Uma oportunidade para a «identidade e missão» das Escolas Católicas

D. Giuseppe Versaldi, perfeito da Congregação para a Educação Católica assina documento, dirigido a todas as instituições de ensino católico, onde lembra “a fragilidade e as chagas da sociedade” que a crise agudizou, e desafia as instituições a “garantir a de crianças e jovens” enquanto aprofundam “a identidade e missão” da sua vocação educativa.

 

Leia, na íntegra, o Comunicado da Congregação para a Educação Católica traduzido a partir do original em italiano.

 

Comunicado

O tempo que estamos a viver, devido à propagação da pandemia causada pelo Covid-19, é um tempo para o qual não estávamos preparados. Fomos arrastados para um evento traumático, que veio sem aviso prévio e criou uma emergência extraordinária. Alguns lutam contra a morte, outros contra o medo, alguns perderam o emprego e outros, pior ainda, perderam a família e os amigos.

A dimensão do inesperado e do imprevisível substituiu todas as nossas certezas. Esta pandemia destacou a fragilidade e as pragas da sociedade: os pobres, os sem-abrigo, os idosos, os presos, os desequilíbrios sociais, os egoísmos individuais e nacionais.

E dentro deste black-out, que provocou uma profunda desaceleração noa nossa vida de todos os dias e da sociedade do terceiro milénio, temos o dever de voltar a sentir com maior profundidade o significado da existência, de encontrar uma maneira de recomeçar a vive, partindo de novas bases, embora saibamos que não será igual ao anterior.

Uma indicação clara vem-nos da experiência que o Papa Francisco nos fez viver com a oração de sexta-feira, 27 de março de 2020 em São Pedro: é necessário regressar com a memória à história vivida entre Deus com homens e mulheres, guardada pelas tradições dos nossos povos, como o Papa nos mostrou diante do Crucifixo numa praça deserta e açoitada pela chuva, para voltar a entender que essa morte nos salvou e nos constituiu a todos irmãos.

Surgem deste ícone extraordinário, que permanecerá para a história, a energia espiritual para responder à crise das muitas faces em que vivemos; Sim, porque é uma crise pessoal, uma crise de relacionamentos, para alguns também uma crise de fé, porque alertam para o aparente afastamento de Deus, crise da comunidade, de um povo e das suas instituições, crise da história e do mundo.

Diante desta crise e no espírito da Quaresma, vivemos este ano de maneira excecional, para o crente há a luz da Páscoa. A morte e ressurreição de Jesus Cristo abrem uma perspetiva de vida que não terá fim e que nos permite olhar com confiança e firme esperança para o futuro.

A Congregação para a Educação Católica deseja expressar a sua proximidade e o seu incentivo a todas as escolas católicas, faculdades eclesiásticas e universidades católicas; em particular, agradece aos Diretores, Reitores, Presidentes, Decanos, Professores e pessoal administrativo e de serviço que, nestes meses, estão a gerir uma grave fadiga, garantindo o desenvolvimento das atividades escolares próprias, através da modalidade do ensino à distância para assegura a “regular” conclusão do ano académico em curso, como indicado na Nota da Congregação, relacionada com os exames e provas equivalentes nas instituições Académicas Eclesiásticas (12 de março de 2020).

Também a UNESCO, tomando em consideração as medidas e intervenções necessárias para enfrentar a grave emergência, retomou um dos objetivos da Agenda Educação 2030, onde se pede para “conceber sistemas educativos mais resilientes e mais reativos perante os conflitos, às desordens sociais e aos perigos naturais, de modo a que a educação continue a funcionar no meio das situações de emergência, durante conflitos e nos períodos que se seguem ”. Infelizmente, o evento repentino não permitiu tempo para uma preparação adequada em todas as instituições, para garantir a continuidade das aulas ou introduzir as transformações necessárias à educação a distância. Desgraçadamente, o evento repentino não nos deu o tempo necessário para uma adequada preparação em todas as instituições, de modo a garantir a continuidade das aulas ou a introdução das transformações necessárias para uma educação à distância.

Da mesma forma, a crise produzida pela pandemia criou uma grave emergência não apenas para instituições escolares e académicas, mas também envolveu diretamente as famílias que, enquanto realizam o seu próprio trabalho, precisam de se adaptar à necessidade de acompanhar os seus filhos que estudam nas casas; e nem todas estão equipadas com as ferramentas informáticas e preparadas para enfrentar a presença contínua das crianças em casa.

Diante desta série de problemas, das quais a primeira é a saúde e todas as precauções tomadas para preservá-la, é necessário, antes de tudo, responder às demandas para concluir regularmente o atual ano académico. Mas, ao mesmo tempo, é necessário considerar o facto de que a situação atual pode continuar e que, portanto, deve ser organizado para o futuro e saber discernir as oportunidades que esta crise nos oferece.

Enquanto vos convidamos a permanecer atentos ao que os Ministérios competentes das escolas e universidades têm para as instituições educacionais de cada país, pedimos a todos que acompanhem e garantam a segurança de crianças e jovens, e que enfrentem com paciência, inteligência e colaboração ativa este momento especial pelo tempo que for necessário.

Para a comunidade de Éfeso, São Paulo escreveu: «Cuidem da vossa conduta (...) sabendo aproveitar bem o momento presente, porque estes tempos são maus (...) encham-se do Espírito Santo (...), dando sempre e por qualquer motivo, graças a Deus, nosso Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo» (cf. Ef 5,15-20). Esta crise pode ser uma ocasião para as instituições académicas católicas de todo o mundo confirmarem o testemunho da sua própria identidade e missão como uma comunidade de fé e caridade.

Com São Paulo, convidamo-vos a renovar a vossa fé no Ressuscitado e a viver em constante vigilância este tempo, usando da melhor maneira possível os dons recebidos por Deus.

O cumprimento pascal que enviamos a todos é o de renovar a nossa fé no mistério da ressurreição do Filho de Deus, que dá sentido e ilumina tudo. Isto leva-nos a abrir os nossos corações e mentes a Deus e aos nossos irmãos com força e determinação, e a investir os nossos talentos neste "tempo presente". Sim porque os crentes não são convidados a viver uma espiritualidade sem corpo e abstrata, mas a aderir à realidade, que precisa ser invadida com luz, fraternidade, alegria e paz.

Feliz Páscoa!

Cidade do Vaticano, 7 de abril de 2020
Giuseppe Card. VERSALDI

Educris|09.04.2020

 



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