O poder do abraço

Final do dia. Na secretária do meu quarto. O quarto a média luz. Abunda o silêncio da noite. Coloco os phones. Playlist. Escolho The tree of life, de Alexandre Desplat. Começo por ouvir Childhood. Está criado o cenário, só falta começar a escrever.

Depois de alguns momentos de escuta, vem-me ao pensamento a conversa com uma colega sobre as dificuldades que os professores têm hoje na gestão da sala de aula: o barulho, agitação, falta de estudo, apatia, etc.

Recordo-me que foi um momento em que escutei mais do que o que falei. A pessoa necessitava de ser escutada, em silêncio. Quanto mais ela falava mais me recordava de uma das atitudes que carateriza a minha terceira filha, a Sofia. Sempre que chega a casa procura o pai ou a mãe para lhe dar um abraço, fazer uma meiguice ou um cafonê. Neste breve momento, cerca de vinte segundos, tudo para, tudo se transforma, tudo adquire um novo sentir e sentido.

Há muito que venho pensando e sentindo, por experiência própria, que os nossos alunos se sentem incompreendidos, carentes, vivem num turbilhão de sentimentos, ideias, emoções, realidades, vivências.

Um simples abraço, por mais breve que seja, tem um poder infindável.

Um simples abraço altera completamente as nossas relações porque é por este que chegamos à partilha, à compreensão, ao diálogo.

Este abraço pode significar simplesmente o verbalizar estou aqui. Estou aqui para te ouvir, para te escutar, para te compreender.

A vida de professor há muito tempo que passou a barreira da relação estritamente professor/aluno.

Hoje somos chamados a fazer a pedagogia do abraço, a fazer caminho com os alunos, vivenciando que o caminho faz-se caminhando, lado a lado.

O poder do abraço não significa companheirismo, porreirismo. Significa entreajuda, partilha, disciplina, afeto, o chamar pelo nome.

Hoje já abraçaste ou foste abraçado? Como te sentiste?

Um forte abraço a todos os que lerem esta crónica.

Bento Oliveira

Professor de EMRC


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