Mundo: Precisamos de uma «reconversão ecológica», afirma o Papa Francisco

Francisco lembra pandemia e destaca o hoje da história como «um momento importante de discernimento»

O Papa Francisco enviou hoje uma mensagem aos participantes do Fórum Europeu «The European House-Ambrosetti» que se realiza em Cernobbio, Itália e que analisa os “desafios criados e agravados pela atual emergência médica, económica e social”.

“A experiência da pandemia ensinou-nos que ninguém se salva sozinho. Experimentámos, em primeira mão, a vulnerabilidade da condição humana que faz de todos uma família. Vimos como cada uma das decisões individuais afeta a vida dos nossos semelhantes, ao nosso lado e os que vivem do outro lado do mundo", afirma o Papa na missiva.

Francisco lembra que a pandemia “nos levou a reconhecer uma pertença comum, como irmãos e irmã que habitam uma casa comum” e “obrigou-nos a experimentar a solidariedade no sofrimento”:

As Lições do Covid-19: Um tempo de discernimento

Na mensagem o Papa apontou uma “série de lições” que a pandemia trouxe consigo e destacou a "importância do discernimento" para um futuro melhor.

“Este momento mostrou-nos a grandeza da ciência e os seus limites. Trouxe à luz do dia uma escala de valores que coloca o dinheiro e o poder à frente de tudo. Ao obrigar a que todos permanecêssemos em casa fez-nos mais conscientes das alegrias e dificuldades das nossas relações. Fez-nos abstermo-nos do supérfluo e concentramo-nos no essencial. Derrubou os pilares que sustentam um determinado modelo de desenvolvimento. Perante um futuro que parece incerto e pleno de desafios no plano social e económicos, empurrou-nos a dedicar um tempo de discernimento acerca do que é duradouro ou fugaz, do que é necessário e do que não é”, sustentou.

Recuperar o significado e a importância da economia

Aos participantes do Fórum o Papa lembrou que é fundamental recuperar “o sentido mais profundo da economia”, enquanto “governo do nosso lugar terreno” de modo a que possa renascer a ideia de uma “reconversão da economia que deve ser expressão de um cuidado e de uma preocupação que não exclua mas inclua, que não rebaixe mas que trate de elevar e dar vida”.

“Um cuidado e uma preocupação que se negue a sacrificar a dignidade humana aos ídolos das finanças e que não dê lugar à violência e à desigualdade. Que utilize os recursos financeiros não para dominar, mas para servir”, afirma o Papa argentino citando o número 53 da exortação apostólica Evangelii Gaudium.

Um discernimento baseado na conversão e da criatividade

Francisco reafirma o momento presente como “um tempo de discernimento à luz dos princípios da ética e do vem comum”.

“Jesus ensinou-nos que são necessárias duas coisas para o discernimento. A conversão e a criatividade. Precisamos experimentar uma conversão ecológica para parar o nosso ritmo inumano de consumo e produção e aprender uma vez mais a entender e contemplar a natureza”, afirmou.

Para o Papa a criatividade deve levar a humanidade a atuar “como artesãos procurando novas formas de procurar o bem comum de um desenvolvimento humano integral”.

Francisco exorta a “uma necessária reconversão da formação” de “economistas e empresários”.

“É importante investir nos jovens que serão os protagonistas da economia do amanhã. Precisamos formar homens e mulheres que se coloquem ao serviço da comunidade e da criação de uma cultura de encontro”.

Momento para uma nova liderança Europeia

Lembrando os 70 anos da Declaração Schuman, que deu início à Europa como a conhecemos hoje, o Papa deixou alguns pressupostos para um futuro programa europeu.

“Hoje, mais do que nunca, a Europa é chamada a mostrar a sua liderança no esforço criativo para sair do cerco do paradigma tecnocrático aplico à política e à economia. Este esforço criativo dever ser de solidariedade, o único antidoto contra o vírus do egoísmo, um vírus mais potente que o Covid-19”.

“A pessoa humana deve ocupar o lugar que lhe corresponde no centro das nossas políticas educativas, sanitárias, sociais e económicas. As pessoas devem ser acolhidas, protegidas, acompanhadas e integradas ao bater às nossas portas na procura de um futuro de esperança”, concluiu.

 Educris|05.09.2020



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