Retrato 7 Fev. 2013
Eram 7h30 da manhã, uma manhã cinzenta.
Como cinzento era o fato do Menino.
Eu tinha pressa, esquecera-me de pôr o saco do pão e o padeiro não tocou.
Não tinha pão, urgia correr, pois a carrinha do colégio não esperava.
Por isso apressei-me, desci a escada e foi então que deparei com a criança cujo as vestes eram cinzentas como o dia.
Devia ter 6 a 7 anos magro estava de costas, de joelhos no chão rebuscava, rasgava e espalhava o lixo.
- Que fazes?
- Perguntei.
- Trabalho.
E foi então que eu vi na mão da criança um balde sujo onde metia os restos de comida, as cascas das batatas, dos legumes da fruta.
Senti o frio da manhã, um frio que entrou em mim e me gelou a alma.
Perguntei-lhe:
- Tens fome?
- Não,
Tenho pressa.
A camioneta do lixo está quase a passar e você já me fez perder 3 casas!
Olhei estupefacta e vi mais 3 crianças disputando o lixo da minha Rua.
O lixo, meu Deus!
E chamam-se crianças, moram num bairro de lata mas em vez de fome,
tem pressa!
Outubro, 1974
Isabel Viegas Tavares
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