II Congresso: «Se quisermos equiparar-nos à IA já perdemos», João Duque

Pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) desafiou os congressistas à redescoberta do humanismo cristão que assenta no primado da liberdade e no reconhecimento da singularidade de cada pessoa

João Duque afirmou hoje ser “um perigo” as escolas buscarem a uniformização do sujeito, e alertou que se “tentarmos concorrer diretamente com a Inteligência Artificial, então já perdemos”.

“Talvez este seja o tempo para readequarmos o lugar do desporto, da arte e do desenvolvimento ético, das novas gerações. Temos olhado para estas realidades como laterais na educação e são elas as que nos diferenciam da Inteligência Artificial (IA). Se quisermos concorrer ao mesmo nível da IA estaremos perdidos”, afirmou.

Na conferência «O humano e o pós-humano» o pensador português começou por clarificar os conceitos de “pós-humanismo critico e pós-humanismo tecnológico” e alertou para uma mudança paradigmática em evolução.

“O pós-humanismo coloca em causa o lugar do ser humano no conjunto da realidade. Critica a sua sobrevivência e o interesse da mesma, questionando mesmo a sua continuidade no planeta”, afirmou.

Para o pró-reitor da UCP a educação de hoje, e de modo ainda mais premente a educação católica, deve ajudar as novas gerações a “mergulhar nos problemas humanos” pois “para nós cristãos o outro humano é o mais próximo do divino que temos”.

“Ao colocá-los em confronto com o impacto do outro vulnerável este torna-se já transcendente para mim e daí ao Transcendente comum é um passo. Educar para uma posição que distinga bem os vários conceitos possibilita um sadio convívio com a IA e o resto da natureza”, sustentou.

Partindo da perspetiva hebraico-cristã o professor João Duque criticou algumas visões transhumanistas que advogam “a eliminação de dualismos tendo em vista o uno singular” e que advogam a necessidade de “uma espécie perfeita”.

“O uno sem as diferenças próprias da natureza e do humano, sem opções livres por vezes até mal tomadas, fazem desaparecer a singularidade de cada um. Estas tendências advogam que está na tecnologia a solução para a perfeição”, alertou.

Para o especialista ao “adotar estes ideais” abandonaremos características tipicamente humanas como “a condição livre, a vulnerabilidade e a falibilidade”.

Para João Duque trazer os mais novos para este debate, acerca do que é ser humano, "deve ser feito quer na Filosofia quer na Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC)", quer através de debates, quer da atenção à discussão pública e dos problemas éticos que se levanta”.

Sobre os projetos educativos das escolas católicas o especialista desafiou a que estes não espelhem “uma imagem do ser humano prepotente e proprietário,” mas “um humano que conviva sadiamente com as suas fragilidades e a dos outros”, que “coincide com a perspetiva hebraico-cristã de ser humano”.

“Temos de ajudar os alunos a mergulhar nos problemas humanos”, ainda para mais “alunos que vivem num mundo altamente tecnologizado e afastado do real”. É essencial para o exercício “da liberdade” e para a “educação para o Transcendente”, completou.

O II Congresso Nacional da Escola Católica realiza-se até esta sexta-feira, dia 11 de outubro, em Fátima. Participam cerca de 350 educadores católicos de todo o país.

A iniciativa realiza-se em plena Semana Nacional da Educação Cristã e celebra os 25 anos da Associação Portuguesa de Escolas Católicas, relançando o «Pacto Educativo Global», proposto pelo Papa Francisco.

Imagem: João Fernandes| Ecclesia

Educris|10.10.2024



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