II Congresso: «A proposta educativa das escolas católicas cultiva a dignidade e prepara para a cooperação», Isabel Capeloa Gil
Reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) criticou “instrumentalização” da educação e apelou ao cultivo “das humanidades” como modo de promover a democracia
Isabel Capeloa Gil disse hoje que a educação “deve abrir-se à transformação, não de forma arbitrária”, mas com “projetos educativos que a partir do conhecer a evidência e a verdade” desenvolvam “valores e virtudes”.
“Ouvimos hoje, nos múltiplos contextos, que a única certeza é a mudança. Esta ideia está a transformar-se quase numa ideologia hegemónica”, criticou.
Para a reitora da UCP “a incerteza deve ser olhada não como certeza estratégica ou como instrumento de desconstrução das instituições sociais e dos valores regem as sociedades, mas como enquadramento face ao qual as instituições se devem posicionar”.
Na conferência «O papel da Escola Católica no mundo em mudança», com que iniciou hoje o II Congresso Nacional da Escola Católica, Isabel Capeloa Gil criticou o discurso que “desconstrói famílias, pessoas, sociedades, direitos humanos, ou mesmo o estado de direito”.
“‘Viver num mundo em mudança acelerada’ deve constituir-se como um postulado estratégico para compreender e não uma cartilha para criar erosão” pois “educação é campo fértil para formar cidadão de amanhã e, por isso poroso, mas não um pântano com areias movediças. A educação não pode ser um espaço neutro nem um espaço de arbitrariedade”, desenvolveu.
Observando que se está a viver “uma profunda desilusão com as macro-narrativas da modernidade”, a pensadora considerou que “a única certeza são os nossos valores, independente das estratégias e instrumentos a utilizar”.
“As instituições que querem ter voz tem de ter a certeza dos valores que nos agregam enquanto sociedade e agir em conformidade”, apelou.
Não existe educação neutra. A educação não é exclusiva do Estado
Criticando o que apelidou de “mantra”, que sustenta uma “educação neutra” e apelida de “endoutrinação” a educação católica, a responsável pela UCP lembrou que a “educação não pertence ao estado, como fábrica de endoutrinação” e citou o Papa Francisco para defender a oposição “a uma reengenharia da educação orientada pela política”.
“As crianças são pessoas e não um tijolo na parede do estado como nos diziam os Pink Floyd na década de 80 do século passado. Temos de assumir que não existe neutralidade na proposta educativa e a nossa [ndr: escola católica] está baseada no humanismo cristão”.
Num mundo em “rápida aceleração” e com fortes “alterações de demografia”, Isabel Capeloa Gil afirmou a rede das escolas católicas como a “maior rede global de ensino do mundo” mesmo em regiões onde “o cristianismo é minoritário ou inexistente”.
“A educação cristã é uma proposta de valor poderosíssima e reconhecida em todo o mundo”.
Perante 350 educadores católicos que participam nos trabalhos até esta sexta-feira, a reitora da UCP lamentou a existência de “17% de portugueses em risco de pobreza”, algo que “nos deveria envergonhar a todos” e “nos obriga a refletir sobre o acesso – nomeadamente – à educação”.
“Defender a educação passa por reconhecer a singularidade de cada pessoa, enquanto pessoa, e que a habilita a ser cidadã ética e socialmente responsável. A proposta das escolas católicas prepara para a cooperação e não a competição, favorece o ‘como pensar’, como caminho para o ‘o que pensar’ e não o contrário”.
Como desafio de futuro Isabel Capeloa Gil pediu uma reflexão alargada sobre “o sistema educativo” que continua a obrigar “adolescentes a fazer escolhas fundamentais demasiado cedo” e a “gerar silos fechados entre as disciplinas”.
“Este modelo de ensino está anquilosado. Não serve mais as necessidades dos estudantes e apenas serve, talvez, algumas necessidades sindicais. Precisamos de ultrapassar os silos organizacionais e políticos. Se não o fizermos criaremos idiotas especializados”, lamentou.
No final da sua intervenção a reitora da UCP destacou a “importância das humanidades na formação dos jovens” pois elas “são as guardiãs da nossa humanidade”.
“Na base da Escola Católica está a defesa desta humanidade comum e da defesa da pessoa humana. As humanidades preparam-nos para agir no mundo que temos e, assim, contribuir para um mundo melhor”, completou.