CEI/Quito: «Fé que redime e salva», padre Pedro Manuel
Os testemunhos que deixo hoje poderiam ser os de tantos que nos leêm. A fé é capaz de transportar montanhas e superar os limites das forças. A alegria da fé e a certeza da presença real do Senhor na eucaristia dão sentido ao que se tem ouvido e vivido no Quito. Poderíamos deixar uma pergunta retórica no ar: e na minha vida? O que poderei eu fazer com o arder do meu coração quando estou perto de Jesus?
Margaret Fellker - USA/Equador - fundou com o seu marido uma associação e um fundo de desenvolvimento com o nome do filho David, uma criança especial que entretanto faleceu. Uma vida breve cheia de vida que desapareceu. A capela do santíssimo tornou-se o seu refúgio. “Vinde a Mim”… Foi um dom manancial de amor… cada manhã, a eucaristia era um verdadeiro presente que a sustinha e redimia por esse amor que não lhe podia faltar… “Jesus sempre me esperava em cada sacrário”… (frase que muitas vezes ouviu dos seus pais…).
Que paradoxo… perdeu um filho e depois ouviu a palavra… “basta-te a minha graça”… mas realmente foi… numa missa ocasional, o encontro com crianças necessitadas, fez com que ela e o esposo, agnóstico, fossem capazes de intuir que aquele poderia ser o caminho da redenção e também de queda de barreiras que separam a fraternidade entre crentes e não crentes… “Eu e o meu esposo temos um propósito que nos enche a vida”! Rezava os mistérios dolorosos… e perguntava como seriam os meus mistérios gloriosos? E os seus mistérios gloriosos têm sido as vidas daqueles que têm ajudado com o dinheiro do fundo que criou em nome do seu filho David.
D. Bienvenu Manamika - Congo/Brazzaville - Falando sobre a eucaristia e a fé quedtionou-se, questionando-nos quais podem ser hoje os motivos de esperança para os cristãos deste Congo? Depois dos conflitos há pobreza, doenças e falta de futuro… A “Ecclesia em África” (João Paulo II) pode continuar a aplicar-se no contexto actual. África está cercada de muitos problemas… instabilidades… miséria, guerras, golpes de estado e desesperos… a eucaristia pode propor-se como um caminho para o renascimento do Congo… para uma sociedade justa e pacífica, apenas existe um caminho, uma intimidade grande com o Senhor (Bento XVI).
Deixou-nos um compromisso diário: reconsiderar a nossa fé hoje.
5 desafios para o Congo:
Libertação - expectativa para cada homem e cada pessoa. A eucaristia não é um refúgio… é a participação da fraternidade… ir além da tribo… é denúncia dos sistemas de opressão. Quem experimenta a libertação em Cristo converte-se em libertador, mas as cruzes e desafios continuam os mesmos… poligamia, seitas, ciencias ocultas, religião muçulmanos… diferentes doutrinamentos. O medo da morte só se supera no acolhimento da palavra.
Paz - eucaristia é um sacramento de paz! A celebração litúrgica é um exemplo disso. No Congo a paz continua ser um caso sério… No Ruanda, no Zaire, na República Democrática do Congo… as separações continuam a acontecer e muitos dos que dividem são cristãos… e comungam… e há tantas divisões… cada cristão é responsável no seu compromisso. Como fazem para se odiarem os que comungam todos os dias?
Responsabilidade - as missas africanas são alegres e podem ser ilhas ou refúgios para fugir das suas misérias…é urgente tomar consciência do caminho a fazer da exterioridade à interioridade. Há uma ética de responsabilidade e é a isso que Jesus convida o Congo… para ser cristão não basta estar na igreja ou entre nós, em qualquer sítio é urgente lutar contra a vida dupla.
Promoção humana - a eucaristia tem de abrir a nossa humanidade a uma nova maneira de ser homens. Celebramos o amor do ressuscitado pelo homem. O pão partido cria a comunhão de um só corpo. Sacramentum Caritatis - “não se pode separar a eucaristia do compromisso social”… é um sacramento de comunhão entre irmãos e irmãs que aceitam reconciliar-se em Cristo que fez de uns e outros irmãos fazendo cair o muro da inimizade que os separava. Daqui nascerão a justiça, a reconciliações, o perdão e a paz verdadeira.
Fraternidade - está no coração do mistério cristão. É constitutiva do ser da missão da igreja. “Ninguém conhece ou sabe o sabor do vinho contemplando o sol”. É necessário permanecer no Senhor… “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15). Devemos reconstruir as nossas famílias, tradições, culturas e realidades e revê-las diante do amor de Deus.
Que estes apelos nos ajudem a ser mais fraternos!
Padre Pedro Manuel
Delegado Diocesano ao Congresso Eucarístico Internacional/Quito