Opinião: «O sangue dos mártires nunca é derramado em vão», por Sérgio Carvalho
Os dias que correm trazem-nos notícias de guerras, rumores de guerras, conflitos, morte, fome e destruição. Devido à quantidade de casos e à utilização dos eventos até à exaustão, cai-se muitas vezes na banalização do mal e na insensibilidade.
Vemos que, em muitos meios de comunicação social, a ânsia de novas notícias, as audiências e o politicamente correto ditam aquilo que é notícia e aquilo que é descartado, como se não tivesse importância. Assistimos a guerras de 1.ª, 2.ª e 3.ª categoria, quase como os lugares de uma viagem de avião ou um cinema. Vemos que, para alguns, existem atentados que abrem noticiários e fazem as primeiras páginas de jornais, enquanto outros apenas são referidos em notas de rodapé ou simplesmente ignorados.
O mês de junho de 2025, confirma tudo o que acabei de afirmar. Destaco apenas três situações, entre muitas que poderia relatar, de perseguição, atentado e morte de cristãos que quase não são referidas ou comentadas, a não ser por organizações da Igreja e dos seus meios de comunicação.
A 8 de junhoa casa das Irmãs Mercedárias do Santíssimo Sacramento, em Pemba, na província de Cabo Delgado, em Moçambique, foi assaltada por homens armadosmunidos de catanas, que ameaçaram decapitar mesmo uma das irmãs.As religiosas, que acolhem e cuidam de mais de três dezenas de meninas, viveram momentos horríveis. Já o bispo de Tete, D. Diamantino Antunes, referiu, em entrevista, que o terrorismo parece estar enraizado em Cabo Delgado. E isto a poucos dias de Moçambique comemorar os 50 anos de independência de Portugal (25 de junho).
Na sexta-feira, 13 de junho, terroristas, militantes jihadistas, mataram mais de 200 cristãos, na Nigéria, depois de invadir os edifícios onde dormiam e esfaquearam todos os que tentavam fugir aos gritos de “Allahu Akhbar” – Deus é grande –, antes de começarem com a carnificina.
Na cidade de Antioquia, na Síria, registou-se a morte de 30 cristãos no atentado de domingo, dia 22 de junho, na Igreja de Santo Elias, em Damasco e que causou também mais de meia centena de feridos. Esta igreja pertence à comunidade ortodoxa grega. Este poderia ser mais um caso dos conflitos no Médio Oriente, mas evidencia que os cristãos correm perigo de vida, ainda para mais na cidade que lhes deu o nome pois «foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.» (cf. Atos dos Apóstolos 11, 26).
Estes casos que referi são apenas a ponta do icebergue. Sabemos que há em todo o mundo imensos casos de perseguição aos cristãos, independentemente da sua confissão (católica, ortodoxa ou evangélica), os quais não são noticiados, apenas porque são cristãos. É imperioso dar voz aos perseguidos e aos mártires, recordando sempre a frase de Tertuliano, no seu livro Apologético, 50,13 - «O sangue dos mártires é a semente dos cristãos».
Aproximando-se a data do 13 de julho, em que se assinala a terceira aparição em Fátima, na qual foi revelado o «Segredo», lembro as palavras que a Irmã Lúcia escreveu, em Tui, na Galiza, a 3 de janeiro de 1944 e que constam do manuscrito da terceira parte do segredo de Fátima: depois de ver o «bispo vestido de branco cair como morto (…)foram morrendo uns trás outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal na mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.»
O sangue dos mártires nunca é derramado em vão. O seu sangue é testemunha do ódio e da perseguição, mas também da sua identificação com o seu fundador – Jesus Cristo. Mas o mal não terá a última palavra. O bem e a verdade prevalecerão. Olhemos para Roma e vemos que a capital do império romano que matou e perseguiu o cristianismo, hoje é a Sede da Igreja Católica. Onde era o circo de Nero, hoje ergue-se a basílica de São Pedro.