10 anos com Francisco: Papa grava inédito «Popecast» e pede a «Paz como presente»
São nove minutos onde Francisco discorre sobre o mais e o menos de um pontificado marcado por intensas reformas e pela guerra
Pela primeira vez um Papa grava um podcast, denominado carinhosamente de «Popecast» e que está disponível, desde hoje, no site de notícias do Vaticano e na plataforma Spotify.
No início da sua partilha Francisco lembra o momento da sua eleição e afirma que “parece ter sido ontem”.
“O tempo é veloz - é apressado. E quando se quer agarrar o hoje, já é ontem. Viver assim é algo novo. Estes dez anos têm sido assim: uma tensão, viver em tensão”, afirma.
Recordando as largas centenas de audiências-gerais a que presidiu, Francisco escolhe, como “momento mais bonito”, o encontro com os idosos, na Praça de São Pedro, no Vaticano, e no qual esteve presente o então papa emérito Bento XVI. Corria o ano de 2012.
“O encontro na praça com os idosos. Eu também sou idoso, não? Os velhos são sabedoria e ajudam-me muito. Os encontros com os velhos renovam-me, fazem-me mais jovem, não sei porquê… São momentos lindos, lindos”, afirma Francisco.
Eleito num momento “muito sensível para a humanidade” Francisco lembra que todos os momentos mais duros que teve, nestes 10 anos, estão “relacionados com o horror da guerra”.
“Primeiro as visitas aos cemitérios militares de Redipuglia e Anzio, a comemoração dos desembarques na Normandia. Penso nas mães destes rapazes que receberam uma carta e uma medalha. Mas não mais viram o filho. Isto faz-se sofrer muito”, afirma com a voz embargada.
Ao recordar os conflitos na Síria, Iémen, Myanmar e Ucrânia, Francisco afirma que não esperava ser “o Papa que guiaria a Igreja no tempo da Terceira Guerra Mundial”, e considera que por trás de cada conflito armado “está a industria das armas, e isto é diabólico”, denuncia.
“Se durante um ano não se fizessem armas no mundo terminaríamos com a fome extrema. Sofro muito ao ver os mortos, jovens – sejam russos ou ucranianos, não me importa – pois eles não voltarão. É difícil”, reforça.
Perante o desafio do jornalista a que escolha um presente neste décimo aniversário como papa não tem dúvida: “Paz, precisamos de paz”.
Num mundo fragmentado Francisco deseja que a humanidade recupere o mais profundo da sua existência.
“Somos todos irmãos, temos de recompor a fraternidade. E de aprender a não ter medo de chorar e de sorrir, quando uma pessoa sabe chorar e sabe sorrir, é uma pessoa que tem os pés no chão e o olhar no horizonte futuro. Quando uma pessoa se esqueceu de chorar, algo não está bem, e quando se esqueceu de sorrir, pior ainda”, completa.