Formação: “A existência humana no mundo atual”

O professor Américo Pereira trouxe aos docentes o tema “Entre a angustia e a esperança: uma leitura da existência humana na contemporaneidade”.

No início da sua palestra o docente de Filosofia da Universidade de Católica Portuguesa (UCP) começou por mostrar-se contente pela escolha “dos docentes em quererem refletir sobre a angustia”.

Para o docente “as estruturas atuais estão em alteração” e isso faz com que o tema da “angustia esteja também ela em mutação”.

Partindo de uma “perspetiva religiosa” o docente de filosofia tomou como exemplos “o relato do Génesis, o livro de Job e a agonia de Jesus” para abordar as inter-relações entre a angustia e a esperança:

“O ato de criação é um ato de caridade de um Deus que rejubila pelo que vai criando. Não existe angustia na relação de Deus com o Homem. A angustia só surge quando esse se separa de Deus”, afirmou.

Para Américo Pereira este ato de rebeldia, e de “pecado” possibilitou ao ser humano descobrir “o caminho da sua vocação de retorno a Deus”. Deste modo “a angustia torna-se caminho de vocação”.

Olhando para a tradição bíblica o professor da UCP afirmou que a matriz cristã convoca o ser humano à ação:

“Deus convoca o Ser Humano, mas não age na nossa vez. Vemos isso na morte de Jesus. A angustia é assim a condição da liberdade segundo o tempo. No jardim é-se livre com Deus, enquanto se quiser. No tempo exterior é-se livre quando se bebe o conteúdo do cálice que é adequado a cada um. O Cálice, no seu conteúdo é a angustia. A esperança acontece sempre no ato de beber o cálice e se bebe o cálice. A esperança não é uma ilusão psicológica, mas sim um ato. Se alguém tem esperança em ter esperança, espera em vão. A esperança é da categoria do ato”, sustentou.

Na parte final da sua intervenção Américo Pereira afirmou que “o tempo de hoje não tem falta nem de valores nem de religiosidades”. Para o especialista o desafio do mundo atual e o de “perceber sobre que paradigma estamos a gerar e a percecionar os valores”:

“Olhando para a história da humanidade percebemos que a chamada realpolitik ganhou sobre uma perspetiva mais transcendente da valoração da vida. Hoje, num mundo relativista, o importante parece ser o imediato e a força de impor os seus valores. Estes passaram de imutáveis a relativos porque irmanaram os seus avaliadores, finitos, e por isso, tendemos a categorizar os valores pela mesma ordem”.

Para o professor esta tendência provoca mutações ontológicas na conceção de “vida, morte, felicidade, vocação, eutanásia” porquanto fecham o ciclo à transcendência a e reduzem a ação “à imanência”.

 

No final da sua intervenção Américo Pereira chamou a atenção para uma sociedade plena de “religiosidades” e no contributo “das religiões na construção do presente”:

Se há algo que não falta são as religiosidades. O problema está no objeto que constitui o eixo do sentido. Se o atual eixo for efémero tudo o que cria será efémero. E isso faz com que a felicidade tenha prazo de validade. Que esperança num suposto sagrado que é finito? Que esperar senão a morte?”, questionou.

Assim, e olhando para o caso da EMRC, é necessário voltar a olhar para a “esperança de Job” que tem “uma intuição, mesmo perante a imagem de um deus carrasco, de que é Deus a razão da esperança humana”.

“O cristão tem como projeto ser emolo de Deus. Foi para tal que Deus habitou o mundo. É apenas na proximidade a Deus que a angustia pode ser minorada. Perante Deus a angustia cessa. É esta angustia e esta esperança que distinguem o cristão, o mais é nada”, concluiu.



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