12 anos de Francisco: «Um Papa à frente do seu tempo», por Abel Dias

Foram 12 anos de Pontificado que deixam marcas visíveis para a catequese da Igreja. Abel Dias, diretor do Departamento da Educação Cristã, da Diocese de Viseu, partilha com os leitores da Educação Cristã (EDUCRIS), o legado e os desafios que Francisco deixa à catequese portuguesa

O Papa Francisco este sempre um passo à frente do seu tempo e entendeu, como ninguém, para onde o Espírito Santo nos desafiava a andar. A catequese e a educação cristã foram temas centrais e marcantes no pontificado do Papa Francisco. Ele abordou-os sempre com um olhar pastoral, missionário e profundamente humano. Recordo a presença do Papa Francisco, em agosto de 2022, no terceiro Congresso Internacional de Catequistas, com o tema ‘O catequista, testemunha da vida nova em Cristo’, que se realizou em Roma e onde tive a oportunidade de participar. Em jeito de balanço do seu pontificado aponto alguns aspetos que retive desse congresso, e outros do seu magistério, que considero inspiradores e marcantes, no que diz respeito à catequese e à educação cristã.

1 - CATEQUESE COMO UM ENCONTRO PESSOAL COM CRISTO. Para Francisco a catequese não é uma mera transmissão intelectual de doutrina, mas sobretudo um caminho de encontro com Jesus Cristo. O Papa insistiu várias vezes que a fé deve ser vivida, experimentada e testemunhada e não apenas ensinada. Falou constantemente da necessidade de uma catequese “querigmática”, ou seja, centrada no primeiro anúncio do amor de Deus e na salvação em Cristo, e não apenas em regras ou conceitos. A publicação, em 2020, do novo Diretório para a Catequese incorporou plenamente a visão do Papa Francisco, sublinhando a importância do primeiro anúncio, da formação integral, da conversão missionária e do diálogo com as culturas contemporâneas.

2. UMA CATEQUESE QUE FORMA DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS. Na encíclica Evangelii Gaudium Francisco propõe que a catequese deve preparar discípulos missionários, isto é, cristãos responsáveis pela transmissão da fé às gerações vindouras. Isso implica que a catequese proporcione uma formação integral atenta às dimensões espiritual, doutrinal, comunitária e social. Criticou uma catequese que prepara apenas para a Primeira Comunhão ou para o Crisma como eventos isolados. O ideal, para ele, seria uma catequese permanente, que acompanha a vida toda.

3. UMA CATEQUESE COM UMA LINGUAGEM ACESSÍVEL E ATUAL. Francisco enfatizou que a catequese precisa de usar uma linguagem compreensível e acessível às pessoas de hoje e com forte ligação à vida concreta. Encorajou o uso das novas tecnologias e pediu uma catequese insculturada, que fale às realidades locais, às culturas e às necessidades das pessoas.

4 – RECONHECIMENTO E FORTALECIMENTO DO MINISTÉRIO DE CATEQUISTA. Em 2021, Francisco criou oficialmente o ministério laical de catequista, com o motu proprio “Antiquum Ministerium”. Essa foi uma grande valorização da vocação catequética, especialmente para os leigos, reconhecendo o seu papel central na missão evangelizadora da Igreja. Agora, catequistas podem ser instituídos oficialmente nas suas dioceses, com um rito próprio.

5 - UMA EDUCAÇÃO CRISTÃ INTEGRAL E INCLUSIVA, que abarque a formação intelectual, espiritual, emocional e social da pessoa. A fé, segundo esta visão, não se separa da vida concreta nem da responsabilidade social, mas propõe uma síntese vital entre conhecimento, experiência e serviço ao próximo, especialmente aos mais pobres e vulneráveis.

5 - A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA DE EMRC NA ESCOLA. Francisco falou com frequência sobre a importância de uma educação integral, que promova não só o saber,

mas também os valores humanos e espirituais. Ele valorizou o papel das escolas na inclusão e pediu que elas sejam espaços abertos, abertas ao diálogo inter-religioso e intercultural. Num mundo marcado por incertezas e fragmentações, a disciplina de EMRC pode ser uma resposta educativa capaz de cultivar a esperança, a fraternidade e o compromisso por uma sociedade mais justa e solidária.

6 - LANÇAMENTO DO PACTO EDUCATIVO GLOBAL (2019), onde o Papa desafiou educadores, famílias, governos e instituições religiosas para formar pessoas comprometidas com o bem comum. Francisco convocou todos os agentes educativos a "colocar a pessoa no centro" e a "formar indivíduos dispostos a colocar-se ao serviço da comunidade". Assim a disciplina de EMRC, nesse âmbito, não pode ser apenas uma disciplina escolar, mas uma proposta de vida que visa formar cidadãos éticos, conscientes e espiritualmente despertos.

7 - A DIMENSÃO ECOLÓGICA – UMA NOVA CONSCIÊNCIA PARA A IGREJA E PARA O MUNDO. A dimensão ecológica no pontificado do Papa Francisco foi um apelo profético à responsabilidade universal pelo cuidado da Terra e dos mais frágeis. Num mundo marcado por desequilíbrios ecológicos e sociais, Francisco propôs uma espiritualidade da criação, baseada na gratidão, na sobriedade e na solidariedade, convidando a Igreja e toda a humanidade a uma conversão ecológica que seja também uma renovação da esperança.

8 - UMA IGREJA EM SAÍDA E SINODAL. Em coerência com a sua visão de uma Igreja sinodal - uma Igreja de participação e corresponsabilidade – o Papa defendeu uma educação cristã que fomentasse o espírito de comunhão e de missão partilhada. A formação e a educação da fé são concebidas como um processo permanente, aberto a todos os fiéis, e orientado para a construção de comunidades acolhedoras, abertas ao Espírito Santo e comprometidas com o testemunho do Evangelho no mundo.

Em jeito de conclusão, podemos dizer que a catequese e a educação cristã, no pontificado do Papa Francisco, representam uma profunda renovação pastoral e espiritual. Ao recentrar a formação cristã no encontro pessoal com Cristo, ao valorizar o papel das famílias e ao promover métodos mais dialogantes e inclusivos, o Papa Francisco procurou sempre ser fiel à sua missão evangelizadora num mundo em constante transformação.

Abel Dias, diretor do Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Diocese de Viseu

Imagem: Vatican MEDIA (arquivo)

Educris|30.04.2025