CEI/Quito: «Há tanto para fazer», padre Pedro Manuel

O contexto do tema da “Eucaristia e Transfiguração” escutamos dois testemunhos bonitos e fortes de amor a Deus, aos irmãos e à Eucaristia. Diria mesmo que são testemunhos de benção

Lourdes Amador - leiga comprometida na igreja - provem de uma família numerosa e vive o carisma salesiano como leiga de forma ativa. Na sua família são todos cristãos comprometidos. Um irmão seu foi salesiano e morreu num acidente. Sente que foi formada no amor a Jesus e à eucaristia. Na família tentavam muitas vezes assistir à missa diária. Os seus pais foram um exemplo grande do amor que devemos ter a Deus, à Virgem e à igreja. A melhor herança foi a Fé vivida na simplicidade da vida diária, os pais ensinaram-lhe a ser luz e sal a partir dos valores humanos e cristãos que perduraram pelos tempos…

O seu matrimónio é expressão de que o caminho se pode fazer a dois de forma plena, e como fruto da benção que Deus dá a quem n’Ele confia. Encontrou muito da sua vocação nas visitas aos hospitais de crianças onde trabalhou o seu pai e também nas visitas aos orfanatos. A sua vida foi sempre motivada pelo amor a Deus e ao serviço aos outros. Os pais ajudaram muito a ficar com um modelo de um matrimónio cristão.

Tem uma vocação laical, dama salesiana, para construir um mundo mais justo e solidário. Deseja construir uma sociedade que reflita os valores evangélicos promovendo a fraternidade, entregando parte da vida aos destinatários. O maior dom é ter a oportunidade de entregar-se ela mesma…. A maior alegria que tem é partilhar com os seus destinatários… dar uma palavra de alento e fazê-los rir… convidar a terem confiança em Deus!

A felicidade maior é ser semeadora de esperança. Sonhamos com um mundo melhor, um mundo transfigurado pela eucaristia.

P. José António Gonzal - Espanha/Fidei Donum - Equador - trabalha muito na resolução de conflitos. Falou-nos de Paz e reconciliação partindo da Eucaristia em tempos incertos. Dedica-se às pessoas privadas de liberdade/PPL.

Realmente problemas há muitos, mas não precisamos estar sempre presos aos problemas. É importante pensar e recordar muito os lugares onde há conflitos e levar aí os nossos corações. Há tantos lugares onde a guerra visita a nossa realidade. Não fiquemos parados a olhar o céu… Deus escuta os clamores do Seu povo. Este congresso é uma boa oportunidade para buscarmos a sinodalidade - participação, comunhão e missão. Devemos fazê-lo quotidianamente!

Há que mudar de narrativa… fazer caminho até uma narrativa de paz… muitas vezes absorvemos histórias de vida… Partiu de um diálogo com um fantoche, Jaris, acendeu uma vela que simboliza toda a gente que trabalha connosco… a vela é ja um sinal de sinodalidade das abelhas… acendemos a vela como sinal de que temos de ser luz… mesmo que sejamos pequenos… rezamos o Pai-nosso de olhos abertos para ver os irmãos…

Foi sobrevivente de guerra porque a guerra, em 2020 nas Esmeraldas, e durou mais de 24h… “fez o que tinha que fazer, o único que não nos abandonou”… obrigado! Disseram-lhe… obrigado, porque a Igreja não nos abandonou. O medo pode gerir-se. Ainda hoje existe guerra que tem vitimas colaterais. As pessoas não são “problemas colaterais”… são pessoas. Vejamos quem morre nas prisões no Equador, as mortes de crianças, os polícias assassinados, as mulheres violadas e grávidas durante a ocupada das prisões, os políticos assassinados, os atentados e os sequestros… hoje os mortos continuam a ser arma política, mas temos de deixar de nos vitimizar…

O pão partido e partilhado recorda-nos que devemos passar de vítimas a construtores de paz… Por vezes não seguimos protocolos, mas semore devemos abrir os olhos às necessidades dos nossos irmãos. Não somos vitimas nem do ódio nem do medo… não nos podemos polarizar nem paralizar.

Os discípulos são unidade na diversidade, a igreja nao é só dos bons… Jesus tinha Mateus, Simão, o zelota… o que fazia São Pedro com uma espada? Jesus comia com as multidões, com os pecadores, fariseus, mulheres, os discipulos… A eucaristia servia para a inclusão, para ensinar, para a comunhão, para a transformação (conversão), para ser força para o caminho…

Os que vivemos do corpo e sangue de Jesus temos de ser capazes e merecedores do sangue derramado de Jesus pois todas as vidas valem… devemos gerir os conflitos, como na última ceia, Jesus deu-lhes uma visão de futuro.

A eucaristia é transfiguração pessoal e comunitária… é saudação e perdão… todos somos responsáveis pelos conflitos. A palavra de Deus que escutamos liberta prisões e consola vitimas, a comunhão é um momento de intimidade, a consagração transfigura-nos no pão partilhado e na vida entregue e envia-nos pelo mundo!

A igreja tem de libertar todas as prisões. Deve ser “Hospital de campanha”, “Uma tenda de aliança” e “Uma mesa de fraternidade.

E diante disto, ficamos sem fôlego porque há tanto para fazer.

P. Pedro Manuel

Delegado Diocesano ao Congresso Eucarístico Internacional/Quito



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