Leão XIV exorta fiéis orientais a preservarem as suas tradições religiosas e cultura

No Jubileu das Igrejas Orientais, o Santo Padre destacou a importância da liturgia oriental e apelou à paz nas muitas regiões em conflito

No primeiro grande encontro do seu pontificado com os fiéis orientais, o Papa Leão XIV acolheu esta quarta-feira, no auditório Paulo VI, no Vaticano, os participantes do Jubileu das Igrejas Orientais. Num discurso fortemente simbólico e recheado de referências históricas, espirituais e geopolíticas, o Santo Padre apelou à “preservação das tradições das Igrejas do Oriente” e insistiu no “compromisso da Santa Sé com a promoção da paz nas regiões afetadas por conflitos”.

“O Oriente cristão tem um papel único e privilegiado, sendo a estrutura original da Igreja primitiva”, recordou o Papa, citando São João Paulo II.

Reiterando as palavras do seu antecessor Leão XIV afirmou que as Igrejas Orientais “guardam tradições espirituais e sapienciais únicas” e têm muito a ensinar à Igreja universal, em particular no que toca à “sinodalidade e à liturgia”.

Perante um auditório composto por bispos, padres, religiosos e leigos vindos de várias partes do mundo, o Pontífice saudou os presentes com a saudação pascal tradicional do Oriente: “Cristo ressuscitou. Ele ressuscitou mesmo!” — sublinhando a esperança como fundamento do Jubileu e do próprio Cristianismo e o princípio da proclamação da ressurreição como basilar no cristianismo oriental.

Preservar a identidade na diáspora

Alertando para os riscos enfrentados pelos cristãos orientais na diáspora, o Papa enfatizou que “muitos, ao chegarem ao Ocidente, correm o risco de perder não só a pátria, mas também a sua identidade religiosa”. Nesse contexto, defendeu a necessidade de apoio concreto por parte dos pastores latinos, e pediu ao Dicastério para as Igrejas Orientais a definição de “normas e orientações que salvaguardem as tradições e ritos orientais”.

Citando Leão XIII, Papa Leão XIV recordou que “a preservação dos ritos orientais é mais importante do que se crê”, insistindo que qualquer tentativa de os latinizar deve ser desencorajada.

“É necessário sensibilizar os latinos para acolher e apoiar a riqueza espiritual do Oriente cristão”, insistiu.

A riqueza espiritual do Oriente

“A Igreja precisa de vós”, afirmou o Papa defendendo que o Oriente cristão oferece “um contributo indispensável”, especialmente pelo seu “profundo sentido do mistério e da liturgia”, que envolve “corpo e alma na vivência da fé”. As espiritualidades orientais, disse, “são medicinais”, pois unem “o sentido dramático da miséria humana” à “misericórdia divina”.

Citando Santo Efrém e Santo Isaac de Nínive, o Papa exortou os fiéis a verem “a certeza da Páscoa em cada tribulação” e a nunca perderem a esperança.

Apelo à paz nos territórios em conflito

Aos cristãos provindos de territórios devastados pela guerra, o Papa dirigiu palavras de solidariedade e encorajamento.

“Quem melhor do que vós, que conheceis de perto os horrores da guerra, pode cantar palavras de esperança no abismo da violência?”, questionou, lembrando os conflitos na Terra Santa, Ucrânia, Médio Oriente, Tigré (Etiópia) e Cáucaso.

“O povo quer paz, e eu, com todo o meu coração na mão, digo aos responsáveis pelo povo: vamos encontrar-nos, vamos conversar, vamos negociar!”, apelou o Santo Padre.

Denunciando o que apelidou de “lógica maniqueísta”, que divide o mundo entre “bons e maus”, frisou que “os outros não são inimigos, mas seres humanos com quem conversar”.

Transparência e comunhão nas Igrejas

No final do discurso, o Papa dirigiu um forte apelo à comunhão e à humildade no exercício do ministério episcopal nas Igrejas Orientais.

“Mantende a transparência na gestão dos vossos bens”, pediu, alertando contra o apego ao poder e às honrarias mundanas.

“O esplendor do Oriente cristão exige, hoje mais do que nunca, a liberdade de toda a dependência mundana”, afirmou.

Leão XIV concluiu o seu discurso com um agradecimento emocionado:

“Obrigado a vós, queridos irmãos e irmãs do Oriente, de onde saiu Jesus, o Sol da Justiça, por serdes luzes do mundo.”



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades