Empresários e gestores também são chamados à santidade

A última crónica foi dedicada ao testemunho do casal Quattrocchi, beatificado por João Paulo II em Outubro de 2001.

Pretendeu-se com esse relato demonstrar que a santidade está ao alcance de estilos de vida atuais e que as pessoas que procuram viver em comunhão com Deus atravessam os tempos de crise com uma força e determinação que não só as faz crescer interiormente como transforma para melhor a vida daqueles que as rodeiam. Relembro que este casal – o primeiro a ser beatificado pelo Igreja – viveu em pleno século XX e, apesar das suas profissões (ela era escritora e professora e ele advogado) sempre encontraram tempo para se dedicar ao voluntariado em favor dos mais carenciados.

Dando continuidade a este esforço de encontrar caminhos de virtude em estilos de vida compatíveis com os dias de hoje, a atual crónica vai ao encontro de Enrique Shaw.


Enrique nasceu em 1921, em Paris, mas desde pequeno foi viver para a Argentina. Estudou num colégio de padres jesuítas, onde teve o primeiro contacto com a fé e, aos 14 anos, ingressa na Escola Naval Argentina. Aos 18 anos, numa visita de Verão a uma biblioteca de Buenos Aires, descobre a Doutrina Social da Igreja, momento decisivo para um posterior abandono da marinha com vista à evangelização do mundo empresarial. Enquanto presidente de grandes empresas sempre defendeu que as virtudes do empresário são: eficácia, energia e iniciativa. Defendia que o empresário deve ser Cristo na empresa e que, para julgar um operário é preciso amá-lo. Em 1946 o Episcopado encarregou-o de organizar, em conjunto com outros empresários, a ajuda à Europa do pós-guerra. Nesse processo acabou por fundar a ACDE Argentina – Associação Cristã de Dirigentes de Empresas – da qual foi o primeiro presidente. Essa associação faz hoje parte da UNIAPAC – União Internacional de Empresários Cristãos – que nasceu na Europa em 1931, por ocasião dos 40 anos da Encíclica Rerum Novarum. A congénere portuguesa da ACDE é a ACEGE

– Associação Cristã de Empresários e Gestores.


Em relação ao casamento tinha um pensamento bastante à frente do seu tempo. Dizia ele: “Deus está contido no amor conjugal. A vida partilhada por marido e mulher floresce, torna-se infinita. É uma oração em comum, uma escola de caridade.” Enrique Shaw casou em 1943 com Cecilia Bunge, com quem teve 9 filhos.


Morreu apenas com 41 anos, vítima de um cancro que lhe fora diagnosticado 4 anos antes. Ainda assim, mesmo nesse período em que a doença lhe limitava os movimentos, Enrique dedicava-se a escrever o seu diário e inúmeros manuscritos, ditava palestras e ajudou a fundar a Universidade Católica Argentina. No final da sua vida, quando tinha de receber transfusões de sangue diariamente, os operários organizavam-se e faziam longas filas para lhe doar sangue.

O processo com vista à sua canonização foi iniciado em 1997, estando já a ser desenvolvido no Vaticano. Se avançar e chegar à fase de canonização, Enrique Shaw poderá vir a ser o primeiro empresário do mundo a ser declarado santo.
Nos tempos atuais em que tantas vezes a economia é apontada como a causadora dos problemas da sociedade, é importante conhecer exemplos de pessoas que, no mundo empresarial, viveram profundamente o mandamento do amor cristão. Também os empresários e gestores são chamados a ser santos.


Sónia Oliveira,
Gestora empresarial


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