Braga: Arquidiocese renova equipa de Catequese e aposta no «acompanhamento próximo»

D. José Cordeiro nomeou Fátima Castro como coordenadora da Catequese na Arquidiocese de Braga. Nova responsável quer conhecer a realidade e apostar no acompanhamento próximo das comunidades “ajudando a fazer caminho em conjunto”. Na primeira grande entrevista a nova responsável diz que acolheu a proposta com "perplexidade e entusiasmo" e quer trazer consigo as aprendizagens "de uma Igreja verdadeiramente ministerial"

EDUCRIS: Como recebeste esta nomeação do Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro?

Fátima Castro: Confesso que, numa primeira fase, senti alguma perplexidade uma vez que o primeiro contacto aconteceu quando ainda em encontrava em missão. Entendi a proposta que me fizeram como um desafio e entusiasmo pela catequese que, na verdade, sempre me apaixonou. Nos meses seguintes fui amadurecendo a ideia de que podia continuar a ser missionária, mas desta vez ao serviço da/na minha Arquidiocese, e entusiasmou-me a proposta de poder trilhar um caminho novo e em coordenação com toda a pastoral diocesana; numa pastoral de conjunto e de transformação missionária da Igreja.

EDUCRIS: Estivestes, nos últimos anos, em terras de missão, numa diocese jovem e aí também assumiste a responsabilidade da catequese nas comunidades. O que fica desta experiência e como é que ela te pode ajudar na missão que agora recebes?

Fátima Castro: Vivi, em Moçambique, a experiência de uma verdadeira Igreja ministerial. Lá, a falta de sacerdotes faz com que a Igreja dependa muito do trabalho dos leigos onde os vários ministérios e serviços colocam toda a Igreja em movimento. O ministério do catequista é, por inerência, a base da vida das comunidades, pois eles são os animadores da Palavra e da oração dominical; são eles que preparam e celebram todos os tempos litúrgicos. Nestes três anos, apostamos na formação dos catequistas que iniciavam a sua missão; formamos outros com o intuito de os ajudar na preparação dos catecúmenos para o Batismo, a Eucaristia e Confirmação. Trouxe, na bagagem, essa experiência que também já levava de cá: a formação do catequista. Em cada encontro experienciamos a trilogia do dar-receber-retribuir porque a missão eclesial do catequista é também estar ao serviço. Uma das tarefas da catequese passa por iniciar ao conhecimento da fé, à celebração, à vida cristã e à oração. Tudo isto se realiza através da inserção numa comunidade e com sentido missionário. Nesta dimensão, a missão de ser catequista lá não difere muito da responsabilidade que me é pedida cá, que passa também pelo acompanhamento, pela presença, e por um caminhar lado a lado e todos juntos!

EDUCRIS: Que semelhanças e diferenças para uma Arquidiocese com mais de 1000 anos?

Fátima Castro: Vários séculos separam a génese destas duas Igrejas por isso as diferenças são notórias! A falta de sacerdotes em Moçambique (neste momento são 17 os padres diocesanos na Diocese de Pemba, para uma área geográfica que corresponde, mais ou menos, a Portugal) faz com que a Igreja dependa muito do trabalho dos leigos. Ministerial, mas ainda pouco sinodal! Por sua vez, a Arquidiocese de Braga tem, neste momento, mais de 300 sacerdotes no ativo. Mesmo assim, continuamos a dizer (e a sentir) que a messe é grande e os operários são poucos”.

A Diocese de Pemba, que celebrou no ano passado 100 anos de evangelização, assenta neste modelo da Igreja Ministerial, onde cada membro assume a própria responsabilidade. A ausência de padres não esmorece a fé daquele povo. Todas as comunidades são animadas por inúmeros ministérios que a partir dos leigos - animadores da palavra, ministros extraordinários da sagrada comunhão, catequistas, animador dos Jovens ou infância missionária, Cáritas, Justiça e paz - colocam toda a Igreja em movimento! Todavia, a formação destes leigos ainda é muito insuficiente, seja ela humana, teológica ou bíblica. O relatório do sínodo demonstrou que esta também é uma realidade em Portugal: a necessidade de uma formação “contínua de leitores, cantores e acólitos” e catequistas. Lá, como cá, a Igreja conta com todos, precisa de todos, é feita com todos e haverá sempre lugar a todos.

EDUCRIS: Saíste de Portugal e a catequese nacional trilhou este caminho de mistagogia impulsionada pelo Diretório para a Catequese e pelo Itinerário para o setor. Que desafios se colocam ao departamento e aos catequistas e comunidades de Braga?

Fátima Castro: Quando saí de Portugal, o Itinerário estava a ser apresentado, analisado e enriquecido ainda pela primeira vez na Assembleia Plenária da CEP.  

Vou-me apercebendo que este caminho de mistagogia deve ser encarado com persistência, mas também com paciência, de forma a proporcionar uma verdadeira experiência de encontro com Jesus Cristo. Numa diocese tão heterogénea, este é o tempo de acompanhar os catequistas (escutando as suas preocupações e dificuldades) e perceber os ritmos de cada comunidade pois temos consciência que as mudanças não se fazem de um dia para o outro. Urge parar, olhar para cada paróquia na sua dimensão eclesial e pastoral, e ajudar a fazer caminho ao encontro desta Igreja do futuro, que aposta na iniciação da fé e na evangelização das novas gerações.

EDUCRIS: Regressas a Portugal numa altura em que o Papa Francisco já publicou o «Antiquum Ministerium» há já três anos e não existem, por ora, catequistas instituídos em Portugal. A tua experiência missionária pode ajudar a iluminar o que é este ministério instituído?

Fátima Castro: O documento do Secretariado Nacional de Liturgia «Instituição de Catequistas – formato para uso de fiéis» dá todas as coordenadoras para a sua instituição no Ministério de Catequista. Importa talvez, desmistificar este ministério, como algo apenas alcançável para aqueles que tiram “doutoramentos” em catequese. Pelo contrário. É proposto para homens e mulheres que, animados pela fé e com uma dedicação constante e frutuosa, consagram a sua vida à edificação da Igreja. Na minha experiência missionária, e estando a paróquia de Ocua situada numa zona de guerras e conflitos, vi comunidades que nasceram, cresceram (vivem e sobrevivem a todas as ameaças), graças aos catequistas que defendem, até com a vida, a Igreja os valores do Evangelho. Este novo (que já não é novo) ministério reforça a responsabilidade daqueles (as) cuja missão é testemunhar e comunicar as verdades da fé cristã em nome da Igreja.

EDUCRIS: Estima-se que Braga tenha o maior número de catequistas. Uma primeira palavra para eles?

Fátima Castro: Gostava de os relembrar das palavras de Jesus: "Não tenhais medo". Às vezes, os desafios podem parecer esmagadores e as responsabilidades, imensas. Mas queria que soubessem que não estão sozinhos nesta jornada. Deus ama-nos! A missão de cada catequista é um ato de fé e amor: tão essenciais nas nossas comunidades. Não tenham medo de continuar, de inovar, de enfrentar desafios e de serem luz para os outros.

EDUCRIS: A nomeação de D. José Cordeiro, Arcebispo de Braga, traz consigo uma equipa alargada para a Catequese? Porque sentiste esta necessidade e quem te acompanha neste serviço à Igreja?

Fátima Castro: Tendo a alegria de ter participado e experimentado, na sua plenitude, esta Igreja Ministerial, faz-me todo o sentido que esta missão seja de cooperação e de co-responsabilidades partilhadas. A equipa, neste momento, é constituída 6 elementos (1 sacerdote, 1 jovem consagrado, 1 seminarista e 3 catequistas) com experiências e caminhos muitos diversificados, mas que se harmonizam. São eles o Marcelo Souza; a Augusta Moreira, eu mesma [risos]; a Olga Rebelo; o Rubén Pinheiral e o padre Jorge Agostinho Esteves, que é o nosso assistente.

Fátima Castro em respostas rápidas

Nascimento – 1985

Experiência profissional – Licenciada em Ciências da Educação

Família – A mais nova de três irmãos. Uma verdadeira “família vocacional”: um irmão que abraçou a vocação sacerdotal,

uma irmã que abraçou a vocação matrimonial e eu, vocação laical/missionária.

Hobbies  - Ler, viajar…

Desporto Favorito – Caminhadas na natureza.

Música  - We Are The World  - USA For Africa

Filmes  - “O rapaz que prendeu o vento”

Comida  - Feijoada à Transmontana

Frase favorita – “Ama e faz o que quiseres” (Santo Agostinho)

Personalidade exemplar – Albert Schweitzer / Papa Francisco

EDUCRIS|19.12.2024



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