Especialista em pastoral alertou para a necessidade de se refletir e agir a partir da fraternidade e da consciência da ação do Espírito Santo em todos os batizados
O padre Tiago Freitas afirmou hoje que o “Sínodo acerca da Sinodalidade que estamos a atravessar” deve levar toda a Igreja, a uma “mudança de mentalidade na ação” pastoral e na própria ideia do ser Igreja.
“Acima de tudo é necessária uma mudança de cultura e de mentalidade. Só o ato de estarmos a pensar em alguma coisa tem a capacidade de nos transformar como cristãos para que possa nascer um novo estilo de ser cristão. Isto vai traduzir-se numa conversão e numa transformação pastoral”, apontou.
Na conferência «A Sinodalidade na ação evangelizadora da Igreja» o especialista considerou que aquilo que agora foi apresentado pelo Papa Francisco para a Igreja “é a continuação e o dar um novo rumo a alguns projetos que existiram no passado, com o papa Paulo VI, que foi um dos principais fomentadores do Concílio Vaticano II”.
“O programa do Papa Francisco para a Igreja é ambicioso e por isso mesmo existem reservas por parte de alguns. Ao invés de termos um ‘Sínodo dos Bispos’ estamos a caminhar para um sínodo da Igreja ou uma Igreja em Sínodo. Não se exclui a possibilidade de existirem ‘Sínodos dos bispos’, mas em determinados assuntos circunstanciais. Torna-se natural que comece a existir esta consulta a todo o povo de Deus sobre o rumo da Igreja”, explicitou.
Para o sacerdote da Arquidiocese de Braga a mudança de paradigma passa pela tomada de consciência da importância do significado de ‘Povo de Deus’ e sustentou que sem esta ideia se torna impossível “pensar em sinodalidade”.
“Se recuarmos ao século passado percebemos que o Papa era o único responsável pelo governo da Igreja. A primeira mudança começa com a Carta Apostólica, sob Motu próprio Apostolica solicitudo, de Paulo VI que passa a convocar o agora comumente conhecidos ‘Sínodo dos Bispos’”.
Considerando que “a sinodalidade é constitutiva da Igreja” a nova maneira de agir apresenta-se como “uma obrigação de todos os cristãos e uma responsabilidade de toda a Igreja com vista a um reforço e a um novo entendimento da vida em comunhão”.
“Até agora os leigos são ouvidos, a título consultivo, nas próprias comunidades ou dioceses. Com o recuperar da ideia de ‘Povo de Deus’ quebra-se a ideia de uma igreja piramidal e reaparece a ideia bíblica de ‘Corpo Místico’”, afirma.
Os perigos do clericalismo e da incoerência
Num movimento a que apelida de “escuta do Espírito” o conferencista apresentou dois perigos para o processo de mudança na Igreja: O “perigo do clericalismo” e da “incoerência” na Igreja.
“O clericalismo apresenta três grandes perigos. Desde logo a formulação de uma imagem errada do sacerdote sobre si mesmo. Em segundo lugar a interpretação da Lumen Gentium procurando estratificar a forma de governo da Igreja não como serviço, mas como poder. Em terceiro lugar uma certa atitude paternalista, da parte do clero, como se o mesmo ocupasse o lugar de Deus”.
Outro problema, “não menos grave”, é o problema da incoerência” que apontou como “o maior escândalo da Igreja”.
“Aquilo que dizemos ser não transparecer no que fazemos. Na conversão pessoal o determinante para a sinodalidade é o cuidado que devemos ter nas relações, o ser capaz de criar laços fraternos”.
Igreja e Sínodo são sinónimos
No final da sua intervenção, e perante cinco centenas de catequistas reunidos nas Jornadas Nacionais de Catequistas, em Fátima, o padre Tiago Freitas considerou que o Sínodo sobre a Sinodalidade “incorpora o povo de Deus como autor do discernimento” e é “um processo inclusivo com várias etapas”.
“O Sínodo, enquanto modo de ser Igreja, contempla o fazer memória do Espírito no peregrinar da Igreja. É um processo inclusivo que deve colocar dentro aqueles que andam à margem. Em terceiro lugar é importante reconhecer o carisma e experimentar formas participativas de exercer o Evangelho de modo a examinar o modo como são exercidos o poder e o serviço”.
Deste modo, e citando São João Crisóstomo que afirmava que o ‘Igreja e Sínodo são sinónimos” o especialista afirmou a “fraternidade” como “marca da sinodalidade”.
“Sois chamados a ativar tudo isto porque hoje o catequista é um ministério e isso vai ser revolucionário nos próximos tempos. Vai exigir um compromisso maior. Vai ser preciso mais formação para poderem ajudar outros a serem cristãos”, concluiu.
Educris|23.10.2021
«A sinodalidade na ação evangelizadora da Igreja» foi o tema apresentado pelo padre Tiago Freitas nas JNC21.