Vaticano: Francisco apelida magos de «peregrinos da esperança»

Santa Sé disponibilizou o texto da catequese que o Papa Francisco preparou para esta quarta-feira e que não se realizou em virtude de o Papa continuar internado num hospital em Roma

Leia, na íntegra e em português, a catequese do Papa Francisco

Ciclo de Catequese - Jubileu 2025. Jesus Cristo, a nossa esperança. I. A infância de Jesus. 6. «...viram o menino..., prostraram-se e adoraram-n’O» (Mt 2,11). A visita dos Magos ao Rei recém-nascido

Queridos irmãos e irmãs,

Nos Evangelhos da infância de Jesus há um episódio específico da narrativa de Mateus: a visita dos Magos. Atraídos pelo aparecimento de uma estrela, que em muitas culturas é um prenúncio do nascimento de pessoas excecionais, alguns sábios partiram do Oriente, desconhecendo exatamente o destino da sua viagem. Estes são os Magos, pessoas que não pertencem ao povo da aliança. Da última vez falámos dos pastores de Belém, marginalizados na sociedade judaica por serem considerados "impuros"; Hoje encontramos outra categoria, os estrangeiros, que vêm imediatamente prestar homenagem ao Filho de Deus que entrou na história com uma realeza completamente nova. Os Evangelhos dizem-nos claramente que os pobres e os estrangeiros são convidados a encontrar Deus feito criança, o Salvador do mundo.

Os Três Reis Magos eram considerados representantes tanto das raças primordiais, geradas pelos três filhos de Noé, como dos três continentes conhecidos na Antiguidade: Ásia, África e Europa, e das três fases da vida humana: juventude, maturidade e velhice. Para além de qualquer interpretação possível, são homens que não ficam parados, mas, tal como os grandes apelos da história bíblica, sentem o convite a mover-se, a pôr-se a caminho. São homens que sabem olhar para além de si próprios, sabem olhar para cima.

A atração da estrela, que apareceu no céu, coloca-os a caminho da terra de Judá, para Jerusalém, onde encontram o rei Herodes. A sua ingenuidade e confiança em pedir informações sobre o recém-nascido Rei dos Judeus chocam com a astúcia de Herodes, que, agitado pelo medo de perder o trono, tenta imediatamente ver claramente, contactando os escribas e pedindo-lhes que investiguem.

Desta forma, o poder do governante terreno mostra toda a sua fraqueza. Os especialistas conhecem as Escrituras e informam o rei do lugar onde, segundo a profecia de Miqueias, nasceria o líder e pastor do povo de Israel (Mq 5,1): a pequena Belém e não a grande Jerusalém! De facto, como Paulo recorda aos Coríntios, «o que é fraco aos olhos do mundo, Deus escolheu para confundir o que é forte» (1 Cor 1,27).

Entretanto, os escribas, que sabem exatamente onde nasceu o Messias, mostram o caminho aos outros, mas eles próprios não se movem! De facto, não basta conhecer os textos proféticos para sintonizar as frequências divinas; é preciso deixar-se “escavar por dentro” e permitir que a Palavra de Deus reacenda o desejo de procurar, acenda o desejo de ver a Deus.

Nesta altura, Herodes, secretamente, como agem os enganadores e os violentos, pergunta aos Magos a hora exata do aparecimento da estrela e incita-os a continuar a viagem e depois regressar para lhe dar notícias, para que também ele possa ir adorar o recém-nascido. Para os que estão apegados ao poder, Jesus não é uma esperança a acolher, mas uma ameaça a eliminar!

Quando os Magos partem, a estrela reaparece e guia-os até Jesus, sinal de que a criação e a palavra profética representam o alfabeto com que Deus fala e se deixa encontrar. A visão da estrela desperta naqueles homens uma alegria incontida, porque o Espírito Santo, que move o coração dos que procuram sinceramente a Deus, também os enche de alegria. Ao entrarem na casa, os Magos prostram-se, adoram Jesus e oferecem-Lhe dádivas preciosas, dignas de um rei, dignas de Deus. Porquê? O que veem? Um antigo autor escreve: vêem “um corpo pequeno e humilde que o Verbo assumiu; mas a glória da divindade não lhes está escondida. Vê-se uma criança pequena; mas adoram a Deus” (Cromático de Aquileia, Comentário ao Evangelho de Mateus 5,1). Os Magos tornam-se assim os primeiros crentes entre todos os pagãos, imagem da Igreja reunida de todas as línguas e nações.

Queridos irmãos e irmãs, coloquemo-nos também na escola dos Magos, destes “peregrinos da esperança” que, com grande coragem, dirigiram os seus passos, os seus corações e os seus bens para Aquele que é a esperança não só de Israel, mas de todos os povos. Aprendamos a adorar a Deus na sua pequenez, na sua realeza que não oprime, mas liberta e nos capacita para servir com dignidade. E ofereçamos-lhe os presentes mais belos, para exprimir a nossa fé e o nosso amor.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Imagem: Educris

Educris|19.02.2025



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