«Os líderes religiosos devem erguer a voz em favor dos regimes democráticos», António Marujo (C aúdio)

Exposição comemora os 20 anos da Lei da Liberdade Religiosa, nos 50 anos do 25 de abril

Foi inaugurada, no passado dia 18 de dezembro, a exposição «Os Caminhos da Liberdade Religiosa em Portugal». A iniciativa, que se deveria ter realizado “em plena pandemia”, vê agora a luz do dia num país que detém, na opinião do comissário da exposição António Marujo, “uma das leis mais avançadas do mundo”.

“Temos, nos 50 anos do 25 de abril uma das leis mais avançadas do mundo. Estando o tema assegurado nos estados democráticos persistem alguns conflitos e tensões, fruto de leis já ultrapassadas. Temos realidades diversas na Europa, mas a liberdade religiosa é assegurada nos estados democráticos, e só aí”, considera.

A exposição, que pode ser vista até 28 de fevereiro na Assembleia da República é oportunidade para conhecer “os caminhos da liberdade religiosa em Portugal”.

O jornalista, mentor do projeto digital 7Margens, lamenta o modo como o tema é tratado fora dos sistemas democráticos, e pede uma “maior intervenção dos líderes religiosos na luta pelos sistemas democráticos”.

“O problema da Liberdade religiosa apresenta-se hoje, sobretudo, em regimes não democráticos ou em guerra. Aí temos problemas sérios com discriminação das minorias, torturas e assassinatos. Isso deveria levar as confissões religiosas a lutar pela democracia e pelos regimes de liberdade e não apoiar os sistemas autocráticos”.

Num momento em que se surgem novos movimentos populistas e nacionalistas António Marujo critica o “aproveitamento do religioso”, por parte dos políticos, e pede maior intervenção dos líderes religiosos.

“Deveriam falar mais, mas, não poucas vezes são coniventes com o poder. Os líderes políticos populistas acabam por convencer as lideranças religiosas com a ideia da defesa que fazem dos supostos valores do ocidente que, grosso modo, se ficam pela questão o aborto e pouco mais”.

Para o jornalista é necessário que “os líderes religiosos levantem a voz contra este aproveitamento, contra a intolerância gerada contra os outros, normalmente os estrangeiros, contra a defesa da guerra e da lógica belicista, e outras questões que deveriam merecer uma condenação clara”, afirma.

Numa altura em que o papa pede a paz e traça um cenário “difícil” para o ano de 2024, António Marujo chama a atenção para o aumento do aproveitamento político das religiões por parte da extrema-direita.

“Temos na Europa, e fora da Europa, vários exemplos de populismo e aproveitamento do religioso. O antigo governo polaco, a Hungria de Orban ou o caso da Rússia de Putin. Fora da europa tivemo-lo com Bolsonaro ou com Trump e, temo-lo hoje na índia, por exemplo”.

A cerca de três meses de eleições o especialista em questões religiosas alerta para a existência “deste mesmo movimento” em Portugal.

“Temos entre nós um partido que vai buscar uma argumentação moral, que é ouvida para o campo religioso, mas depois nega essa moral religiosa numa série de campos da vida que são fundamentais – em particular para o cristianismo - ao próprio evangelho e ao seu património ético-moral”.

Para António Marujo esta realidade política “está em contraponto ao que se propõe no acolhimento dos estrangeiros, na intolerância ou nas propostas económicas. Há um oportunismo descarado sem que isso corresponda a uma intenção positiva”, completa.

Imagens: © Arquivo 7Margens

Educris|10.01.2024