Igreja/IA: «Ser humano tem de ser salvo de ser um homem unicamente tecnológico», afirma D. Rui Valério
Patriarca de Lisboa participou ontem na sessão inaugural do Seminário Internacional de Estudos Globais – Série ‘Diálogo Inter-Religioso’
D. Rui Valério afirmou ontem ser fundamental “salvar o ser humano” de um modelo que estimula do pensamento exclusivamente “tecnológico”.
“Hoje, é necessário salvar o ser humano. A cultura e a mentalidade em que nos movemos hoje é onde emergiu a afirmação da tecnologia. Procura-se um ser humano que exista de acordo com aquilo que são as características da tecnologia. Se hoje o ser humano tem de ser salvo, é disso mesmo: de ser um homem unicamente tecnológico. A religião pode assumir o papel de lembrar que o ser humano é muito mais que aquilo que produz: valemos muito mais que isso”, disse citado pelos serviços de comunicação do Patriarcado de Lisboa.
Na sessão inaugural do «Seminário Internacional de Estudos Globais – Série ‘Diálogo Inter-Religioso’», promovido pela Universidade Aberta, o Patriarca de Lisboa aprofundou o tema «Urgências e Desafios do diálogo inter-religioso para a construção de uma globalização de rosto humano» e considerou que “o diálogo inter-religioso emerge como plataforma que possibilita um percurso de fraternidade e inclusão” a partir “da cultura”.
“A religião pode ser transformadora da cultura” sendo aí o “campo que se move o diálogo”.
Na sessão, promovida pelo Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta, em parceria com o LusoGlobe, centro de investigação da Universidade Lusófona, D. Rui Valério considerou que o “O diálogo também se funda no ethos, isto é, o ser humano é um valor porque não pode não ser. A ética está mal se for necessário buscar justificações”, desenvolveu.
Para o responsável católico existem um conjunto de valores, que apelidou de “transcendentais”, e que “não dependem de contingências” culturais.
“A verdade, a beleza e a bondade não mudam, independentemente do tempo ou do local. Cada ser humano é bom, é belo, é verdadeiro e acalenta o desejo de unidade”, disse.
Para D. Rui Valério “estes três aspetos são transversais a todas as tradições religiosas: não há uma conceção negativa ou derrotista do ser humano”, reforçou, propondo ainda um “quarto vetor: a transcendência”.
“O outro leva-me sempre a vê-lo como irmão”, completou.
A sessão foi coordenada por Porfírio Pinto, do Centro de Estudos Globais - Universidade Aberta, e contou com o comentário crítico de Khalid Jamal, comentador e membro da Comunidade Islâmica de Lisboa, Elsa Pereira, da Aliança Evangélica Portuguesa e Fabrizio Boscaglia, coordenador da base de dados do Património Islâmico em Portugal e subdiretor do Mestrado em Ciência das Religiões da Universidade Lusófona.
No final da sua intervenção seguiu-se um tempo de diálogo com as diversas intervenções de representantes da Igreja Evangélica e da Comunidade Islâmica.