até cada pessoa. Acompanha cada candidato nas suas interrogações e anseios, partilhando a sua resposta a partir da experiência de comunhão com Cristo.

Não ignoramos que, hoje, o ambiente digital, é um espaço onde muita da nossa vida acontece, as inquietações estão presentes e o Evangelho não lhe é estranho. Por isso, é evidente, os recursos digitais precisam de ser considerados e integrados nos processos de proposta e educação da fé, mas ajustados ao seu real valor e sem a pretensão de, com eles, resolvermos outras fragilidades e lacuna.

Educris|09.04.2021

Imagem: unsplash



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