Melgaço: «Hoje Deus fala por linhas tortas, que somos nós», José Carlos Carvalho

Melgaço acolhe hoje a IV Assembleia Diocesana da Catequese

O professor José Carlos Carvalho disse hoje aos catequistas que a ‘Palavra de Deus’ continua “hoje a ser escrita na vida de cada um e na comunidade cristã”.

“Hoje Deus continua a falar por linhas tortas. Estas linhas somos nós! Temos, por isso, várias estratégias e vários modos de o fazer consoante os contextos”.

Aos catequistas de Viana do Castelo, reunidos em Melgaço na IV Assembleia de Catequistas, o biblista afirmou estar convicto de que “o encontro semanal da catequese não chega para cimentar a amizade e fazer pontes” e exortou os catequistas a serem, junto dos neófitos e dos catecúmenos, “a palavra a quem Deus recorre. Peçamos-lhe para que nos diga a Palavra de Deus, a Palavra da Igreja e não a nossa”, apelou.

Ao abordar o tema «A importância da Palavra de Deus na vida da Igreja», a partir da Dei Verbum e da exortação apostólica Verbum Domini, o docente da UCP abordou os “diferentes modos e maneiras de Deus falar ao longo da história”.

“Ao dizermos ‘Palavra de Deus’ devemos perceber que este ‘de’ é a palavra que refere Deus, que o anuncia, mas também, noutros contextos, é a palavra do próprio Deus na sua intenção de se manifestar. É, pois, a palavra acerca d’Ele ou sobre Ele”, clarificou.

Na realidade eclesial e catequética José Carlos Carvalho deu conta da diversidade de “linguagens” que se usam “para pôr Deus a falar” e da necessidade de gerar “linguagens percetíveis para ‘dizer Deus’ para as diferentes gerações”.

“Tal como no passado também hoje, na catequese, o próprio transcendente usa mais do que as palavras. Na catequese recorremos a linguagens cénicas, cromática, simbólicas, coloridas, entre outras. Precisamos de adequar ao contexto, aos nossos catequizandos, as diferentes linguagens que passam, em primeiro lugar, pelo próprio testemunho de vida”, concretizou.

Numa sociedade da imagem, da informação imediata e da palavra constante, o docente desafiou os catequistas a atentar à estratégia que Deus usa, tantas vezes, para se dizer através do silêncio.

“Hoje o silêncio é entendido como avaria, como erro. Na nossa vida Deus fala-nos no silêncio, na oração, na meditação, na Lectio Divina. É aí que encontramos as palavras que encaminham para o encontro com Deus, objetivo último da experiência na catequese”.

Perante o desânimo de alguns catequistas, que não “veem os frutos da sua ação”, o biblista lembrou que ao catequista cumpre “semear e colocar o ouvinte alinhado com a palavra de Deus”.

“Isto faz com que sejamos, em catequese, canais, catalisadores. Para isso temos de perceber o contexto dos nossos catequizandos, que experiência nos trazem e como é que ela se interrelaciona com a Palavra de Deus. Precisamos desta atenção sob pena de estarmos a falar em alhos e os outros não perceberem sequer bugalhos”, alertou.

No final da sua reflexão José Carlos Carvalho desafiou os catequistas a tornar a “Bíblia, conjunto de livros”, em “verdadeira Palavra de Deus”.

“Bíblia e Palavra de Deus nem sempre são sinónimos. Hoje, muitas vezes, a Bíblia é um conjunto de livros que se torna um adorno. Recebem-na os mais novos, numa das celebrações da catequese, mas não poucas vezes fica a ocupar espaço na estante lá de casa. Ela só se torna ‘Palavra de Deus’ quando a leio e me exponho ao texto. Quando permito gerar intertextualidade. Precisamos de criar estes momentos em catequese, na comunidade orante”, concluiu.

Ao longo do dia as mais de duas centenas de participantes realizam uma experiência prática de «Lectio Divina» e escutam, da parte da tarde, o padre João Alberto Correia, abordar o tema «A centralidade da Palavra de Deus na Catequese». O dia termina com a eucaristia presidida por D. João Lavrador, bispo da Diocese de Viana do Castelo.

Educris|24.09.2023



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