«Com a EMRC somos desafiados a ensinar a esperança num tempo incerto», Luís Silva

Na Jornada Nacional de EMRC, o professor Luís Silva traçou um olhar profundo sobre o papel da disciplina como proposta de sentido e esperança para os jovens numa sociedade onde muitos vivem na desesperança

A disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) não é apenas um espaço de reflexão ética e religiosa, mas “uma verdadeira proposta de esperança ancorada na fé cristã,” defendeu o professor Luís Silva, docente no Agrupamento de Escolas de Albergaria-a-Velha, durante a Jornada Nacional de Professores de EMRC, que decorreu em Fátima.

Destacando a singularidade da disciplina no panorama educativo, sobretudo num mundo onde “o futuro é visto com medo e incerteza”, o docente traçou o paralelismo entre “a herança recebida da tradição grega e da tradição judeo-cristã” a partir do mito de Pandora.

“A esperança grega era ambígua. Estava no fundo do vaso de Pandora, entre os males. Para os gregos, o futuro era uma ameaça”, lembrou.

Em contraste, a esperança cristã “não parte do desejo incerto, mas sim da antecipação de um sentido definitivo” revelado na história.

“No cristianismo, o futuro antecipou-se no acontecimento crístico, na morte e ressurreição de Jesus. É isso que nos dá uma esperança firme”, advogou.

Para o docente, a EMRC tem a missão de levar essa visão aos alunos, “não apenas para debater temas éticos e religiosos, mas para formular uma proposta concreta de vida e sentido”.

“A nossa disciplina não é só para interrogar. É para propor. E propor um modo de viver, uma leitura da realidade habitada pela graça e pela confiança”, desenvolveu.

O docente, especialista em bioética, desafiou os professores de EMRC a serem “embaixadores de esperança” a parir do pensamento do dominicano  Timothy Radcliffe.

“Ser embaixador da esperança é representar algo que ainda não está plenamente presente, mas que já ilumina o mundo. E que diferença faz isso na vida dos nossos alunos!”, garantiu.

Num discurso que juntou a filosofia, a teologia e a pedagogia, o docente de Aveiro recorreu a duas imagens simbólicas da arte românica para ilustrar o olhar cristão sobre a realidade a partir da perspetiva cristã: uma escultura de Jesus a carregar Judas aos ombros e outra onde o Arcanjo Miguel falsifica a balança do juízo final a favor dos penitentes.

“O espírito grego não admitiria isto. Mas o cristianismo é a religião da misericórdia e da surpresa. Deus tem graça — e tem também piada. Essa é a radicalidade do olhar cristão sobre o mundo”, gracejou.

No plano institucional e jurídico, lançou também algumas questões sobre o lugar da disciplina de EMRC no sistema educativo.

“Será possível a uma disciplina com identidade confessional afirmar-se num Estado laico, mas aberto à pluralidade? Podemos ser católicos — isto é, universais — e, ao mesmo tempo, fiéis à nossa identidade?”

A fechar, o professor apelou à valorização da disciplina de EMRC como um “lugar pedagógico e profético”, capaz de alimentar uma “nova geração de jovens conscientes, esperançosos e críticos”.

“A disciplina da MRC afigura-se assim, como singular, porque não apenas problematiza, interroga, o que é importante, claro, supõe-se no que estou a dizer, mas também ousa formular uma proposta”, completou.

Educris|05.06.2025



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