Nota Pastoral Sobre o Ensino Religioso nas Escolas - 1983
Mais um ano lectivo está a terminar. Todos procuram ver agora o aproveitamento, nas diversas disciplinas, congratulando-se com os êxitos ou lamentando os fracassos. Um ano, ganho ou perdido, tem sempre importância, quer para o aluno, quer para a família.
Uma disciplina, a de Religião e Moral, parece às vezes não merecer igual atenção, não obstante a sua importância na formação dos alunos das nossas escolas. É precisamente sobre esta disciplina que queremos fazer algumas considerações.
FORMAÇÃO RELIGIOSA - DIMENSÃO FUNDAMENTAL DA EDUCAÇÃO
A formação religiosa nas escolas é uma dimensão fundamental da educação integral dos alunos, como pessoas e como cidadãos. Quando se trata de alunos cristãos, esta formação atinge necessariamente outras dimensões na linha da fé, que não se podem nem desconhecer nem minimizar. Deverão ser os pais, atentos à sua missão e responsabilidade de principais educadores, os primeiros a reconhecerem o valor desta formação; deverão mesmo exigi-la, de modo a garantir nas escolas e em qualquer outra instituição educativa subsidiária, todos os elementos que ajudem os seus filhos a formarem-se como pessoas equilibradas, completas, capazes de enfrentar a vida e de ser úteis à sociedade.
AULAS DE RELIGIÃO E MORAL - UM SERVIÇO AOS ALUNOS, AOS PAIS E À PRÓPRIA ESCOLA
O cuidado das matrículas em relação ao novo ano deverá, assim, ter em conta não apenas a preocupação de garantir uma escolaridade normal, mas também a de aproveitar o mais possível tudo quanto a escola possa proporcionar de educativo. Neste aspecto e sem menosprezar outros elementos, pedimos uma particular atenção para o enriquecimento que pode e deve esperar-se da frequência da Aula de Religião e Moral Católicas.
Esta aula, não por privilégios históricos como por vezes se afirma, mas por fidelidade às nossas raízes e tradições religiosas e culturais, está assegurada, hoje, em todas as escolas primárias, preparatórias, secundárias, de magistério primário e de educadoras de infância. Assim o determina a Concordata entre a Santa Sé e Portugal, confirmada mais recentemente pele Protocolo Adicional de 15 de Fevereiro de 1915.
Respeitando, porém, a consciência e a liberdade religiosa dos pais e dos alunos com mais de 16 anos, a Lei faculta aos mesmos a dispensa dessa aula, desde que expressamente o declarem. Para que se frequente a aula, não se necessita de qualquer declaração, dado que ela faz parte do regime escolar normal.
PROPORCIONAR AOS ALUNOS A CHAVE PARA A SUA FORMAÇÃO E COMPREENSÃO PESSOAL E PARA A RECTA INSERÇÃO NA HISTÓRIA PÁTRIA E DA HUMANIDADE
Ao clarificarem-se, agora, por diploma legal, estas normas concordatárias, que nalguns pontos foram distorcidas por interpretações unilaterais, pretende-se não só a fidelidade ao citado acordo, mas também o proporcionar a todos os alunos, através dos princípios e conteúdos da referida aula, a chave para a sua formação e compreensão pessoal, e também para a sua recta inserção na história pátria e na própria história da humanidade.
Não é possível, por força do rigor científico e da honestidade intelectual, fazer a história do nosso País à margem do Cristianismo, nem ler correctamente a história da humanidade nos últimos vinte séculos, prescindindo de Jesus Cristo e da sua influência na vida dos homens, das instituições e dos povos. Também para os cristãos, a sua própria vida e existência concreta só têm sentido pleno, iluminadas pela fé.
Todos estes acontecimentos de índole religiosa e histórica, têm na formação e instrução sistemática que a escola proporciona, não só um natural cabimento, mas constituem complemento necessário para uma educação, que não se queira mutilada nem mutiladora.
EDUCAR PARA OS VALORES É URGÊNCIA DE UM SISTEMA EDUCATIVO QUE PRETENDA FORMAR HOMENS PARA RENOVAR A SOCIEDADE
A educação dos valores e para os valores, a menos que aceitemos que estes são tão efémeros como as coisas, mas então não lhe poderemos chamar valores, é urgência de um sistema educativo que pretenda formar homens para renovar a sociedade. O contrário será a escola ao serviço dos sistemas e não ao serviço do homem.
É evidente que não deve ser apenas a aula de Religião e Moral a proclamar e a transmitir esses valores perenes e a constituir um espaço de respeito e de promoção do aluno. Numa escola, todos os educadores que estejam inteiramente livres e tenham perspectivas humanas na sua própria vida, serão libertadores e testemunhas de tais perspectivas, quaisquer que sejam as disciplinas que ensinem. Só assim, aliás, se poderão chamar mestres ou docentes.
Desejamos, porém, que a Aula de Religião e Moral seja, de modo inequívoco, um Contributo permanente, válido e sério, em ligação com todos os outros, para que os alunos se abram cada vez mais à sua verdadeira dimensão humana, espiritual e social, e as escolas à sua missão específica de verdadeiras e insubstituíveis instâncias educativas.
APELO À COLABORAÇÃO EMPENHADA DE TODA A COMUNIDADE ESCOLAR
Tudo isto nos leva, ao mesmo tempo que assumimos conscientemente as responsabilidades que nos estão confiadas, a fazer alguns apelos, tendo sobretudo em vista o bem dos alunos.
Aos pais e muito especialmente aos pais cristãos, pedimos que tomem consciência da sua responsabilidade de educadores, colaborem e aceitem a colaboração que a Igreja lhes dá no campo escolar, através da Aula de Religião e Moral, começando logo por não pedir a dispensa da mesma aula para os seus filhos, a não ser por motivo de consciência.
Aos responsáveis das escolas , conhecendo e lamentando embora, as dificuldades com que tantas vezes trabalham, que proporcionem na medida do possível, os espaços e os tempos necessários e adequados às aulas de Religião e Moral, não só pelo que tais aulas, por si mesmas, exigem, mas até porque a experiência mostra, de norte a sul, que sendo assim é toda a escola que beneficia.
Aos professores de Religião e Moral , pedimos que não se poupem a esforços para dignificar a aula, se actualizem e, a partir dela e do seu trabalho na escola, cultivem para com os alunos e professores, o diálogo, o acolhimento e a disponibilidade. Todos têm direito a esperar isto mesmo dos professores de Religião e Moral como enviados que são da Igreja. Pela nossa parte, continuaremos a envidar todos os esforços para que disponham, cada vez mais, da preparação e qualificação adequadas e sejam reconhecidos os seus direitos.
Aos alunos , para os quais existe a escola e ao serviço dos quais estão todos os agentes do ensino, confiando na sua capacidade e generosidade, pedimos que, por razões de mera comodidade ou por influências exteriores, não deixem a aula de Religião e Moral. Sejam participativos e exigentes. Utilizem-nas como ponto de partida para outras iniciativas que os empenhem em actividades e tarefas que, tanto no campo social como no campo apostólico lhes garantam uma preparação séria para uma vida e um futuro, que não se lhes apresenta fácil.
De toda esta colaboração de uma comunidade escolar empenhada, algo se pode esperar de positivo. Com a sua presença institucional nas escolas através da aula de Religião e Moral, e a partir dela, nada mais pretende a Igreja senão servir os nossos jovens, os seus pais e a própria escola, na certeza de que é este um serviço verdadeiramente útil e necessário à nossa sociedade.