«Catequese deve olhar para as periferias da evangelização», pedem responsáveis

Painel, com representantes de vários contextos socioculturais desafiaram catequese a ir ao encontro de novas realidades e a dar resposta aos desafios presentes no Diretório

Célia Santos, da pastoral a Pessoas com Deficiência, do Patriarcado de Lisboa, pediu aos catequistas maior atenção à integração da pessoa com deficiência na catequese.

“Quando falamos de inclusão devemos começar pelo princípio: Onde estão as crianças com deficiência? Elas estão na escola, mas vemo-las na catequese?”, questionou.

Participando no painel «Contextos socioculturais específicos» a também catequista alertou para a necessidade de fazer “um caminho interior”, antes mesmo “de olharmos para os materiais necessários”.

“O papa pede, em 2017, que se formem catequistas capazes de ajudar a cuidar destas pessoas para que elas tragam a sua singularidade para a Igreja. Temos caminho a fazer na catequese para todos”, sustentou.

Perante a pouca presença da Pessoa com Deficiência nas comunidades paroquiais, e na catequese, Célia Santos considerou que tal se fica a dever “à dificuldade que cada um tem em acolher a diferença, em integrar o outro” e pediu a criação de “novos canais de comunicação e métodos mais adequados para favorecer a integração da diferença”.

Estar no digital sem esquecer as tecnologias de sempre

Numa tarde que deu a conhecer a presença da catequese “nas periferias da Igreja” o padre Nelson Faria, responsável pela Rede Mundial de Oração pelo Papa, chamou a atenção dos presentes para o facto de hoje “o digital já não ser apenas um conjunto de instrumentos, mas uma infraestrutura cultural”.

“O digital é a nossa cultura. Ele é a nova ágora e o lugar onde São Paulo, e tantos outros, estariam hoje a comunicar a boa nova aos humanos deste tempo”.

Lembrando o relatório para o sínodo dos bispos sobre a juventude, o sacerdote deu conta de um estudo que indica que 41% dos jovens nunca rezam e desafiou a catequese a “arriscar na presença digital”.

“Precisamos de empoderar quem nos procura com materiais mais finos. A era da massificação, dos manuais todos iguais para todos e a funcionar durante anos, acabou”, declarou.

Numa breve análise pela catequese portuguesa o responsável pela Rede Mundial de Oração pelo Papa, em Portugal, apresentou aos catequistas «cinco atitudes» de mudança e lembrou a importância de “não domesticar Deus” a uma determinada imagem ou consideração”.

“Nós só temos de despertar as pessoas para a fé. Não domesticar Deus! Não o tornar um boneco. O evangelho é uma provocação e não uma sabedoria de vida. Não esqueçamos, para começar, as tenologias de ontem: rezar, ler e estar em comunidade. A Fé é a proclamação de uma alegria”, concluiu.

Educar para o «quando menos, mais»

Adelaide Theotónio trouxe à reflexão a questão do «Compromisso ecológico e social na Catequese».

A responsável da Rede Cuidar da Casa Comum estabeleceu a ligação entre a encíclica ‘verde’ do Papa Francisco, Laudato si’ e o Diretório.

“Hoje percebemos que existe uma geração sedenta de estar em maior ligação com a natureza. Por outro lado quanto maior, vazio existencial, maior consumismo. Temos de educar para um princípio, presente em tantas tradições religiosas, que «quanto menos, tanto mais»”, apontou.

Num país que apresentou como “um dos campeões do desperdício alimentar”, Adelaide Theotónio desafiou os catequistas a introduzirem os seus catequizandos à “arte da contemplação”, para ser possível uma verdadeira “conversão ecológica”.

Precisamos de gerar redes de contacto

Da Pastoral Penitenciária de Portugal, o padre José Luís Costa, deu conta de uma nova forma de “estar em prisão sem se estar preso”.

“O desafio é enorme por que hoje o capelão já não permanece no estabelecimento e isso faz com que o voluntariado, nas suas várias dimensões, ganhe particular importância”.

Alegrando-se por, “pela primeira vez”, o Diretório para a Catequese “abordar a realidade da prisão” o sacerdote considerou ser este o lugar privilegiado para “se realizarem autênticas experiências laboratoriais para a pastoral porque aqui trabalhamos na fronteira da condição humana”.

“A realidade da prisão é Portugal é, maioritariamente, masculino. Ouvimos, muitas vezes, pessoas que estiveram na catequese. Precisamos de um trabalho de sapa dos catequistas, não de julgamento, mas de prevenção e antecipação de comportamentos”, apelou.

O padre José Luís Costa considerou que é “fundamental um trabalho profundo”, por parte das comunidades paroquiais, que sejam “redes de contacto com as famílias dos que estão privados da liberdade, e que se constituem como suporte de reintegração para os que regressam à comunidade”, sustentou.

“Se o fizermos estes números escabrosos da prisão portuguesa podem ser melhorados. A maior marginalização é marginalizarmos a presença do divino na vida destas pessoas. Voltar a viver em comunidade é o primeiro passo para uma aprendizagem circular tão necessária para todos os que somos aprendizes do divino”, completou.

Educris|27.10.2022



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