Físico Álvaro Balsas, SJ, esteve no Porto a analisar com os docentes de EMRC as relações entre a «Ciência e a Religião»
«Avanço da ciência e recuo de Deus»» foi o tema da conferência proferida pelo padre jesuíta Álvaro Balsas, SJ, físico de formação e docente da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, em Braga.
Em declarações ao EDUCRIS, e à margem dos trabalhos, o conferencista considerou que a história mostra, por vezes, “algumas relações mais complexas entre os dois fenómenos” e uma grande “complementaridade na maior parte do tempo”:
“O tema tem a sua complexidade e é um problema numa sociedade que está marcada pela cultura científica. Esta dificuldade em perceber as duas realidades acontece na escola porque outras disciplinas passaram a ideia de que o cristianismo é uma coisa para outras épocas. Hoje parece que o que não é ‘cientifico’ faz parte do subjetivo e não cabe no dia a dia”, explicou.
O Cristianismo: Um fenómeno conatural à ciência
Perante um certo ceticismo ainda latente e herança do mundo iluminista e do século do cientismo o desafio do cristianismo atual passa por demonstrar que o “cristianismo é conatural à ciência”:
“O cristianismo, ao aparecer, não se uniu às religiões do seu tempo, mas à filosofia. Quando a ideia da razoabilidade entra começamos a pôr ordem no conhecimento do mundo. Primeiro nas universidades e depois no resto da sociedade. A ideia de um mundo dotado de leis próprias é uma ideia que vem da escritura. O cristianismo não escolhe entre as duas. Escolhe as duas: a ciência e a razão”.
Para o docente um dos grandes problemas da atualidade prende-se com “a pobreza simbólica” que existem hoje no mundo” e que não permite ir além do visível:
“Habituámo-nos, em contexto universitário e secundário, a ler apenas a realidade de um modo plano, o do visível. Ignorámos a riqueza da linguagem, de uma realidade que tem várias ‘camadas’. E isso traz ao Humano uma pobreza simbólica muito significativa”.
A importância dos porquês para o progresso Humano
Numa recente entrevista ao Diário de Notícias o químico Peter Atkins, um dos ateístas mais proeminentes da atualidade, afirmou ser a crença “um produto do medo” e ‘garantiu’ a ciência como “única possibilidade para o conhecimento do mundo”. O químico inglês considerou não verdadeiras as “perguntas, iniciadas por um porquê”.
Para o professor de Física português tal afirmação é falsa por que “todos procuramos os porquês” e que isso é sempre legitimo para o conhecimento”:
“Sem porquês nada se investiga. Já Aristóteles o afirmava com as quatro causas. A ciência moderna limitou-se ao «como» mensurável. Mas a realidade é mais ampla. E a ciência, sendo muito válida não abrange o modo constitutivo das coisas. A existência e as leis próprias das coisas já estão aí. As ciências apenas as descobrem, mas não questionam”.
Sobre o afastamento da Ciência do universo religioso Álvaro Balsas, SJ, aponta às “raízes no século XIX com o cientismo e o encanto de se considerar que a ciência iria resolver todos os problemas. Augusto Conte afirmava-o mesmo considerando que o estádio mitológico e metafísico seriam eliminados pela ciência”.
Os desafios do ensino da Religião em contexto escolar: O postulado da Esperança
Numa sociedade tecnocientífica Álvaro Balsas, SJ, considerou que o ensino do fenómeno na escola tem “todo o sentido porque permite abrir a mente das pessoas aos limites da ciência":
"Para que o humano perceba que existe mais conhecimento para além do científico. O conhecimento religioso ajuda-nos a tomar decisões importantes e é vital à vida em sociedade. A ética e a religião explicam-se de maneira simples. Se não tivermos regras éticas entramos em desconfiança. Isso é a falta de fé no outro. Quando falha a fé, matamo-nos. O fenómeno religioso existe por causa da esperança", declarou.
"As sociedades primitivas perceberam cedo que o ‘meu projeto de vida não depende de mim’, em última análise. Posso então ter esperança? Para este mundo daqui ou para o outro, de além? Sem a esperança matamo-nos e desistimos do projeto”, concluiu.
A formação para docentes de EMRC da diocese do Porto foi promovida pelo Secretariado Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas (SDEIE).
Ouça e leve consigo em Podcast, a conferência do físico e Jesuita Álvaro Balsas.
Educris|31.01.2019
Recursos: Áudio:«Cristianismo e Ciência: Avanço da ciência e recuo de Deus?»