Cerca de 400 mil crianças estão em “risco de morrer” de fome na República Democrática do Congo, especialmente as que se encontram na região de Kasai no centro do país
O alerta vem da Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, que no mais recente relatório refere que estas 400 mil crianças representam apenas uma pequena parte dos 3,8 milhões de habitantes que precisam urgentemente de ajuda humanitária no país.
A região de Kasai, onde o problema da fome é mais agudo, era uma das mais ricas da República Democrática do Congo até à erupção, em 2016, de violência entre milícias tribais e forças governamentais.
Como consequência, registou-se também desde então o alarmante recrutamento de milhares de crianças por grupos armados.
Fatoumata Ndiaye, subdirectora executiva da Unicef, não tem dúvidas em afirmar que “o conflito e o deslocamento continua a ter consequências devastadoras para as crianças na região do Kasai”.
A par deste grave problema, a República Democrática do Congo está a lidar também com um surto de Ébola. Segundo dados da Organização Mundial de saúde, nas últimas cinco semanas registaram-se 39 casos que provocaram já 18 mortes.
Além deste cenário de grave crise humanitária prossegue, neste país africano, um clima de violência e perseguição contra a Igreja Católica.
No passado mês de Abril, um sacerdote foi assassinado por milícias armadas. Já em Março, a Igreja local sobressaltou-se com a notícia do assassinato do Padre Florent Tula, que, tal como a Fundação AIS então afirmou, estaria “muito envolvido” na mobilização dos fiéis na contestação ao presidente Joseph Kabila e “foi encontrado morto perto do rio Kasai, em Ilebo, na província de Kasai Ocidental”.
Ainda nesse mês de Março, recorde-se, um seminarista comboniano enviou directamente para a sede da Fundação AIS em Portugal um relato dramático da violência no Kivu Norte, onde “muitas famílias foram massacradas”. O testemunho que Eugène Muhindo Kabung, seminarista em Kinsangani, enviou para Lisboa revelava uma situação dramática.
“É horrível, é mesmo um genocídio o que se está a passar na província do Kivu Norte e em particular nas cidades Beni-Lubero de onde sou natural: massacre de populações, violações de mulheres e crianças, raptos de crianças para fazer delas crianças-soldados. Desde 2009, este fenómeno aumenta de dia para dia. Desde então, vive-se autênticas barbaridades, onde muitas famílias foram massacradas e outras encontram-se num estado de pobreza e luto.”
Todos estes casos são um sinal claro também da enorme tensão que existe neste país com a Igreja a assumir um papel profundamente crítico face ao chefe de Estado Joseph Kabila, cujo mandato terminou em Dezembro de 2016.
Educris|21.05.2018