Vaticano: Nova Encíclica do Papa explica o «Lugar do Coração» a partir do Amor de Jesus

«Dilexit nos» é o quarto grande pronunciamento de Francisco e reflete sobre o Sagrado Coração de Jesus deixando vários desafios aos crentes

«Amou-nos» ou «Dilexit nos», a nova Encíclica do Papa Francisco conhecida hoje lança um olhar sobre o “lugar e o papel do coração” na experiência humana desde “a antiguidade clássica”, passando pelo judaico-cristianismo, até àquilo que o papa apelida de “sociedade líquida” que esqueceu o lugar do coração.

O novo documento, apresentado esta manhã, convida os fiéis a redescobrir o coração como lugar desta “ligação paradoxal entre a valorização do próprio ser e a abertura aos outros, entre o encontro muito pessoal consigo mesmo e o dom de si aos outros”.

“Só nos tornamos nós próprios quando adquirimos a capacidade de reconhecer o outro, e só encontra o outro quem é capaz de reconhecer e aceitar a própria identidade”, lê-se no número 19.

Mais à frente, e dirigindo-se às comunidades cristãs, o Papa Francisco afirma que “só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades” de modo que “o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos” e deixa o desafio sob a forma de convite:

“Recorramos, pois, ao Coração de Cristo, o centro do seu ser, que é uma fornalha ardente de amor divino e humano, a mais alta plenitude que a humanidade pode atingir. É aí, nesse Coração, que finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar”, diz o número 33 do documento.

Para o Papa os tempos atuais exigem que se redescubra “o coração” como o espaço e o lugar que “torna possível qualquer vínculo autêntico, porque uma relação que não é construída com o coração não pode ultrapassar a fragmentação do individualismo”, adverte.

O documento quer ajudar a descobrir “que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato si’ Fratelli tutti não é alheio ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo”, pois a partir do coração é possível “tecer laços fraternos”, reconhecendo “a dignidade de cada ser humano” para “cuidar juntos da nossa casa comum”.

Francisco critica a sociedade onde “tudo se compra e se paga” e na qual parece que “o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro”.

“Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas e mesquinhas”.

O Papa exorta os crentes a encetar outro caminho porque “o amor de Cristo está fora desta engrenagem perversa e só Ele pode libertar-nos desta febre onde já não há lugar para o amor gratuito”.

“Ele é capaz de dar coração a esta terra e reinventar o amor lá onde pensamos que a capacidade de amar esteja morta para sempre”, completa o Papa.

Dividida em cinco capítulos e contando com 220 pontos, a nova Encíclica revisita o magistério da Igreja, bem como as propostas de vários autores cristãos e não cristãos sobre o tema. «Dilexit nos» receceo seu nome a partir da passagem da carta de São Paulo aos Romanos sobre o amor de Cristo (Rm 8, 37).

Dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, devoção que Francisco considera "essencial para a nossa vida cristã", o documento afirma que "o Sagrado Coração é um compêndio do Evangelho" na medida em que "significa a nossa abertura, cheia de fé e de adoração, ao mistério do amor divino e humano do Senhor".

Imagem: Unsplash

Educris|24.10.2024



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