«Como educadores somos desafiados a fazer com que a memória permaneça de maneira interpelante», Fernando Moita
Diretor do SNEC marcou presença no programa da Agência Ecclesia e destacou legado do Pontificado do Papa Francisco
Fernando Moita, secretário da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé e diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), afirmou ontem que o “grande desafio dos educadores cristãos” passa agora por “fazer com que a memória do Papa permaneça de forma interpelante”.
“Sabemos o quanto as crianças acompanharam o período de doença do Papa Francisco. Hoje, muitos dos nossos professores e catequistas estão também a ajudar as crianças a compreender que este Papa bom, este velhinho próximo, já não está entre nós, mas o seu exemplo permanece. Este é o desafio de todos nós, enquanto educadores: fazer com que esta memória permaneça de forma interpelante”, afirmou.
Ao longo da sua intervenção nas redes sociais da agência informativa da Igreja Católica em Portugal, Fernando Moita destacou o trabalho realizado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã ao longo dos doze anos de pontificado, salientando a intencionalidade de “construir os diversos recursos sempre a declinar o ‘nós’”.
“O grande desafio que sentimos no SNEC, nomeadamente na catequese e na disciplina de EMRC, passou pela construção de recursos e de ‘catecismos’ que tivessem em conta o ensinamento do Papa, a partir da metodologia. Só nos manuais de EMRC e nos demais recursos, tivemos mais de uma centena de pessoas envolvidas”, explicou.
Para o responsável, o pontificado de Francisco deixa marcas profundas na educação cristã em Portugal, não apenas pelo dom “que foi o Diretório para a Catequese”, mas também pela metodologia que inspirou na forma de trabalhar deste setor.
“A título de exemplo, temos hoje, na contracapa de cada livro de EMRC do ensino secundário, um poliedro inspirado no Papa Francisco. Este poliedro mostra-nos as várias perspetivas. Só há educação completa se todos puderem tocar todas as perspetivas. Já nos manuais do 5.º e 6.º anos, trouxemos para a capa a palavra ‘todos’, que ouso dizer ser um imperativo do Papa Francisco”, afirmou.
Conhecedor da realidade latino-americana, Fernando Moita referiu que vê na Evangelii Gaudium e na Fratelli Tutti as marcas de uma Igreja enraizada na realidade social, política e antropológica dos povos a que se dirige.
“O Papa veio de uma realidade latino-americana, onde vive uma Igreja que conhece a base e é capaz de traduzir Deus. Muito daquilo que, na minha opinião, é injustamente apelidado de forma pejorativa como teologia da libertação, foi — pelo menos na minha experiência — uma teologia nascida numa realidade concreta, refletida, para depois regressar à realidade com um olhar bíblico e cristão. O Papa nasceu e cresceu numa realidade onde a Igreja foi, não poucas vezes, a voz dessas comunidades em tempos de grandes ditaduras”, recordou.
Francisco fez-nos reinventar a nossa maneira de ser cristãos
Na conversa com a jornalista Lígia Silveira, Fernando Moita sublinhou que nomes como “D. Hélder Câmara, o Cardeal Paulo Arns, de São Paulo, e D. Pedro Casaldáliga inspiraram e moldaram o modo de pontificar do Papa Francisco”.
“Este Papa trouxe a dimensão de um Evangelho que se quer encarnado. Lendo os textos do magistério do Papa, identificamos a realidade americana, europeia, africana e oriental, a partir dos mais pobres, dos afastados dos centros de poder e decisão. Francisco, ao escrever e falar, colocava-se no lugar do pobre, e era a partir daí que construía a sua teologia”, afirmou.
Reconhecendo que este é “um momento de sentimentos ambíguos”, Fernando Moita destacou o modo como o Papa Francisco “nos fez reinventar o modo de sermos cristãos”.
“Numa era digital, onde é fácil acompanhar tudo através do ecrã, ver tanta gente no Vaticano para se despedir do Papa é sinal de que este homem, durante os últimos 12 anos, nos fez reinventar a nossa maneira de ser cristãos.”
Pacto Educativo Global: A ousadia de Francisco
Sublinhando que “o pontificado de Francisco teve muitas centralidades”, Fernando Moita centrou-se na “ousadia de Francisco” ao propor “um novo pacto para a educação a nível global”.
“O Pacto Educativo é uma intuição de um grande homem, pedagogo e pastor. Ousou, a nível mundial, propor uma aliança educativa consciente de que essa aliança estava quebrada. Tinha a consciência de que, para transformar o mundo, a educação teria de desempenhar um papel fundamental. Daí o desafio e a coragem com que falou aos jovens universitários, aqui em Lisboa, pedindo-lhes: ‘Não sejais gestores de medos, mas empreendedores de sonhos’.”
A intervenção de Fernando Moita pode ser visualizada a partir do minuto 11:10:15 do programa em que a Agência Ecclesia acompanhou as exéquias do Papa Francisco e apresentou testemunhos dos responsáveis pelos vários serviços da Conferência Episcopal Portuguesa.