"A EMRC forma cidadãos conscientes e solidários", Olga Costa, professora há 37 anos
Começou por querer ensinar Física e Química, mas acabou por dedicar a vida ao ensino da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC)
Olga Costa, professora há 37 anos, partilha a sua experiência, os desafios da disciplina e a importância da formação integral dos jovens.
"Queria ser professora de Física e Química. Não entrei por três décimas e percebi que tinha de ganhar dinheiro (risos)", começa por recordar Olga Costa ao EDUCRIS.
Na altura, os pais não tinham possibilidades de sustentar dois filhos na universidade ao mesmo tempo, e foi nesse contexto que surgiu a oportunidade que viria a mudar-lhe o rumo de vida.
"Estava na Ação Rural e fui convidada para, durante esse ano, ir para Belmonte ajudar nas aulas de EMRC", recorda.
No ano seguinte, voltou a candidatar-se ao curso de Física e Química, mas algo já tinha mudado. "Não fui ver o resultado. Tinha já a certeza de que queria ser professora de EMRC e fazer Ciências Religiosas", afirma, sorridente.
As primeiras impressões sobre os conteúdos trouxeram-lhe um misto de sentimentos entre o seu próprio passado, como aluna, e a surpresa com o programa de EMRC com que se deparou. “Fiquei desiludida com o que tinha vivido e experimentado como aluna, mas, ao mesmo tempo, fiquei fascinada pelos programas. Aqui podemos ver como Deus escreve direito.”
Da Ação Católica, onde se formou, trouxe consigo a máxima "ver, julgar e agir", que, diz, “serviu para a vida, quer profissional, quer pessoal.”
Desafios, muitos: do desinteresse à multiculturalidade
Ao fim de quase quatro décadas a ensinar, Olga Costa reconhece que os desafios não desapareceram — “apenas se transformaram”.
"Um dos maiores desafios, hoje, talvez seja o desinteresse. Quer os alunos, quer as famílias, parecem não compreender plenamente o papel e a importância da disciplina. Consideram-na, por vezes, uma disciplina menor", lamenta.
Num processo de alteração social que já se manifesta nas escolas onde leciona, Olga Costa não tem dúvidas de que “a diversidade cultural e religiosa” é um desafio presente — e futuro.
“Temos um aumento de crianças que vêm de outros países, alunos que não se identificam com a fé católica. É o maior desafio que tenho — apresentar os conteúdos de forma inclusiva, respeitando as outras crenças”, afirma.
Para a docente, a diversidade não se constitui como “um obstáculo, mas como uma oportunidade para o diálogo inter-religioso, sem perder a identidade própria da disciplina”, reconhece.
Uma integração necessária
Docente no Agrupamento de Escolas da Sé, na cidade da Guarda, Olga Costa considera que é vital integrar, cada vez mais, a disciplina no “projeto educativo das escolas”, pela mais-valia com que se reveste.
“A aula de EMRC nem sempre está plenamente integrada no projeto educativo das escolas. Falta articulação, presença em projetos interdisciplinares. Por vezes, estar sozinha, como docente, limita o impacto da disciplina.”
Ainda assim, elogia o apoio recebido de vários quadrantes: “Tenho muito apoio da parte dos outros professores e quero sempre realizar atividades que promovam a verticalidade entre os meninos que vêm do 1.º ciclo para a sede do agrupamento.”
O futuro da EMRC: liberdade, identidade e relevância
Para o futuro, a docente considera que a EMRC deve manter o seu estatuto de "disciplina de oferta obrigatória e frequência facultativa", salvaguardando sempre a liberdade de escolha. “Temos de garantir sempre a liberdade de consciência e religiosa”, declara.
Olga reconhece, ainda assim, o risco de afastamento da disciplina, sobretudo em contextos urbanos, muitas vezes por “puro desconhecimento” do que se aborda em aula.
“Hoje precisamos, talvez mais do que nunca, de falar de direitos humanos, justiça social, ecologia. Da cultura de ir ao encontro do outro, da paz” — e é disto, afirma, que se faz a EMRC.
Formar para a vida
Para esta pedagoga, o futuro da disciplina passará sempre por manter “a sua identidade própria” e a ambição de “formar integralmente o ser humano”.
“Aqui promovem-se valores fundamentais como o respeito e a empatia. Isso fará adultos mais íntegros e capazes de julgar as suas próprias ações”, sublinha, reforçando: “a inteligência moral é tão importante como a cognitiva.”
Ao formar “cidadãos conscientes, solidários, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa”, a docente diz sentir-se realizada. “Este é um investimento que fazemos no futuro coletivo", conclui.