João Cerqueira, de 24 anos, está no segundo ano como professor de Educação Moral e Religiosa Católica. Com mais de 500 alunos no seu primeiro ano letivo, fala da “disciplina como vocação, desafio e espaço de diálogo num mundo plural”, e garante que a proposta passa por “educar com sentido”
A escolha de João Cerqueira pela Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) não foi apenas uma opção profissional, mas uma decisão profundamente vocacional. Para ele, ensinar esta disciplina é “caminhar com os alunos” e ajudá-los a “encontrar sentido na vida”.
“A vocação constrói-se no diálogo com o mundo. Eu encontrei na disciplina de Educação Moral uma realização pessoal de estar e de ser com os jovens, no caso, com os miúdos, de crescer e de os ajudar a crescer para um futuro melhor e mais promissor”, explica.
Com um entusiasmo visível, João descreve a disciplina como “uma missão rica e vasta”, destacando a sua natureza “transversal e humana”, que vai além dos conteúdos escolares.
“Temos um contacto mais familiar com os alunos. A disciplina enriquece-nos como pessoas, porque lidamos com alegrias, tristezas, e isso transforma-nos”, garante.
Um começo exigente: três escolas e mais de 500 alunos
No seu primeiro ano, João deparou-se com o desafio de lecionar em três escolas do Alto Minho, com todos os níveis de ensino, incluindo o profissional.
“Foi um ano rico em experiências e aprendizagem. Permitiu-me aprender muito, procurar soluções novas todos os dias, e ir reconfirmando a minha própria vocação – sobretudo nos momentos mais difíceis. Ganhei a consciência de que estamos a entregar-nos a uma realidade que não é só nossa, que é uma resposta altruísta, que é para os outros, enquanto encontramos uma realização pessoal muito profunda e muito verdadeira. Senti que estava no lugar certo”, desenvolve.
Entre a crise e o compromisso: ensinar EMRC hoje
Num contexto eclesial desafiante, marcado por polémicas como os abusos no seio da Igreja Católicas, João reconhece as dificuldades, mas vê também uma oportunidade de marcar a diferença com verdade e humanidade.
“Somos frágeis, como qualquer outra instituição. Mas quando explicamos isso com honestidade, os alunos percebem. Procuram alguém que os compreenda e os ajude a pensar a realidade.”
Para o docente a EMRC continua a ser um espaço privilegiado onde os alunos podem refletir, descobrir-se e dialogar livremente.
“Não se trata de converter. Alunos de outras confissões disseram-me: ‘Professor, aqui encontramos um espaço de diálogo’. E isso diz tudo”, garante.
Ainda no início da sua carreira docente o professor vê a EMRC como “um espaço de diálogo, um espaço de encontro, onde realmente cada aluno, e também cada professor, consiga dialogar com aquilo que são as verdades da sua fé”.
“A disciplina tem de colocar em diálogo visões distintas da vida humana e da experiência social. Acolher aquilo que são as verdades morais de cada um, aquilo que são as suas crenças, com a realidade concreta e com o espaço concreto onde se insere”, completa.
Educar com valores num mundo em mudança
Numa sociedade tecnologizada e acelerada, João acredita que a EMRC é mais necessária do que nunca.
“Serve para cultivar valores, para dialogar com a realidade. Dá mecanismos e orientações, depois cada um faz o seu caminho.”
A disciplina, diz, não é uma “resposta definitiva”, mas uma presença constante: “uma centelha que não é fogo abrasador, mas que vai iluminando o caminho”.
Um espaço onde todos cabem
Mais do que uma aula, João vê a EMRC como um espaço de escuta, de sentido e de pertença — algo raro num sistema escolar muitas vezes centrado apenas no desempenho.
“Uma aluna disse-me no fim do ano: ‘Finalmente encontrei alguém que me percebe’. Às vezes basta escutar. A disciplina ajuda-nos a olhar, a compreender e a acompanhar”, completa.
Educris|24.06.2025