Vaticano: Papa apela a ação urgente contra a fome e condena uso da alimentação como arma de guerra
Em mensagem aos participantes da 44ª Sessão da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Papa Leão XIV exorta a uma resposta global mais firme e coordenada contra a fome e a desnutrição, classificando essas realidades como "um dos maiores desafios do nosso tempo"
Dirigindo-se pela primeira vez à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que celebra 80 anos de fundação, o Pontífice expressou profundo pesar com o fracasso coletivo em atingir a meta de Fome Zero da Agenda 2030, lamentando que "tantos pobres no mundo continuem a carecer do pão nosso de cada dia", mesmo diante da abundância global de recursos.
Aos participantes do encontro geral Leão XIV denuncia o "uso iníquo da fome como arma de guerra", acusando grupos armados e líderes corruptos de explorar a privação alimentar para controlar populações vulneráveis.
“Matar a população com a fome é uma forma muito barata de fazer guerra”, adverte.
Na mensagem o papa apela à comunidade internacional para que sejam efetivados mecanismos eficazes de responsabilização pois "é hora do mundo adotar limites claros, reconhecíveis e consensuais para punir esses abusos e perseguir os seus causadores”.
Criticando a inércia política e o excesso de promessas não cumpridas, o Papa Leão XIV defende, no documento tornado publico pelo L Osservatore Romano, uma viragem concreta na abordagem global à fome.
“É urgente passar das palavras às ações”, afirma, sublinhando a necessidade de soluções enraizadas na solidariedade, no diálogo e na responsabilidade intergeracional.
Na linha do seu antecessor Leão XIV convida os responsáveis de todo o mundo a considerarem a estreita ligação entre os sistemas alimentares e as alterações climáticas, e apela a uma "transição ecológica justa", que seja baseada na regeneração da biodiversidade e na justiça social.
"Produzir alimentos não é suficiente, também é importante garantir que os sistemas alimentares sejam sustentáveis e proporcionem dietas saudáveis e acessíveis para todos. Ele reforçou que “produzir alimentos não é suficiente”, advoga.
Para o Santo Padre é urgente a "repensar e renovar os nossos sistemas alimentares, numa perspetiva solidária”, superando a lógica da "exploração selvagem da criação e orientando melhor o nosso compromisso de cultivar e cuidar do ambiente e dos seus recursos, para garantir a segurança alimentar e avançar para uma nutrição suficiente e saudável para todos".
Na parte final da mensagem, dirigida ao Diretor-Geral da FAO, Leão XIV lamenta o que chama de "enorme polarização das relações internacionais" que tem levado a que "recursos financeiros e tecnologias inovadoras destinadas à erradicação da pobreza e da fome no mundo" sejam "desviados para a fabricação e o comércio de armas".
"Desta forma, promovem-se ideologias questionáveis, ao mesmo tempo que se assiste a um arrefecimento das relações humanas, o que empobrece a comunhão e afasta a fraternidade e a amizade social", denuncia.
Aos líderes mundiais o papa americano convida a que nos "tornemos artífices da paz, trabalhando para o bem comum, que beneficia a todos e não apenas a alguns, que são sempre os mesmos".
"Para garantir a paz e o desenvolvimento, entendido como a melhoria das condições de vida das populações que sofrem com a fome, a guerra e a pobreza, são necessárias ações concretas, enraizadas em abordagens sérias e com visão de futuro", completa antes de garantir o compromisso da Santa Sé com a paz, a fraternidade e o combate à indiferença.