Formação: «Da hostilidade à hospitalidade», o caso dos refugiados
André Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) agradeceu o “trabalho dos docentes de EMRC” que permitem aos alunos “refletirem e discutirem a realidade” e, por isso, alargar “horizontes” e deixou críticas a uma sociedade e decisores políticos “que tem um discurso distinto da prática do dia a dia”.
Partindo do tema «Da hospitalidade à hospitalidade o diretor do JRS apresentou aos docentes uma panorâmica do mundo no últimos 10 anos e o modo como “a hostilidade é exercida nas fronteiras” e como “todos nós acabámos por aceitar a existência desta violência no outro, um outro que é apresentado sempre como violento e perigoso”.
André Jorge chamou a atenção para a “discrepância entre o discurso teórico” apresentado pelos governantes e aceite acriticamente pela maioria, e “a prática a hospitalidade”.
Para o diretor do JRS o acordo entre a União Europeia e a Turquia mais não é do que “deixar a europa num autentico condomínio privado” atirando para o “exterior as nossas fronteiras” e pagando para “que os refugiados sejam tratados longe dos parâmetros dos direitos humanos que tanto apregoamos”.
O especialista alertou ainda para a existência de “milhares que estando dentro da fronteira europeia” continuam a estar “fora porque não lhe são dadas condições de plena cidadania”.
Olhando para o caso americano André Jorge avisou para o facto do “muro não conseguir parar o fluxo dos refugiados ou dos migrantes” e pediu atenção para “discursos politicamente corretos” que sossegam a “consciência dos europeus”:
“Se nós estivéssemos na Síria, neste momento, e tivéssemos filhos e dinheiro ficaríamos lá? Qual de nós, se estivéssemos em Alepo, não fugiríamos e pagaríamos o que fosse preciso para chegar a um lugar seguro?”, questionou.
Ao propagarmos o “medo dos estrangeiros” estamos a “permitir o florescer das máfias dos migrantes” e não “impediremos a vinda das pessoas”, apenas “mataremos mais”, mas continuarão a vir porque “buscam uma vida digna”.
André Jorge pediu aos docentes para serem formadores de consciência das novas gerações “desconstruindo mitos à volta deste tema”, mitos esses que são contruídos “com base no medo e na desinformação”.
Para o diretor da JRS é importante perceber “que é a miséria, a guerra e a fome” são os construtores de migrações forçadas e não “as máfias que lucram com isso mesmo”. O problema está “na legislação criada que, na prática faz com que quem pede asilo fique num campo de refugiados à espera” fazendo cair “como letra morta a questão da hospitalidade”.
No final da sua intervenção André Jorge alertou para a necessidade de “construirmos em conjunto legislações que permitam a mobilidade” dentro de um quadro que pense “no destino universal dos bens” e “na dignidade do ser humano”.