Iniciativa inédita reuniu bispos, religiosos e leigos nas Jornadas Pastorais 2025. Encontro deixa apelos a uma Igreja com maior capacidade de escuta, corresponsável e missionária, comprometida com uma verdadeira conversão
De 16 a 18 de junho de 2025, a Casa de Nossa Senhora das Dores, em Fátima, acolheu as Jornadas Pastorais do Episcopado, reunindo os bispos portugueses, representantes das equipas sinodais diocesanas, membros dos movimentos e institutos religiosos e os órgãos nacionais da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
O encontro quis ser um exercício prático de sinodalidade e discernimento, centrado no tema «O processo sinodal nas Dioceses e na Conferência Episcopal Portuguesa».
“A sinodalidade não é um instrumento de organização, mas um modo de ser Igreja”, afirmou D. Alexandre Palma na conferência de abertura. O bispo auxiliar de Lisboa apresentou seis dimensões estruturantes da espiritualidade sinodal, destacando a comunhão trinitária, a corresponsabilidade batismal e a conversão permanente. Aos participantes o ainda presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, sublinhou a ideia de que a sinodalidade deve ser entendida como “um impulso missionário, ecuménico e atento aos sinais dos tempos”.
Ao longo dos dois dias de trabalhos os participantes aprofundaram novas dimensões complementares ao caminho sinodal, como a dimensão mariana, que inspira “escuta, ternura e coragem profética”, e a presença ativa da Igreja junto dos jovens e nas novas linguagens culturais e digitais. A dimensão estética e litúrgica foi também valorizada, sendo apresentada como “via de beleza que conduz a Deus”.
No texto final, enviado hoje às redações, os participantes exprimem o compromisso de “todas as dioceses em Portugal com o processo sinodal”, embora reconheçam enfrentar desafios concretos consubstanciados em “resistências culturais, falta de tempo e de meios, dificuldades de comunicação e cansaço institucional”.
Ainda assim o documento final, sob o tema «Uma Igreja que caminha em sinodalidade – Reflexões das Jornadas Pastorais do Episcopado 2025», exprime com esperança a difusão da “conversação no Espírito” e a valorização dos conselhos pastorais como espaços reais de participação.
“É preciso formar leigos, clero e consagrados para a missão, em estilo sinodal”, defenderam vários grupos.
O documento revela ainda uma ideia transversal ao processo e que passa por considerar que a “sinodalidade só será verdadeira se passar das palavras aos gestos concretos”.
Num terceiro momento das jornadas, refletiu-se sobre a estrutura da própria Conferência Episcopal. Apontou-se a necessidade de “maior transparência, simplificação das estruturas e criação de equipas integradas”, bem como a urgência de “fomentar redes interdiocesanas e elaborar linhas programáticas comuns, a partir da escuta das dioceses”.
A comunicação, apontada como chave de mudança, deve ser clara, acessível e próxima.
“É fundamental comunicar bem, sem deixar nenhuma realidade nem pessoa para trás”, lê-se.
Sem querer ser um documento de “conclusão das jornadas”, o texto disponibilizado pelos serviços de comunicação da Conferência Episcopal Portuguesa, revela que “as jornadas não fecharam o processo, mas lançaram um horizonte de compromisso renovado”.
“A sinodalidade está viva em Portugal, em processo e em construção”.
Para os participantes o sonho é claro: uma Igreja que caminha junta, escuta com profundidade e decide com humildade.
“Talvez um dia deixemos de usar a palavra sinodalidade, porque ela já será o modo natural de sermos Igreja”, completa o documento.
A Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé marcou presença com o presidente e os respetivos vogais. Também o Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) participou nos trabalhos através do seu diretor, o professor Fernando Moita, e de António Cordeiro, coordenador do Departamento da Educação Moral e Religiosa Católica no SNEC.
Imagem: Agência Ecclesia
Educris|19.06.2025