Opinião: «Educar em rede», por Leonor Caracóis

Há poucos dias atrás a mãe de uma adolescente que com regularidade partilha comigo a desafiante tarefa de educar as filhas, contava-me um episódio com alguma alegria: a filha Marta de 12 anos, demonstrava a sua estranheza pelo facto de um colega de turma ser excelente aluno a Matemática, brilhante em Ciências e Físico- Química, mas não conseguir perceber porque é que é mau ser racista…  Em tom de esperançoso desabafo a mãe concluía: “pode ser que alguma coisa esta miúda tenha dentro e que não sejam em vão tantos esforços… Assim haja professores, catequistas e familiares, que nos ajudem a ensiná-los a pensar e a ter sentido crítico… Caso contrário vão por arrastamento atrás de outros”.

A Nota Pastoral da Conferência Episcopal para a Semana da Educação Cristã deste ano sublinha o facto de “estarmos a viver uma mudança de época e, portanto, precisarmos de descobrir em conjunto caminhos novos para preparar o futuro” … Assim é…. Teremos que trilhar novos caminhos e hoje, talvez mais do que nunca, da educação das nossas crianças e jovens não podem demitir-se as famílias, mas tampouco podem demitir-se as escolas, argumentando que a sua competência se limita à transmissão de conhecimentos, nem a Igreja… Precisamos uns dos outros e todos somos convocados para a bonita e desafiante tarefa de transmitir aos mais novos o que de melhor temos e somos como humanidade.

Esta mudança de época  viu-se acelerada pela atual pandemia, mas o certo é que ela já estava a acontecer, vivendo nós no seio de uma sociedade “hiper- conectada”, com acesso a uma quantidade ilimitada de informação, mas simultaneamente com pouca capacidade de comunicação e compromisso com os outros, correndo nós o risco de estarmos cada vez “mais próximos dos desconhecidos e mais desconhecidos dos que nos são próximos[1].

Percebemos que o contexto é de uma enorme complexidade e instabilidade, mas simultaneamente propício a que apostemos cada vez mais numa educação integral que forme para a liberdade, para a capacidade de pensar e analisar criticamente os acontecimentos. Tempos propícios também para fomentar o hábito de “olhar para o lado”, reparar nos outros, naqueles que com mais dificuldade atravessam estes tempos estranhos e comprometermo-nos a fazer algo por eles, pelo bem comum… E quem sabe se, depois de tempos de abundância e consumismo exagerado, somos capazes de estrear modos de vida mais simples e respeitadores da Casa Comum, descobrindo, como diz o Papa Francisco, que “a sobriedade vivida livre e conscientemente é libertadora. Não se trata de menos vida, nem vida de baixa intensidade; é precisamente o contrário”[2].

A tarefa diária, com as suas luzes e sombras, mas com um compromisso claro e concreto de tantas famílias, de tantos professores e educadores na fé, é sinal de que é possível enfrentar com esperança o enorme desafio de educar, sem resignar-nos a horizontes demasiado rasteiros e atrevendo-nos a apontar um horizonte de sentido amplo que pode dar consistência à vida dos mais e dos menos jovens, tornando-nos todos mais humanos.

 

                                                                       Leonor Caracóis
                                                                       Professora de EMRC

 


[1] J. T. MENDONÇA, O pequeno caminho das grandes perguntas, 73.
[2]Carta Encíclica Laudato Si`, 223



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