II Congresso: «Não se cresce sem cicatrizes. Precisamos do erro para crescer», Pilar Guembe
Especialistas de Navarra, em Espanha, deixaram alertas e desafios sobre o “lugar e o papel da família” e pediram às escolas ao acompanhamento parental
Pilar Guembe disse hoje que é fundamental “defender a família” enquanto célula estrutural das sociedades pois “se a família está sã a sociedade cresce bem”.
“A sociedade tem ‘batido’ muito na família, mas precisamos de a manter. A família é o lugar onde o individuo chega a ser alguém, chega a ser pessoa. A família é a sede da pessoa e por isso merece todos os nossos elogios e tem uma grande responsabilidade educativa”, destacou na conferência «Elogio da Família: o que não se dá não se tira», no segundo dia do Congresso Nacional da Escola Católica.
Reafirmando que “numa sociedade em transformação acelerada” é fundamental “manter a identidade”, a pedagoga, que juntamente com o seu marido Carlos Goñi é autora de vários livros sobre educação e pedagogia, reforçou a ideia de que “se a família tem uma grande responsabilidade na educação dos filhos então a escola deve ajudar a formação dos pais”.
“Os pais estão hoje desacompanhados e precisam de tutoria. Muitos andam mesmo perdidos. Se vos lembrais da grande filósofa Mafalda, do Quino [ndr: personagem de banda desenhada] ela dizia que ‘para tudo necessitamos de um curso, de uma graduação…ser pai, mãe e filho, tira-se no mesmo dia e não se tem nenhum canudo’”, gracejou.
Para os especialistas espanhóis a educação de hoje, e “mais ainda a educação católica”, deve ser capaz “de gerar espaços de acompanhamento das famílias para que estas possam desempenhar bem o seu papel de geradoras de pessoas capazes de transformar a sociedade”.
“Como escolas católicas tendes de ajudar os pais a pôr limites pois uma coisa são as necessidades e outra os desejos. Precisamos de educar para as necessidades e não para os desejos. Em segundo lugar precisamos de explicar aos pais, e acreditar nós mesmos nisto, que é preciso que os mais novos se enganem e equivoquem, pois, ninguém cresce sem cicatrizes”, apelou.
Lamentando a existência de pais ‘curling’ [ndr: desporto disputado numa pista de gelo], que aplanam “as dificuldades e traçam todo o percurso para os filhos”, impedindo que se deparem “com tropeços e pedras própria da vida”, Pilar Guembe disse que é fundamental gerar espaços que ajudem os mais novos a “a caminhar com pedras, pois mais vale que as vão tirando com os professores e pais ao seu lado”.
Num olhar sobre uma sociedade hiper estimulada e que educa assim as novas gerações a pedagoga alertou para o perigo da “não educação das emoções”.
“Hoje os ecrãs correm o risco de eliminar as emoções. Em Espanha temos muitos alunos com problemas emocionais. O tema das emoções é importante. Não podemos chegar à cabeça se não chegarmos ao coração”, apelou.
Carlo Goñi sustentou a ideia de uma educação que se deve “fazer pelo exemplo” mais do que em “grandes discursos de princípio”, pois “o modo como a família educa é semelhante ao modo como cai a ‘chuva miudinha’. Lentamente penetra na terra e alimenta a longo prazo”.
“Temos de ajudar os alunos a educar a consciência e isso faz-se com virtudes. Como se forma a consciência? Através dos valores, dos critérios, da importância da coerência e da clara distinção entre o bem e o mal”, desenvolveu.
No final da sua intervenção Pilar Guembe voltou ao conceito de educação para citar o filosofo Platão, para quem “educar é ensinar ao uso correto da liberdade”.
“A partir daqui percebemos que é fundamental criar e gerar limites, ensinar o que está bem e mal. Na vida, como no desporto, há regras”, lembrou.
No final da sua intervenção os dois pedagogos espanhóis desafiaram os educadores católicos portugueses a educar verdadeiros “sempre em pé”.
“Um ‘sempre em pé’ é alguém que permanece sempre em pé mesmo quando são golpeados por todo o lado. O grande desafio é formar bem a base para que quando os ventos que se fizeram sentir, sejam abanados, mas não tombem. Educar com critério, criatividade e cuidado”, concluíram.