«O Papa Francisco despertou-nos para a necessidade de converter as relações», D. António Augusto Azevedo

Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé recorda a figura do Papa Francisco, que apelida de “primeiro catequista da Igreja” e aponta os desafios que a sua partida deixa para a Educação Cristã na Igreja Católica

D. António Augusto Azevedo disse ontem que “a Páscoa do Papa Francisco é um momento importante” para a Igreja e que a “tristeza da sua partida, sendo o primeiro catequista”, deve ser “confortada pela esperança na ressurreição”.

Como responsável pela área da Educação Cristã em Portugal, e num primeiro balanço do pontificado de 12 anos do sumo pontífice, o responsável destaca a importância da Evangelli Gaudium para a Educação Cristã.

“O Papa deixou marca forte em Portugal e estou crente de que soubemos captar, como Igreja portuguesa, a sua intuição e o caminho que foi abrindo. Este documento [ndr. Evangelli Gaudium] desperta-nos para o anúncio do evangelho que deve ter como marca a alegria, na atenção ao outro, e isso é marca indelével do Papa”, desenvolve.

Na área da educação cristã, e para além da “alegria do anúncio”, D. António Augusto Azevedo destaca a mudança de paradigma “de um modelo teórico e centrado no saber académico”, para a necessidade de uma “transmissão da fé que acontece por palavras e sinais, claramente, mas sobretudo se faz pelo testemunho”.

“Por diversas vezes, e em vários documentos e encontros que manteve com catequistas o Papa Francisco transmitiu sempre esta ideia de que o evangelho se anuncia com o acompanhamento pessoal, na lógica da Páscoa e do relato dos discípulos de Emaús. Esse é o aspeto que fica”, considera.

Para o prelado esta “orientação está bem expressa no Diretório para a Catequese” e no “Itinerário que surge na Conferência Episcopal Portuguesa para verter estas intuições e linhas de ação”, completa.

Sobre a escola e a educação D. António Augusto Azevedo destaca a importância “do Pacto Educativo Global”, apresentado pelo Papa e onde se afirma ser necessário “um novo contrato educativo como contributo para a humanidade”.

“O santo padre traz consigo esta preocupação de incutir às novas gerações o desejo por gerar horizontes mais abertos e alargados e onde a fé adquire uma centralidade como valor básico da formação da consciência”.

Assim “a proposta do Pacto surge como consequência da preocupação sentida de gerar uma educação aberta a todos, que recupere a memória e integre as várias dimensões da pessoa., com clara atenção aos valores, ao saber estar, ao conviver, ao crescer bem, ao respeito”, sustenta.

Um Papa que sabia escutar, que fazia da proximidade ministério

D. António Augusto Azevedo foi nomeado bispo auxiliar do Porto em 2016 e indicado para a diocese de Vila Real em 2019. Ao EDUCRSI recorda bem o primeiro encontro que manteve com o Papa Francisco.

“Recordo-me bem dos diversos momentos e, sobretudo do primeiro. O que mais me marcou foi a participação em reuniões de trabalho em Roma e onde o Papa, estando presente, marcava a diferença pelo saber escutar. O que nos pedia ele próprio a testemunhava. Sabia escutar e estava atento a cada pessoa”, recorda.

A “proximidade e a escuta” são “dois aspetos do estar e ser em Igreja que nos deve fazer pensar” e “pode e deve enriquecer no futuro”.

“O papa resumia tudo à necessidade de converter as relações na educação, na igreja, na sociedade pois acreditava profundamente que tudo se joga na relação e proximidade. A partir disto, e das suas consequências vinha a renovação da relação com Deus, do apelo à fraternidade, e a uma fé viva que nos transporta para relações humanas mais fortes, nas vidas das comunidades, nas famílias, na geração de relações novas inspiradas no Ressuscitado”, completa.

Em Roma mais de 45 mil fiéis já rezaram junto ao corpo do Papa Francisco, que permanece em camara ardente na Basílica de São Pedro, até final da próxima sexta-feira.

Francisco vai ser sepultado, a seu pedido, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, no próximo sábado, dia 26 de abril.

Imagem: Papa Francisco no III Congresso Internacional da Catequese 2022

Educris|23.04.2025



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