Audiência-geral: O verdadeiro significado de «Não matar»

Catequese sobre o quinto mandamento marcada pelo pedido do Papa aos cristãos para "não falarem mal de ninguém porque o falar mal ou o desprezar o outro é, em si, um assassínio".

Leia, na íntegra, a catequese do Papa Francisco na audiência-geral desta manhã na praça de São Pedro, no Vaticano.

 

Catequese sobre os Mandamentos, 10 / B: "Não matar" segundo Jesus

 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de continuar as catequeses sobre a quinta Palavra do Decálogo: "Não matar". Já sublinhámos como este mandamento revela que, aos olhos de Deus, a vida humana é preciosa, sagrada e inviolável. Ninguém pode desprezar a vida dos outros ou a sua; de facto, o homem carrega dentro de si a imagem de Deus e é objeto do seu amor infinito, qualquer que seja a condição em que foi chamado à existência.

Na passagem do Evangelho que acabámos de escutar, Jesus revela-nos um sentido ainda mais profundo deste mandamento. Afirma que diante do tribunal de Deus, até a raiva contra um irmão é uma forma de homicídio. É por isso que o apóstolo João escreve: «Quem odeia a seu irmão é homicida» (1 Jo 3,15). Mas Jesus não se confina a isto, e nesta mesma lógica ele acrescenta que o insulto e o desprezo também podem matar. E nós estamos habituados a insultar, é verdade. E vê-se o insulto como se fosse uma respiração. E Jesus diz-nos: «Parai, porque o insulto faz mal, mata». O desprezo. "Mas eu... Essas pessoas, eu desprezo-as". E esta é uma forma de matar a dignidade de uma pessoa. Seria bom se este ensinamento de Jesus entrasse na mente e no coração, e cada um de nós disse-se: "Nunca mais insultarei ninguém". Seria um belo propósito, porque Jesus diz-nos: "Olha bem, se tu desprezas, se tu insultas, se tu odeias, isto é homicídio”.

Nenhum código humano equipara estes atos diferentes, atribuindo-lhes o mesmo grau de julgamento. E coerentemente, Jesus convida-nos a interromper a oferta do sacrifício no templo, se nos lembrarmos de que um irmão está ofendido contra nós, para procurá-lo e reconciliarmo-nos com ele. Nós também, quando vamos à missa, devemos ter esta atitude de reconciliação com as pessoas com as quais tivemos problemas. Mesmo que tenhamos pensado mal deles, insultando-os. Mas, muitas vezes, enquanto esperamos que o padre venha para se dar início à missa, falamos um pouco e dizemos mal dos outros. Isto não pode ser feito. Pensemos na gravidade do insulto, do desprezo, do ódio: Jesus coloca-os na mesma linha do assassínio.

O que que Jesus dizer com a extensão do significado da Quinta Palavra até este ponto? O homem tem uma vida nobre e muito sensível, e possui um eu oculto não menos importante que o seu ser físico. De facto, para atentar contra a inocência de uma criança basta uma frase inoportuna. Para ferir uma senhora pode bastar um gesto de frieza. Para destruir o coração de um jovem é suficiente negar-lhe a confiança. Para aniquilar um homem, basta simplesmente ignorá-lo. A indiferença mata. É como dizer a outra pessoa: "Tu estás morto para mim", porque tu já o mataste no teu coração. Não amar é o primeiro passo para matar; e não matar é o primeiro passo para amar.

Na Bíblia, ao início, lemos aquela frase terrível que saída da boca do primeiro homicida, Caim, depois de o Senhor lhe ter perguntado onde estava o seu irmão. Caim responde: »Eu não sei. Sou porventura guarda do meu irmão?» (Gn 4,9). [1] Assim falam os assassinos: !isso não me diz respeito", "eles de facto seus" e coisas semelhantes. Vamos tentar responder a esta pergunta: somos os guardiões dos nossos irmãos? Sim, nós somos! Somos guardiões uns dos outros! E este é o caminho da vida, é o caminho do não-matar.

A vida humana precisa de amor. E o que é amor autêntico? É o que Cristo nos mostrou, isto é a misericórdia. O amor que não podemos prescindir é aquele que perdoa, que acolhe aqueles que nos prejudicaram. Nenhum de nós pode sobreviver sem piedade, todos nós precisamos de perdão. Então, se matar significa destruir, suprimir, eliminar alguém, então não matar significa curar, valorizar, incluir. E também perdoar.

Ninguém se pode enganar a si mesmo pensando: "Estou bem porque não faço nada de errado". Um mineral ou uma planta tem esse tipo de existência, mas um homem não. Uma pessoa - um homem ou uma mulher - não. Um homem ou uma mulher tem necessidade de mais. Há o bem a fazer, preparado para cada um de nós, cada um o seu, que nos cabe até ao fim. "Não matar" é um apelo ao amor e à misericórdia, é um chamamento para viver de acordo com o Senhor Jesus, que deu a sua vida por nós e ressuscitou para nós. Uma vez todos nós repetimos, aqui na praça, uma frase de um santo sobre isto mesmo. Talvez nos ajude: "Não fazer o mal é coisa boa. Mas não fazer o bem não é bom”. Devemos sempre fazer o bem. Andar ao outro, adiante.

Ele, o Senhor, que encarnou, santificou a nossa existência; Ele, que com o seu sangue tornado inestimável; Ele, "o autor da vida" (At 3,15), graças ao qual todos somos um presente do Pai. Nele, no seu amor mais forte do que a morte, e no poder do Espírito que o Pai nos dá, podemos acolher a Palavra "Não matar", como o apelo mais importante e essencial, isto é, não matar significa um chamamento ao amor.

Tradução Educris a partir do original em italiano

17.10.2018



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