Terra Santa: «A Igreja na Palestina tem a sua cruz», D. Willian Shomali
Pequeno grupo de cristãos resiste, apesar a guerra. Percentagem desceu para menos de dois por centro
D. William Shomali, Vigário-Geral do Patriarcado de Jerusalém e da Palestina, afirmou hoje que “os cristãos da Terra Santa têm suas cruzes para carregar seguindo Cristo”.
“A primeira vem do facto de serem um pequeno rebanho, enfraquecido pela emigração de milhares de irmãos em busca de uma vida mais segura e digna. A percentagem de cristãos nesta terra caiu para menos de 2%”, lamenta numa conversa com o padre Jacinto Bento que está, por estes dias, na Terra Santa, a celebrar a Páscoa.
Lembrando que “este pequeno rebanho vive no meio de uma situação política e económica precária, e luta para encontrar trabalho”, o prelado lamenta a quantidade de dificuldades diárias com que vive a comunidade cristã para suprir as necessidades básicas.
“Há dificuldades quotidianas: obter uma permissão de trabalho em Jerusalém ou em Israel, pagar medicamentos, hospital, aluguer da casa, contas de eletricidade e água, leite para os bebés, escolaridade das crianças e todas as necessidades básicas”.
Por este motivo Patriarcado Latino de Jerusalém instituiu um comité humanitário e um fundo de caridade para ajudar as famílias necessitadas e fornecer-lhes os bens de primeira necessidade.
O comité tem-se empenhado na angariação de fundos, que vão chegando a conta gotas e pede o apoio das Igrejas europeias.
“Os mais martirizados são nossos irmãos e irmãs de Gaza. O futuro deles é sombrio. As suas casas foram destruídas ou estão inabitáveis. Os seus filhos estão sem escola há dois anos, e o exército pede que deixem o complexo paroquial que os abriga e saiam de Gaza”, lamenta.
Afirmando que o próprio Patriarca Latino já esteve no território, e agradecendo o apoio constante do Papa Francisco, D. William Shomali recorda com alegria as palavras do Papa Francisco numa carta escrita aos cristãos da região a 7 de outubro passado, e acredita que “Deus não nos abandona”.
“Com a cruz há uma grande Esperança. Deus não nos abandona. A solidariedade das outras igrejas não nos faltou. O Santo Padre esteve sempre próximo da paróquia de Gaza durante os 15 meses de guerra”, alegra-se.
Jerusalém: Um mar de peregrinos paredes meias com a guerra
Em Jerusalém a época da Páscoa parece ocultar o clamor das bombas, como afirma ao EDUCRIS o padre Jacinto Bento, presente na região.
“Aqui em Jerusalém temos absoluta liberdade de movimentos. Consigo ir a todos os lugares de peregrinação e, sempre de batina, sou bem-vindo e respeitado por todos, quer sejam cristãos, judeus ou muçulmanos”, garante.
As últimas horas antes da grande celebração do Tríduo Pascal, levou o sacerdote português à Edícula para visitar o Túmulo Vazio de Cristo.
“Neste local, onde os frades greco-ortodoxos controlam as entradas, pude participar na procissão diária que os franciscanos dinamizam na Basílica ao fim da tarde. Estavam peregrinos de muitas proveniências. O mesmo pude constatar no Sepulcro e no Calvário”, desenvolve.
Já no Kotel, o Muro das lamentações, lugar para onde convergem todas as ruas da Cidade Velha de Jerusalém, “um mar de judeus” realiza as suas orações junto ao muro “e na praça adjacente”.
“Esta é a maior celebração Judaica e são milhares os que aqui rezam, junto ao muro e estendendo-se até à praça Omar num autêntico mar de gente”, relata.
A coleta de Sexta-feira Santa, realizada em todas as Igrejas do Mundo Cristão na celebração da Paixão do Senhor, vai este ano para a Custódia da Terra Santa, responsável por conservar os lugares santos, e para “as escolas do Patriarcado Latino de Jerusalém”, revela-nos.
Imagem: Padre Jacinto Bento junto a D. William Shomali