Mudar o país ou mudar corações?

Lembrei-me de escrever acerca do tema que mais debate tem gerado no seio da sociedade portuguesa nos últimos dias – as dificuldades que atravessamos na conjuntura macroeconómica e financeira. Não quero aqui falar da “crise” nos seus aspectos técnicos, mas sim numa perspectiva mais pessoal.

Há dias, uma colega comentou comigo ter recebido um mail com a seguinte frase: “Em vez de perguntares o que deve mudar no país, já perguntaste o que deve mudar no teu coração?”. Disse-lhe que me parecia uma frase muito oportuna, mas continuei a conversa, que entretanto chamara já a atenção de vários colegas que estavam nas imediações, solicitando exemplos práticos de mudanças de coração que pudessem ajudar o país a ultrapassar a crise. O silêncio foi a resposta. Todos concordavam que a frase era muito oportuna, mas ninguém conseguia encontrar um exemplo da sua aplicação.

Divaguei um pouco para a questão dos valores que regem a nossa conduta diária, quer seja a nível da empresa, quer seja a nível pessoal. Perguntei quantas pessoas não aproveitam para ir jantar fora, com a família, quando sobra algum dinheiro ao fim do mês. A primeira reação foi dizer que isso não tem qualquer relação com o estado do país porque se trata do dinheiro de

cada família, enquanto o governo da nação passa por pessoas que gerem dinheiro dos outros. Opinei que mesmo os governantes são pessoas, e que os valores das pessoas são (ou deveriam ser) transversais a toda a sua vida. Quando alguém, na sua vida pessoal, não cultiva o valor da solidariedade, dificilmente sabe ser solidário quando se trata de abdicar, por exemplo, de parte da sua fatia do orçamento de estado em prol de outras necessidades que possam ser mais urgentes no país nesse momento.

Escandalizei alguns colegas ao dizer que, na minha forma de ver, os valores cristãos impelem-nos a não esbanjar ou reter qualquer riqueza que temos a mais, sempre que outro, ao nosso lado, necessita dessa riqueza para satisfazer as necessidades básicas.

É a caridade que, ao ser cultivada no mais íntimo do nosso coração, pode mudar as nossas vidas… e quem sabe, vida a vida, mudamos o país e o mundo.

Sónia Oliveira

Gestora


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