Papa Francisco: «Evangelizadores são como anjos», hoje

Papa Francisco encontrou-se com agentes de pastoral e evangelização e desafiou-os a serem como "anjos que anunciam o Senhor na manhã de Páscoa", não tendo "medo de errar" e procurando ser "criativos" na certeza "de que o Espírito Santo vai adiante do nosso trabalho".

Leia na íntegra, e em Português, a alocusão do Santo Padre.

Discurso do Santo Padre aos Participantes do Encontro Internacional «A Igreja em Saída». Receção e perspetivas da Evangelli gaudium»

 

Queridos irmãos e irmãs,

nestes dias viestes muitos, de várias partes do mundo, para retomar a Evangelii Gaudium. Agradeço-vos, pois, e também a D. Fisichella pelas suas palavras e pelo trabalho que tem vindo a realizar. Tenho a certeza de que levareis com entusiasmo os frutos destes dias para vossas casas.

Gostaria de vos dizer com muita simplicidade: a alegria do Evangelho nasce do encontro com Jesus e é quando encontramos o Senhor que somos inundados por este amor do qual somente ele é capaz. Então, «quando permitimos que Deus nos conduza além de nós mesmos», a vida muda e «alcançamos o nosso verdadeiro ser. Aí reside a fonte da ação evangelizadora» (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 8). Porque, neste ponto, a necessidade do anúncio surge espontaneamente, e torna-se irreprimível, mesmo sem palavras, com o testemunho. Assim começou a evangelização, na manhã da Páscoa, com uma mulher apóstola, Maria Madalena, que, depois de encontrar Jesus ressuscitado, o Vivo, evangelizou os apóstolos. Estava junto ao túmulo de Jesus com tantos sentimentos tristes no coração: o medo da perda do Mestre era acompanhado pelo medo do futuro e pela perda da suposta violação do túmulo. Mas o seu choro transformou-se em alegria, a sua solidão em consolo depois de ter encontrado em Jesus o amor que nunca desilude, que não abandona nem mesmo diante da morte, que dá força para reencontrar o melhor de si. É verdade para todos: «a nossa tristeza infinita é curada apenas com um amor infinito» (ibid., 265).

A experiência de tantas pessoas hoje não está longe da de Maria Madalena. A saudade de Deus, de um amor infinito e verdadeiro, está enraizada no coração de toda a espécie humana. É preciso alguém para ajudar a reavivá-la. São necessários anjos que, como no caso de Maria Madalena, tragam a Boa nova: anjos em carne e osso que se reúnam para enxugar as lágrimas, para dizer em nome de Jesus: «não tenhais medo» (cfr. Mt 28: 5). Os evangelizadores são como anjos, como anjos da guarda, mensageiros do bem que não dão respostas prontas, mas compartilham as questões da vida, as mesmas que Jesus dirigiu a Maria chamando-a pelo nome: «Quem procuras?» (João 20,15). Quem tu procuras, não o que procuras, porque as coisas não chegam para viver; para viver precisamos do Deus do amor. E se, com esse nosso amor, soubéssemos olhar para o coração das pessoas que, por causa da indiferença que respiramos e do consumismo que nos achatam, geralmente passam por nós como se nada tivesse acontecido, poderíamos ver primeiro a necessidade desse Outro, a busca por um amor que dura para sempre, a pergunta sobre o sentido da vida, sobre a dor, sobre a traição, sobre a solidão. São preocupações diante das quais receitas e preceitos não são suficientes; precisamos caminhar, precisamos de caminhar em conjunto, fazer companheiros de viagem.

De facto, quem evangeliza nunca pode esquecer que está sempre em movimento, buscando juntamente com os outros. Portanto não pode deixar ninguém para trás, pois não pode dar-se ao luxo de manter à distância aqueles que se arrastam, fechando-se no seu grupo de relacionamentos confortáveis. O proclamador não procura escapar do mundo, porque o seu Senhor amou o mundo ao qual se entregou, não para condenar, mas para salvar o mundo (Cfr. Jo 3, 16-17). Quem anuncia realiza o desejo de Deus, que espasma aqueles que estão distantes. Ele não conhece inimigos, apenas companheiros de viagem. Ele não permanece como professor, sabe que a busca por Deus é comum e deve ser compartilhada, que a proximidade de Jesus nunca é negada a ninguém.

Queridos irmãos e irmãs, não vos retenha o temor de cometer erros e o medo para percorrer novos caminhos. Na vida todos nos enganamos, todos. Isso é normal. Não existem prioridades a serem colocadas antes do anúncio da ressurreição, o kerygma da esperança. A nossa pobreza não é um obstáculo, mas um instrumento precioso, porque a graça de Deus gosta de se manifestar na fraqueza (Cfr. 2 Cor 12, 9). Precisamos de nos confirmar com uma certeza interior, na «convicção de que Deus pode agir em todas as circunstâncias, mesmo no meio de aparentes falhas» (ibid., 279). Precisamos realmente acreditar que Deus é amor e, portanto, nenhum trabalho realizado com amor, nenhuma preocupação sincera com os outros, nenhum ato de amor a Deus, nenhum esforço generoso, nenhuma paciência dolorosa é perdida (Cfr. ibid.). Precisamos, para espalhar a mensagem, de ser simples e ágeis como nos Evangelhos da Páscoa: como Maria, que mal pôde esperar para dizer aos discípulos: «Eu vi o Senhor» (Jo 20,18); como os apóstolos, que correm para o sepulcro (Cfr Jo 20, 4); como Pedro, que mergulha do barco em direção a Jesus (Cfr Jo 21, 8). Precisamos de uma Igreja livre e simples, que não pense em retoques de imagem, conveniências e receitas, mas que esteja em saída. Alguém disse que, para ser fiel, a verdadeira Igreja de Jesus dever estar sempre em déficit orçamental. Isto é bom: o déficit.

Pensemos nos primeiros cristãos, que tinham todos contra eles, foram perseguidos e, no entanto, não reclamaram do mundo. Ao ler o Novo Testamento, vemos que eles não estavam preocupados em defender-se contra um império que os matava, mas em anunciar Jesus, mesmo com o custo da sua vida. Portanto, não nos deixemos entristecer por coisas que não acontecem, por fadigas, mal-entendidos, coscuvilhices, não: são apenas pequenas coisas diante da «sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor» (Cfr Filipenses 3: 8). Não nos deixemos infetar pelo derrotismo de que tudo é mau: não é o pensamento de Deus, e os tristes não são cristãos. O cristão sofre muitas vezes, mas não cai na profunda tristeza da alma. A tristeza não é uma virtude cristã. A dor sim. Para não sermos roubados do entusiasmo do Evangelho, invoquemos o autor, o Espírito Santo, o Espírito de alegria que mantém vivo o ardor missionário, que faz da vida uma história de amor com Deus, que nos convida a atrair o mundo apenas com o amor, e descobrir que a vida se possui apenas no dar-se. Se tivermos a capacidade de na pobreza nos darmos, teremos a capacidade de nos despojarmos a nós mesmos. E também com a surpresa, o turpor de ver que antes de chegarmos, há o Espírito Santo que já chegou e está lá à nossa espera.

Agradeço sinceramente pelo bem que dais. E abençoo-vos pedindo-vos que ores por mim. Obrigado.

Tradução Educris a partir do original em italiano

01.12.2019

 

 



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades