Viseu: Ser docente de EMRC é ser «ponto de escuta» para alunos e comunidade educativa

Sandra Figueiredo leciona a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC). Colocada, este ano, no Agrupamento Tomaz Ribeiro, em Tondela, partilha a sua experiência e o impacto das atividades que fazem parte de um perfil de docente que deve ser “esteio moral” e “porto de escuta”

Chegou à EMRC vinda do grupo disciplinar de francês/inglês. Sandra Figueiredo é docente da disciplina em Tondela e sustenta que é necessário “um perfil especial” para a docência da disciplina que está para lá “da simples competência técnica”.

“Vim para a disciplina por influência e rapidamente percebi que, nesta área, ao contrário de outras áreas do saber, não são apenas os conhecimentos, os conteúdos que transmitimos, mas é, sobretudo, o modo como estamos na escola, o cuidado que temos para com todos e as situações de aprendizagem diversificadas que proporcionamos aos alunos que fazem a diferença.”

Atividades: oportunidade para aprender a ser e fazer em contexto real

Quase a terminar um ano letivo que a levou de volta a Tondela, a docente, que tem turmas desde o 1.º ciclo ao ensino secundário em duas escolas que compõem o Agrupamento Tomaz Ribeiro, faz um “balanço positivo” e espera que mais alunos possam aderir à proposta da EMRC.

“Foi um ano com muitos desafios. O voltar a uma escola, o perceber o modo como se chega – ou não – a pais, alunos, colegas de profissão e funcionários, leva o seu tempo e traz o seu desgaste. Compensa sempre vermos frutos do que vamos fazendo”, desenvolve.

De entre os vários projetos desenvolvidos, a docente destaca a participação no «Valoriza-te», uma iniciativa intermunicipal que permite aos alunos do 1.º ciclo conhecerem outros municípios da região Dão Lafões, explorando a cultura, as tradições religiosas e o modo de vida local.

“Foi a primeira vez que a EMRC fez uma atividade com os mais novos. Permitiu-nos gerar verdadeira interdisciplinaridade e trazer a disciplina mais para o centro do currículo dos alunos”, afirma.

A visita levou os mais novos a conhecer locais como a Igreja da Misericórdia de Mangualde, o Patronato, o Palácio Senhorial de Anadia e a participar em workshops tradicionais, como a confeção dos pastéis de feijão.

“É fundamental que os mais novos se reconheçam no território onde nasceram. Percebendo a sua herança será mais fácil abrir horizontes de futuro”, fundamenta.

Se os desafios do 1.º ciclo têm “características muito próprias” para a lecionação de EMRC, o ensino secundário traz consigo a questão da “liberdade e da autonomia dos alunos”, ansiosos por “perceber, questionar e aprofundar” várias realidades do quotidiano.

“Este ano levei os alunos do 9.º e 10.º anos à capital de Espanha, onde puderam conhecer vários museus, como o de Guernica, o Museu do Prado, o Palácio Real ou a catedral de Almudena, numa experiência que permite avaliar, no mundo real, não apenas as aprendizagens diretas da disciplina, mas também competências fundamentais que testamos pouco em aula, como o saber ser e o saber estar”, completa.

O “segredo” da EMRC: proximidade, cuidado e capacidade de ler a realidade para lhe dar sentido

Estando, não poucas vezes, a trabalhar “praticamente sozinha na escola”, no que ao grupo de recrutamento diz respeito, um dos principais desafios dos docentes de EMRC é tornarem-se “visíveis” num meio “muito individual e disperso”.

“Acredito mesmo que um dos segredos é a proximidade. Todos os olhos estão em nós. O professor de EMRC tem de ser exemplo, um esteio moral, não apenas pelo que ensina, mas pelo que vive e partilha”, considera.

Também a relação com as famílias e os outros colegas “pode marcar a diferença” na ação do docente de EMRC.

“É importante ir cativando dentro e fora da sala de aula, promovendo a confiança, o diálogo e envolvendo as famílias para que entendam o lugar e a importância da frequência da EMRC para a formação dos seus filhos. Também hoje isso se faz com as redes sociais que permitem divulgar e acompanhar o que se vai fazendo em sala de aula”, garante.

Ao longo da entrevista, e quando lhe perguntámos se era preciso ser “‘super’” para a docência de EMRC, a professora sorri e remata:

“Para ser professor de EMRC é preciso mente aberta, um sorriso que acolhe e auxilia, estar disponível para todos, porque todos os assuntos dizem respeito à disciplina. Ser porto seguro de todos, ajudando a crescer espiritualmente e intelectualmente os alunos”, completa.

Educris|29.05.2025 



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