Brasil: «As escolas são a trincheira avançada da complexidade atual», D. Tolentino Mendonça

Perfeito do Dicastério do Dicastério para a Cultura e a Educação, da Santa Sé, marcou presença num encontro promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC)

O Cardeal português José Tolentino Mendonça, visitou esta segunda-feira as Escolas Católicas do Brasil, em São Paulo.

Num encontro que reuniu presidentes, diretores, gestores, educadores e representantes da Igreja, o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), agradeceu o trabalho realizado pelas escolas católicas e considerou que “a diversidade representa verdadeiramente o espírito da educação católica”.

“Esta diversidade enriquecida com o vosso sonho e doação, mas também a vossa capacidade de inovar, de criar, de acompanhar os tempos. De pensar os problemas pedagógicos e de encontrar novas soluções”, afirmou.

Perante algumas centenas de responsáveis, e muitos outros que acompanharam a sessão online, o responsável da Santa Sé pela Educação apontou a escola como “a trincheira avançada da complexidade”.

“A escola não é bolha ou torre de cristal. Na escola nós experimentamos antes de todos, a convulsão, os problemas, e vemos isso seja nos jovens, nas crianças e adolescentes que servimos, seja no diálogo direto com as famílias. Uma escola é um grande centro de escuta da realidade. É importante que tenhamos o sentido profundo de acolhimento que a escola é capaz de fazer”, desenvolveu.

Na intervenção em que refletiu sobre “três horizontes”, o responsável da Santa Sé propões “uma pedagogia em diálogo”, capaz de “cruzar o pensamento com o tempo de hoje da história da humanidade, caracterizado por mudanças”.

“Como diz o Papa não estamos perante algumas mudanças, mas perante uma mudança da história. Hoje a sociedade é marcada por tantos desafios que olhamos de uma forma responsável”.

Num mundo “marcado por fraturas, disrupções, problematizações, e onde o quadro de valores comuns, num quadro de humanismo cristão, onde o primado da pessoa humana, o valor da comunidade a procura do bem comum, a solidariedade e cooperação, o cuidado dos mais frágeis, a atenção aos excluídos ou às pessoas portadoras de deficiência”, parece em risco, o prelado desafiou as escolas católicas a “arregaçar as mangas”.

“Este não é tempo para ficar na bancada, mas é tempo de compromisso”, apelou.

Pensando nos “métodos e investigação, no como fazer” hoje a educação católica D. Tolentino voltou a reforçar a ideia de que é necessário “um trabalho em rede” que permita uma reflexão alargada e comum.

“As escolas entre si, as escolas católicas têm de se apoiar. Temos de aprender uns com os outros. E isso só acontece quando nós paramos para nos ouvir, para nos escutar. Quando somos hospitaleiros, quando acolhemos aquilo que o outro pode dar”, reforçou.

Considerando que as escolas católicas devem estar atentas e atuantes perante o processo de digitalização da sociedade e a chegada de novas tecnologias, como a inteligência artificial, D. José Tolentino desafiou a que todas as novidades e mecanismos sejam colocados “ao serviço da vida”, e aqui lembrou a importância de “não abdicarmos de um projeto que tem no centro a pessoa humana, com uma visão integral da própria pessoa”.

Fazendo uma espécie de “prós e contras” do novo mundo trazido pela Inteligência Artificial, o prelado português sustentou que o impacto da tecnologia na humanidade pode ser, em muitos aspetos, enriquecedor, mas em outros, empobrecedor.

“Nas relações, na maturação da inteligência dos jovens e nos conteúdos, que muitas vezes retiram a curiosidade, o grande motor da inteligência humana. Precisamos de uma reflexão aberta e sem preconceitos sobre estas questões”, apelou.

O Cardeal pediu aos educadores “ousadia e criatividade” e desafiou a não ter “medo do futuro”.

“Este é um tempo de abalo, de transformação, também de crise, mas é, sobretudo, um tempo de imaginação, de criar novos cenários e paradigmas, contribuindo, como diz o Papa Francisco, para encontrar novas racionalidades, também no campo educativo”.

Na parte final da sua intervenção, e lembrando a Educação Católica como “expressão da própria Igreja”, e por isso, “uma ação pastoral”, D. José Tolentino sustentou que cada escola não “é apenas o nosso microprojeto”.

“Procurem concretizar, dar verdade a esta ideia. No final de um dia árduo de trabalho ou num momento em que apetece ‘atirar a toalha ao chão’, lembrem-se de que o diretor da escola, o professor, o mestre da escola, o telefonista da escola, aquele que é o ser da escola, não somos nós. A escola não depende de nós. Tenham a capacidade de entregar na oração o projeto católico escolar ao dono desse projeto, que é o Senhor”, completou.

Ao finalizar “os três horizontes” a que se propôs no início da sua intervenção, D. José Tolentino Mendonça deixou o apelo a que as escolas católicas sejam hoje “espaços de esperança e confiança”.

“Têm de ser feitas de mulheres e homens que correm o risco da confiança. Porque a esperança quer dizer abraçar o risco de confiar. Na entrada de cada escola deveria ser escrito ‘Sala de Parto’, porque é um lugar para promover o nascimento de pessoas. Mas também se poderia escrever ‘Sala de Voo’, porque é um lugar para aprender a voar, e ainda ‘Casa da Fraternidade’, porque é o lugar onde experimentamos a beleza inapagável de ter irmãos, de ser irmão”, concretizou.

Imagem: ANEC

Educris|20.08.2024



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