Um Teatro e um livro com a EMRC

E se dos conteúdos programáticos da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) pudesse nascer uma peça de teatro desejada pelas crianças do 1º ciclo de duas escolas de Barcelos? Foi isso que aconteceu e vai à cena já nos próximos dias 2, 3 e 4 de junho, com o nome “Lagarta sim, lagarta não”. Um projeto diferente de que fazemos eco neste dia Mundial da Criança. Do trabalho desenvolvido nasce também um livro, com o mesmo nome. Por detrás de tanta criatividade está o docente de EMRC Sérgio Francisco Pinheiro Macedo que nos concedeu uma entrevista sobre este projeto inovador.

Educris: Como surgiu a ideia de fazer teatro nas aulas de EMRC?

Prof. Sérgio: Eu costumo dizer que tenho duas formações que se complementam: a de teologia e a do teatro. E complementam-se porque com as duas aéreas podemos tornar a dimensão de Deus num plano tridimensional que são as tábuas de palco ou a sala de aula. Recorro a esta técnica nas aulas de EMRC uma vez que com elas os alunos podem passar da teoria à prática, podem visualizar, experienciar e viver a realidade do que se abordou. E descobrem muitas vezes que a teoria afinal é prática.

Educris: Durante quanto tempo foi preparado o enredo?

Prof. Sérgio: Durante o mês de outubro os alunos do 1º ano deram largas à imaginação: vivificaram as personagens e criaram os enredos. Tudo numa chuva de ideias soltas que os professores iam desenhando no quadro, visto que os alunos ainda não sabiam escrever. Depois foi só pegar em tudo isso e criar a história (demorou uma hora a escrevê-la, visto o enredo estar tão completo). Assim nasceu a história.

Posteriormente, as frases foram desagregadas do conto e distribuídas arrumadas num canto da folha, os alunos do 1º ao 4º ano deram largas às cores, desvirtuaram conceitos visuais e reimaginaram as palavras sobre outras tonalidades. E no final do mês de novembro tudo estava concluído.

Entregou-se, por fim, tudo à companhia de teatro: “A Capoeira” que nos lançou o desafio de realizar uma peça criada por crianças e feita para elas.

Educris: Qual o papel dos alunos nesta conceção?

Prof. Sérgio: Os alunos são os criadores de tudo. Podem não ter sido eles a escrever o texto (como podiam se não sabiam escrever?) Mas foram eles que lhe deram forma, arte, cor e motivação.

Educris:  Quantos são os alunos e professores envolvidos?

Prof. Sérgio: Na realização do projeto estão envolvidos: 298 alunos, 2 professores.

No apoio económico estão envolvidas: 6 entidades públicas, 20 empresas e 24 pessoas em nome individual.

Educris: Pode desvendar um pouco a peça que vão apresentar?

Prof. Sérgio: A peça começa por desvirtuar o mito que não é numa das pontas do arco-íris que está o tesouro, o tesouro está em algo que vive no arco-íris, mas que ainda desconhece o seu real valor. Assim teremos uma lagarta, uma aranha que faz de mau ladrão (mas só no fim) e um papagaio que afinal só procura companhia. No fundo, a história procura fazer-nos perceber que temos de ser “fortes” e corajosos e sonhadores. Ensina que só se é feliz se formos “únicos”, se perdoarmos e se ouvirmos o que os outros têm a dizer.

Termina por fim anunciando que o amor tem as cores do arco-íris.

Educris: Nas duas escolas quantos alunos frequentam EMRC?

Prof. Sérgio: Nas duas escolas temos 298 alunos. Na EB1 de Oliveira de Castelo temos uma taxa de inscrição de 61%, na EB1 de São Roque temos uma taxa de inscrição de 100%. Com esta atividade queremos chegar a mais alunos já no próximo ano letivo.

Educris: Como surgiu a companhia de Teatro de Barcelos no meio deste projeto?

Prof. Sérgio: Fazendo eu parte da companhia de teatro, sugeri para o plano de atividades uma peça genuinamente criada por crianças e idealizada por elas (desde o cenário, passando pelos figurinos e chegando aos adereços). O desafio foi lançado aos meus alunos, e os do 1º ano aderiram sem reservas… Foi difícil conter tantas sugestões e opiniões pois eles fervilhavam de ideias… É incrível a imaginação das crianças… A companhia de teatro, grata pela colaboração dos alunos, ofereceu cinco espetáculos que serão realizados na escola com a presença de todos os alunos e dos seus pais e demais comunidade que queira participar. Cumprindo-se assim um objectivo da disciplina de: estar na escola, aberta à comunidade…

Educris: Quando será feita a apresentação do livro e da peça?

Prof. Sérgio: A apresentação ocorrerá nos seguintes dias a saber:

Dia 2 de Junho - EB1 de Oliveira do Castelo

9:45 com os alunos e encarregados de educação do 1º ano e comunidade escolar.

11:00 com os alunos e encarregados de educação do 2º ano e comunidade escolar.

14:00 com os alunos e encarregados de educação do 3º ano e comunidade escolar.

15:00 com os alunos e encarregados de educação do 4º ano e comunidade escolar.

Dia 3 de junho - Sala do Aluno da EB2/3 João de Meira

10:00 com os alunos e encarregados de educação do 5º ano e comunidade escolar.

Dia 4 de junho - EB1 de São Roque

11:00 com todos os alunos e comunidade escolar.

Educris: Qual é a história da Lagarta?

Prof. Sérgio: A lagarta é uma personagem que se sente só com as maravilhas do mundo onde vive. Contudo ela não se centra na vitimização. E procurando ter um autodomínio sobre si, sobre o que a aranha lhe vai gritando do seu canto emaranhado e escuro, sobre o medo que tem do papagaio azul que vive na árvore que contém as maçãs… ela acaba por vencer e tornar-se naquilo para que nasceu: ser borboleta. Acaba, por fim, por reconhecer que o verdadeiro tesouro do arco-íris - somos cada um de nós quando sabemos: ser únicos; viver com esperança; ter coragem para vencer as dificuldades. E, sobretudo, ser capaz de agradecer ao outro e de o perdoar.

Educris: Há quanto tempo leciona EMRC?

Prof. Sérgio: Lecciono a disciplina de EMRC desde 25 de novembro de 2004, iniciei na atual escola e nela me mantenho nestes dez anos…

Educris: Porque optou por ser docente de EMRC?

Prof. Sérgio: Porque a proximidade dos conteúdos leccionados na disciplina com os alunos é tremenda. Isso agrada-me: estar próximo dos alunos, de conseguir fazê-los responder eles mesmos às suas perguntas, àquilo que os inquieta. De lhes apresentar caminhos possíveis e acima de tudo que eles vejam que é possível ser feliz “sem adereços ou figurinos”, sendo nós próprios, e genuínos com os outros. Se assim for não falharemos pois somos engenho do amor de Deus.

Educris: Qual o contributo da EMRC na educação das crianças e jovens de hoje numa escola cada vez mais plural?

Prof. Sérgio: Tenho sentido nos últimos anos a pertinência e a motivação com que os alunos abordam as temáticas da religião. Como nunca ninguém se preocupou com isso na sua formação, eles bebem tudo o que se lhe transmite quando se abordam esses temas. Questionam e querem saber… Gostam de saber que o plural é sinónimo de humanidade, e essa é única no universo, tal como o conhecemos. Muitos dizem que aliado à crise económica não deve coexistir um crise de valores… pois então temos de ser nós a incentivar a sua proliferação, mostrar que se pode ser feliz se olharmos o outro. De vermos que também ele foi desenhado para a felicidade e que amar a Deus é fazer o favor de ser feliz. Pois acredito que cada vez mais é possível ser feliz neste mundo. Os meus colegas dizem que sou um optimista, eu pergunto-lhes: como professor de EMRC podia ser outra coisa?



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