Moçambique: Populações em pânico fogem após novo ataque no norte do país

Religiosas no território revelam “situação preocupante” e possível tomada de controlo do território pelos jihadistas

Desde a madrugada de sábado que grupos fortemente armados atacaram Mocímboa da Praia, causando o pânico e levando à fuga das populações. A Irmã Graça António Guitate, das Filhas do Imaculado Coração de Maria, confirmou à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) o início do ataque. “Sim, às 5 horas, eles atacaram a vila de Mocímboa da Praia."

Os relatos vindos da região apontam para confrontos violentos entre exército e os grupos terroristas. De acordo com a religiosa os combates terão durado essencialmente “até ao meio-dia” e terão causado muitas baixas entre os militares. “Não se fala em muitas infraestruturas danificadas, mas sim conta-se que morreram muitos militares moçambicanos”.

Este confronto é considerado como o mais significativo em Cabo Delgado desde a ocupação pelos grupos armados, que se afirmam ligados ao Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico, da vila de Mocímboa da Praia entre os dias 28 e 30 de maio.

Horas antes deste ataque ter ocorrido, a irmã Graça assim como a irmã Joaquina, ambas pertencentes à Congregação das Filhas do Imaculado Coração de Maria, descreviam já em mensagens diversas “um ambiente de caos humanitário na região de Pemba”, para onde se têm dirigido milhares de pessoas por causa dos ataques dos jihadistas.

“Os ataques têm sido algo cada vez pior aqui na nossa província, e os missionários nessa zona norte, nomeadamente de Palma, Mocímboa da Praia, Nangade, Mueda, Muidumbe, Macomia, Meluco, Quisanga e Ibo já abandonaram as missões”.

Em 2017, no princípio dos ataques, “parecia que o interesse [dos grupos armados] era mais a zona norte da província… hoje percebe-se que eles querem tomar toda a província porque já estão a alastrar-se para sul de Cabo Delgado”, revela uma religiosa citada pela AIS.

A situação de violência em Cabo Delgado, que já provocou centenas de mortos e mais de 200 mil deslocados, foi um dos temas principais da reunião da Conferência Episcopal de Moçambique entre os dias 9 e 13 de Junho.

Os prelados falam em “atrocidades” e em “actos de verdadeira barbárie” e pedem “uma resposta urgente a esta tragédia”. No documento final, os bispos agradecem o espírito solidário de todos os que têm vindo a acolher as populações em fuga.

A crise humanitária que se está a viver em Cabo Delgado e que é consequência dos ataques de milícias jihadistas, já mereceu palavras de solidariedade do Papa Francisco no Domingo de Páscoa.

Os deslocados são uma prioridade para a Igreja que está “fortemente empenhada no apoio a todas estas pessoas que, tendo fugido das aldeias e vilas por causa dos ataques dos grupos jihadistas, estão agora de mãos vazias, dependendo totalmente na ajuda fornecida pelas autoridades e pela diocese, através da Caritas local.

Educris|28.06.2020



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