Angra: D. Armando Esteves Domingues apela à renovação das comunidades, e deixa desafios à catequese

Bispo de Angra pediu uma catequese mais “próxima das famílias, das comunidades e do Evangelho”, vivido no quotidiano e apelou à criatividade que supere o “cansaço pastoral”

D. Armando Esteves Domingues pediu ontem aos catequistas a capacidade de “atravessar para a outra margem”, numa alusão ao evangelho do dia e à missão do catequista em Igreja.

Quantas vezes somos convidados a ir à outra margem! A Igreja é sempre caminho, sempre passagem. É chamada a crescer na procura de novas linguagens da fé e novas experiências de evangelização”.

Perante os participantes no 62º Encontro Nacional de Catequese, que hoje termina na cidade de Angra, no arquipélago açoriano, o prelado lembrou que hoje “ninguém é obrigado a ser crente” e que só se consegue atrair outros a Cristo se houver testemunho.

“O catequista ou se torna discípulo ou não conseguirá dizer ‘eu creio’ e levar outros a dizer ‘nós queremos’”:

Para o prelado a missão do catequista, passa, necessariamente por “ser o primeiro discípulo, disponível para aprender, escutar e caminhar com os outros, mostrando com a vida os frutos da fé”.

“O catequista está sempre a fazer-se discípulo. Em cada gesto, palavra e ação. São os sinais da conversão que se tornam milagres: amar, perdoar, acolher, caminhar com os que erram”, explicou.

Catequese que forma discípulos, não apenas alunos

Na sua homilia o bispo de Angra deixou “um apelo claro à transformação da forma como a catequese é pensada e vivida nas comunidades”.

“Não podemos ser apenas professores de doutrina. Somos chamados a escutar cada criança, jovem ou adulto como alguém original, único, com algo a dar ao todo.”

Lembrando o magistério do Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, o bispo de Angra pediu uma ação pastoral ao jeito de um poliedro, onde, “cada rosto, cada realidade familiar e cada comunidade contribuem para a totalidade da fé”, e alertou para as tentações do enviado.

“Gostaríamos de ensinar o mesmo a todos e que todos compreendessem. Mas vêm de culturas e contextos diferentes. Acolher e compreender cada um é uma arte que o catequista atento tem de cultivar”, desenvolveu.

Quatro prioridades para a renovação catequética

Na parte final da sua homilia D. Armando Esteves Domingues apresentou quatro preocupações essenciais para o caminho que a catequese, e a diocese de Angra quer percorrer nos próximos anos no âmbito da iniciação cristã:

  1. Formação integral dos intervenientes, começando pelo clero – “Sem esta base, não há renovação possível.”
  2. Caminho conjunto com os pais, rejeitando críticas fáceis – “Nunca critiquemos os pais. Caminhemos com eles.”
  3. Comunidades geradoras de vida nova, não repetidoras de programas – “Há um cansaço pastoral. Precisamos de criatividade.”
  4. Superar a visão da Eucaristia como fim de percurso – “A Primeira Comunhão não pode ser um prémio isolado. Tem de acontecer no seio de uma comunidade viva.”

“Não faz sentido que se peça às crianças o que os adultos não vivem: confissões, missas, retiros… A catequese não forma cristãos se for vivida como mera obrigação escolar.”

Famílias: chamadas a educar com fé e presença

O bispo deixou também um forte apelo à reaproximação entre “família e comunidade cristã”, lembrando que muitas vezes estas vivem afastadas desde o casamento até ao batismo dos filhos, e depois entre o batismo e o início da catequese.

“A catequese é um momento de reiniciação. Não podemos desistir das famílias. Mesmo que não tenham convicções religiosas, têm uma responsabilidade ética de educar com verdade”, sublinhou.

“Olhar de mãe”: a imagem do verdadeiro catequista

No final da sua homilia, e assinalando o início do mês de maio e o Dia da Mãe, D. Armando evocou a figura de Maria como modelo para todos os catequistas.

“Se tivesse de escolher um modelo para o catequista, escolheria o modelo da mãe. Como diz Tolentino Mendonça, ‘a coisa mais parecida com os olhos de Deus são os olhos de uma mãe’.”

“A mãe é a heroína que eleva o coração do marido, dos filhos e dos netos — hoje, amanhã e sempre. Que a Mãe do Céu vos inspire nesta missão tão bela”, completou.

Cerca de 80 responsáveis de catequese participam no 62º Encontro Nacional de Catequese representando 18 dioceses de Portugal.

Educris.03.05.2025



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