«A Catequese tem um papel fundamental no acolhimento e integração das novas comunidades», Isabel Rosendo
Nova responsável pela «Pastoral da Catequese» da Diocese de Setúbal apresenta os desafios para o setor numa “Diocese muito heterogénea” e destaca o papel deste setor na integração das novas comunidades
Recebeu a nomeação de D. Américo Aguiar com “algum temor” e “muita surpresa”. Maria Isabel Alves Rosendo, 65 anos, professora de profissão e catequista por vocação desde 1984, falou ao EDUCRIS sobre o modo como vê o futuro da catequese na Diocese de Setúbal.
EDUCRIS: Como recebeu esta nomeação e há quanto tempo é catequista?
Isabel Rosendo: Fui abordada pelo padre Rui e fiquei gaga. Nunca me tinha passado pela cabeça. Mantive a ideia, até ao fim, de que continuaria a trabalhar, mas não como coordenadora. O senhor D. Américo falou comigo e lá me convenceu. Entendo isto como mais uma etapa da caminhada.
Com “40 anos” de experiência na catequese esta professora de História do ensino secundário olha com esperança para o futuro da Igreja e da catequese, numa Diocese que está em festa pelos seus 50 anos.
EDUCRIS: Em termos catequéticos qual é a realidade que podemos encontrar em Setúbal?
Isabel Rosendo: A diocese de setúbal é muito heterogénea e é um desafio constante. Em Almada, cidade, a realidade é distinta, por exemplo, do Monte da Caparica que é mesmo aqui ao lado. Ao ir-se para as praias de Sado, quase no Alentejo, então a diferença torna-se ainda maior. Esta Diocese recente, estamos a celebrar 50 anos, é também diferente de Lisboa, ou das Dioceses do Norte. Quando vou ao encontro nacionais vejo a diversidade e a margem sul tem, de facto, características muito distintas. Aqui temos pessoas que vieram de fora, alentejanos e algarvios, sobretudo, Aqui tiveram os seus filhos e agora os netos. Em termos de catequese temos semelhanças com as outras sobretudo o nível d falta dos catequistas.
EDUCRIS: As novas comunidades humanas já se fazem sentir na catequese? O que muda?
Isabel Rosendo: Temos hoje convivido com uma realidade muito nova que são as famílias que vem do estrangeiro. Almada é uma cidade muito envelhecida e as pessoas que chegam trazem sangue novo. Esta nova corrente de emigração é desafiante para uma diocese que faz agora 50 anos. Em história 50 anos é muito pouco. Ainda estamos a absorver diferenças e percebendo a riqueza que advém da diversidade. A realidade que conheço melhor, a da minha paróquia, e acredito mesmo que a Igreja, e a catequese e articular, vão ter um papel fundamental nas questões da inclusão e da integração destes novos habitantes.
EDUCRIS: Dá um peso grande à catequese neste processo. Porquê?
Isabel Rosendo: A catequese é, antes de mais, um lugar de criação de laços uns com os outros, e com Deus, em comunidade. Precisamos de tornar mais evidente estas ligações nas várias dimensões das comunidades. Precisamos que as pessoas se sintam integradas. Os que vem de fora trazem consigo culturas diferentes, e mesmo experiências crentes diversas. A escola, a catequese e igreja vão ter um papel importantíssimo neste processo. Na diversidade está a riqueza das nações. Jesus não escolheu só os judeus. Esta ideia de inclusão, que a bebemos em Jesus, é tão revolucionária que os próprios apóstolos ficam em choque. Temos de ser capazes de abrir as portas como nos pede o Papa Francisco. Numa região como a nossa, de confluência de tanta gente, vai ser fundamental.
EDUCRIS: Deixando um pouco a realidade local e olhando para a realidade da catequese em Portugal como vê este Novo Itinerário e os materiais que tem vindo a ser publicados?
Isabel Rosendo: Este itinerário entusiasma. Tem, por um lado, a inovação e por outro a ideia de fazer caminho ao estilo catecumenal. Dentro dos tempos, e assim de repente, destaco o «Despertar da Fé» como desafiante. Ainda não sei bem como fazer em comunidades mais envelhecidas, e com poucos batizados, mas penso que em relação aos mais velhos e estamos no caminho certo. Do Itinerário destaco ainda a ideia do ‘trabalho de projeto’ que vai garantir que os mais novos ‘colocam a mão na massa’.
EDUCRIS: É deixar um pouco a ideia de uma aula clássica…
Isabel Rosendo: Hoje os miúdos, e sobretudo a partir de certa idade, não podem estar apenas a ouvir. A transformação faz-se também pela ação, pelo comprometimento pessoal, quando entendo as necessidades da minha paróquia, e do modo como o meu papel como cristão pode ser importante. Queremos miúdos que saiam e façam.
EDUCRIS: Este paradigma vai exigir ainda mais dos catequistas. Precisamos de mais e melhor formação?
Isabel Rosendo: Na diocese já temos uma ideia que vamos colocando em prática. Trabalhamos em equipa e em rede. Formamos responsáveis por vigararia e estes, por sua vez, fazem formação ao nível das paróquias. De certo modo, e tendo em conta as necessidades do novo Itinerário, vamos ter de voltar a correr toda a Diocese, como fizemos na altura em que surgiram os primeiros catecismos do 1º ao 10º ano. A ideia de uma catequese transmissora de conteúdos, saber tudo de cor, claro que é muito importante, mas hoje precisamos de formar os catequistas para que façam caminho com os mais novos, o irmão mais velho que cuida, escuta e acompanha. O Ser Catequista é já uma ajuda grande para quem começa, e temos vindo a colocá-lo em prática.
A nova equipa da Pastoral da Catequese foi nomeada pelo cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, no passado dia 15 de julho. Para além de Isabel Rosendo, diretora, fazem parte da equipa Dulce Maravilhas Pereira, Marina Sofia Gonçalves, Susana Cristina Santos e Liliana Angélica Alves. O assistente nomeado é o padre Telmo Nunes.
Imagem: D. Américo Aguiar fala aos catequistas no Encontro Diocesano e Almada