12 anos de Francisco: «Educar é um gesto de amor, é dar vida», António Filipe Barbosa

Foram 12 anos de Pontificado que deixam marcas visíveis para a catequese da Igreja. António Filipe Barbosa, dCoordenador da Equipa de Gestão das Escolas Amor de Deus, partilha com os leitores da Educação Cristã (EDUCRIS), o legado e os desafios que Francisco deixa à educação católica em Portugal

“Educar é um gesto de amor, é dar vida”[1]

Nestes dias em que nos despedimos do Papa Francisco, olhamos com assombro para a legado que este Pontífice deixou em diversos campos da vida da Igreja e da sociedade em geral. A educação foi, sem sombra de dúvida, uma das áreas em que repousou o seu olhar e a sua atenção. Desde logo, nas Encíclicas Laudato Sì (2015) e Fratelli tutti (2020) e nas exortações apostólicos Evangelii Gaudium (2013), Amoris Laetitia (2016), Christus Vivit (2016) e Querida Amazonia (2020), são inúmeras as referências à Educação. O seu Pacto Educativo Global[2] é, provavelmente, nesta área, o seu projeto maior e mais ambicioso. No entanto, de um ponto de vista muito pessoal, aquilo que mais recordo do Papa Francisco e da sua intervenção na educação é o seu sorriso.

O seu sorriso espontâneo e aberto era muito mais do que um simples gesto de simpatia, cordialidade ou convenção social: era, isso sim, linguagem que transmite abertura, respeito, confiança e amor. Não foi por acaso que insistiu na importância da proximidade e do amor no processo educativo relevando que a comunicação não-verbal assume um papel determinante no ato educativo: "A educação é um ato de amor, é dar vida" (Francisco, 2014), e esta vida transmite-se fundamentalmente através da alegria expressa no rosto de cada educador.

O sorriso, enquanto manifestação de acolhimento, inscreve-se na pedagogia do encontro que propõe: "É necessário educar para a cultura do encontro, na qual aprendemos a encontrar o outro, a respeitar a sua diferença e a caminhar juntos" (Francisco, 2019)[3]. Neste contexto, o sorriso torna-se um primeiro passo essencial para estabelecer pontes e criar um clima de confiança e abertura que favorece o processo educativo.

O sorriso sincero do educador, de cada educador, transforma-se assim num ato pedagógico que precede e acompanha a transmissão do conhecimento independentemente do ano de escolaridade ou área de ensino. Esse sorriso gera um espaço interior de segurança e motivação nos alunos que, indubitavelmente, facilita a aprendizagem.

Trabalhando em Escolas da Congregação das Irmãs do Amor de Deus (que celebram 161 anos da sua Fundação no dia em que escrevo este texto – 27 de abril [1864 – 2025]) esta pedagogia reforça aquilo que o Padre Jerónimo Usera assumiu, aberto ao Espírito Santo, como Carisma Amor de Deus: o Amor no centro de TODO o processo educativo que começa com o sorriso com que recebemos TODOS na escola.

É verdade que olhando de forma mais alargada, o Papa Francisco propõe, para a escola em geral, mas muito particularmente para a Escola Católica, um modelo integral, baseado na cultura do encontro, na responsabilidade social e na ecologia integral. No entanto, olhando para a operacionalização desses objetivos, o sorriso, o humor e o Amor são as portas de entrada e saída de todos esses esses objetivos e processos. São as ferramentas para "formar pessoas disponíveis para se colocarem ao serviço da comunidade”[4] porque uma escola animada por esta pedagogia do Amor, da ternura e da alegria será necessariamente uma escola aberta, inclusiva, respeitadora das diferenças e promotora de uma autêntica cultura da paz.

Que recordação mais guardo do papa Francisco e da sua intervenção sobre a educação?

Inquestionavelmente, o seu sorriso!


[1] Francisco. (2014). Discurso do Papa Francisco aos participantes na plenária da Congregação para a Educação Católica. Vaticano. Aos participantes na Plenária da Congregação para a Educação Católica (dos Institutos de Estudos) (13 de fevereiro de 2014) | Francisco

[3] Francisco. (2019). Mensagem para o lançamento do Pacto Educativo Global. Vaticano. vademecum-portuges.pdf

[4] ibidem

Imagem: Papa no encontro com as Escolas Católicas de Itália|Arquivo

Educris|29.04.2025



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