Diálogo Religioso

Escrevo este artigo no dia 13 de Maio e não consigo deixar de pensar como as celebrações em torno do milagre de Fátima, apesar de serem das que mais pessoas movimentam no nosso país, são também das mais discutidas. Sem entrar especificamente nas questões que originam tal debate, resolvi dedicar este artigo ao tema do diálogo religioso. De facto, compreender aqueles que hoje “se voltam para Fátima” pode requerer a mesma atitude que se solicita na compreensão de outras confissões religiosas, sejam elas cristãs ou não. Será que aquilo que tem separado as pessoas são suas convicções e valores mais profundos ou apenas a forma e ritual de vivência da sua fé?

Neste espírito relembro que a Igreja tem dedicado muito do seu tempo ao tema do diálogo religioso e que pede, a cada um de nós, que o faça também. Com certeza muitos dos leitores já ouviram falar de ecumenismo. Alguns pensarão que se trata genericamente do diálogo entre as várias religiões, mas, de facto, este nome aplica-se ao conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade específica dos cristãos, quebrada no passado por diversos cismas e ruturas. O Concílio Vaticano II, teve como um dos seus principais objectivos promover esta unidade. O grau de separação difere consoante as Igrejas e confissões religiosas cristãs. Por um lado, as Igrejas Orientais (Ortodoxas), separadas por motivos relativamente externos à fé cristã, conservando as verdades, os sa­cramentos e as estruturas essenciais da Igreja; e, por outro lado, as Igrejas do Ocidente, surgidas com a Reforma Protestante,

muito diferenciadas entre elas e apresentando maiores alterações de ordem doutrinária e disciplinar, embora mantendo em geral como elos de ligação a fé em Jesus Cristo, o amor à Escritura e a prática do Batismo. Para animar e regular a atividade ecuménica da parte da Igreja Católica, João XXIII criou o Secretariado para a União dos Cristãos, que João Paulo II elevou a Conselho Pontifício em 1988.

Outra vertente não menos importante do diálogo religioso é aquele que se dedica às religiões não cristãs. De facto, o diálogo que se estabelece com os irmãos na fé, tendo em vista a edificação mútua, deve alargar-se também aos não crentes em Cristo. O Concílio Vaticano II é ainda hoje conhecido como o concílio do diálogo, destacando-se, de entre os seus documentos a Constituição Gaudium et Spes (diálogo Igreja/mundo), o Decreto Ad gentes (missões) e as Declarações Unitatis redintegratio (ecumenismo) e Nostra aetate (diálogo inter-religioso).

Sónia Neves Oliveira

Gestora


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