Sessão de formação reuniu responsáveis católicos da EMRC, escutismo e pastoral Juvenil.
«As questões de género e os desafios pedagógicos em contexto educativo» reuniu hoje, 6 de julho, em Fátima mais de uma centena de agentes educativos da Igreja.
A iniciativa, promovida pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) em parceria com o CNE e a Pastoral Juvenil pretendeu ser momento “de diálogo com o Ministério da Educação português representado por João Costa, secretário de Estado da Educação.
No início da sessão formativa D. António Moiteiro, Bispo de Aveiro e presidente da CEECDF justificou a presença da Igreja neste debate pelo papel que tem na educação das novas gerações:
“Este encontro surgiu de uma reunião entre a secretaria de estado da educação e a Comissão Episcopal da Educação Cristã. Nessa altura o secretário de estado da educação chamou-me a atenção para o número crescente de alunos que na sua experiência humana são vítimas de bulling pela diferença que apresentam para os demais. Apresentou-me, inclusive, dados referentes a suicídios que decorrem destas situações humilhantes e traumáticas”.
Para D. António Moiteiro “a Igreja, presente no mundo da educação, formal e não formal, tem como missão ajudar neste caminho de respeito pela dignidade de cada um e na educação do ser humano”.
Discriminação de género em Portugal: números que nos envergonham
O secretário de estado da educação, João Costa, apresentou aos agentes educativos vários dados relevantes e apresentou as razões para a presença “das questões de género na formação da cidadania dos jovens e o porquê da preocupação do estado perante esta realidade”:
“Não vale a pena pensar que um individuo está completo na sua formação se não abarcar todas as dimensões do humano, e isso implica, também, uma educação em valores”.
Para o governante pensar que “a escola serve apenas para instrução, no sentido estrito”, é um “modelo clássico e bastante eficaz numa escola não democrática” mas hoje “a escola existe para todos, mesmo para os que não tem pais e por isso as fronteiras entre o que é educação formal, não formal ou informal torna necessária uma intervenção na escola”:
“Hoje a escola funciona muitas vezes não como um elevador social mas como um lugar de descender. A Escola deve servir para formar cidadãos felizes, com um corpo de conhecimento alargado”, apontou.
João Costa apresentou dados concretos de desigualdades de género em Portugal considerando “anti-democrático o modo como se continua a tratar o diferente em diversos contextos e dimensões”:
"Hoje temos uma grande quantidade dos jovens que considera normal a violência no namoro. Existem, ainda, demasiadas mortes por violência doméstica. As discriminações perante o diferente levam, não poucas vezes, ao isolamento das pessoas e ao suícidio".
Cristianísmo: Máximo respeito pela dignidade da vida Humana
Presente na formação o Bispo do Porto, D. Manuel Linda, situou os presentes sobre «questões de género à luz da antropologia cristã» e considerou como estanto na base do ser cristão "a defesa da dignidade de todo o ser humano em qualquer situação”:
“O cristianismo trouxe às sociedade a ideia do respeito pelo outro, por aquele que é igual, pelo irmão. Isso mesmo vemo-lo em Jesus e é Ele que nos deve continuar a ajudar hoje no acompanhmento que fazemos ao Outro em todas as situações”.
Para o Bispo do Porto as “questões do género são importantes na construção de uma sociedade mais justa e humana”:
“Devemos denunciar sempre discriminações de género porque isso é a base do próprio ser cristão. Não podemos considerar sequer aceitável ou eticamente desculpável a violência doméstica, por exemplo”.
D. Manuel linda alertou, no entanto, para o perigo da “ideologia de género” num processo educativo:
“A ideologia de género procura, ao longo dos últimos cem anos, alterar todas as nossas conceções das dimensões do humano e do tradicional binómio homem-mulher procurando menosprezar o dado biológico e cientifico”.
O prelado elencou as diversas alterações provocadas pela ideologia de género ao ponto de hoje se considerar, dentro desta ideologia, “que o dado genético não é relevante mas sim o pensamento sobre o que cada um pensa ser”.
Para D. Manuel Linda a “vergonha que é a discriminação de género” e o modo “como a sociedade ainda não consegue ajudar estes seres humanos” não se resolve “colocando todos ao mesmo nível ou esbatendo a questão biológica no ser humano”.
“Parece que para os defensores da ideologia de género a vida só é vida quando é gozada ao máximo sem qualquer tipo de limite”.
No final o Bispo do Porto pediu aos responsáveis católicos “olhar atento para o perigo da ideologia de género” e “luta efetiva por uma igualdade de género de todos os portugueses e portuguesas”.
O projeto de Educação para a cidadania
Hoje mesmo o Diário da Republica publicou o Decreto-Lei 55/2018. O documento apresenta novidades, como a possibilidade da lecionação de EMRC nos cursos artísticos e profissionais e cria uma nova área curricular sob o nome de «Educação para a cidadania».
João Costa reconheceu no encontro com os agentes educativos católicos, que a nova disciplina “não substitui o dado religioso e moral na escola” mas pretende “ser abrangente e fazer com com que se fale de assuntos fraturantes”:
“No ano passado a experiência da área de cidadania funcionou em piloto em muitas escolas e foi com muito interesse que verificámos que numa grande maioria das escolas a coordenação da cidadania foi dado, pelos pares, ao docente de EMRC. Isto é um reconhecimento da Escola, e dos demais professores, do papel do professor desta disciplina no tratamento destas matérias, fundamentais para a construção do ser humano”, sustentou João Costa.
N final do encontro o Secretário de Estado disse que o estado conta com os agentes educativos católicos “na sua ação em contextos diversos”, para continuar “a ajudar os mais novos a fazer caminho, na descoberta de si e do seu lugar na sociedade” procurando “sempre o máximo respeito pela dignidade humana”.
Educris|07.07.2018