Especialista em história da Igreja lembrou “importância estrutural de Niceia” para o desenvolvimento da Igreja
O cónego Adriano Borges, especialista em história da Igreja disse hoje que “há um antes e um depois de Niceia” para a realidade do cristianismo.
“Até Niceia, e em todas as grandes reuniões da igreja primitiva, o fiel da balança era a sagrada escritura. A partir deste momento passamos a ver que os vários concílios vão olhar para Niceia para decretar quem está ou não de acordo com a fé da Igreja”.
Na conferência subordinada ao tema «O Concílio de Niceia: Contexto histórico no Oriente e no Ocidente. Antecedentes e consequências», e apresentando a complexidade da vida há 1700 anos, desde a perspetiva “geográfica, política, economia, religiosa e linguística”, até ao modo como o cristianismo primitivo “ainda era insipiente e disperso pelo império”, o presbítero da Diocese de Angra, destacou Niceia como o lugar onde, pela primeira vez, “se institui uma base, um critério, uma formulação”, a que hoje “chamamos Credo”.
“Penso que os padres conciliares estariam bem longe de imaginar que as decisões deste concílio influenciariam a Igreja até aos nossos dias. Niceia marcou o início de uma igreja mais estruturada e unificada, mostrando o modo como a religião, a sociedade, e a cultura se relacionam e avançam”, desenvolveu.
Recusando uma leitura “simplista” na construção das verdades dogmáticas, o sacerdote lembrou o processo de evolução crente do Judaísmo e estabeleceu o paralelismo com o Cristianismo.
“Quando pensamos no judaísmo vemos que no início foi politeísta, sincretista, henoteísta e depois monoteísta. Também o cristianismo demorou tempo a perceber o seu monoteísmo e a entender Jesus como o seu Senhor, o seu Cristo”.
Para o especialista a ideia de “sinodalidade”, tão em voga na igreja hoje, é “património cristão” e deve ser trazido à atualidade de modo que “possamos fazer caminho juntos”.
“Sabemos que as nossas formulações estarão sempre aquém do que é Deus mas, em conjunto, na diversidade das opiniões e das formulações, na consciência de uma irmandade que a todos une poderemos percorrer um caminho que transforma o curso da história”.
No final da sua reflexão o cónego Adriano Borges lembrou que a formulação filosófica do Credo é hoje “difícil, quase incompreensível, para a maioria dos cristãos”, e propôs uma formulação que, no “respeito pela fé comum”, seja “pessoal e narre o bem que Deus fez na vida de cada um”.
“Gostaria muito que a nossa igreja, e a catequese do futuro, apresentassem um credo como o credo judaico. Um credo narrativo, que descreve as graças que Deus concedeu ao povo. Um Credo que narre a história de Deus em cada um”, desafiou.
Educris|02.05.2025